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Criada para contribuir com a ampliação do primeiro acesso aos serviços de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde), a Estratégia Saúde da Família (ESF) teve um papel decisivo no combate à mortalidade infantil no Brasil nas últimas décadas, segundo estudo inédito produzido pelo Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI).
Segundo o documento, de autoria do economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e membro do Comitê Científico do NCPI, no segundo ano de atuação da ESF em um município, a taxa de mortalidade infantil se reduz em média entre 3% e 9% em relação à taxa do período anterior. No terceiro ano, a redução fica entre 6,7% e 14%. Após oito anos, a taxa cai entre 20% e 34%. Para se ter uma ideia, a redução da taxa de mortalidade infantil no mundo foi de 49,2% em um intervalo de 25 anos.
O estudo mostra ainda que a presença da ESF nos primeiros anos de vida de uma geração está associada ao aumento na probabilidade de as crianças continuarem na escola entre os 7 e os 9 anos e também aos 12 anos de idade. Também notou-se uma diminuição no atraso escolar aos 7 e aos 10 anos de idade.
“A ESF é um dos principais programas de visitação domiciliar do mundo. Foi uma das primeiras ações de saúde voltadas para as famílias mais pobres no Brasil e o primeiro contato de muitas famílias com o Estado. Por meio de informações simples, como hábitos de higiene e a importância da vacinação, conseguiu reduzir a mortalidade materna e infantil e melhorar a frequência escolar”, afirma o autor do estudo.
Dados
Outro dado relevante tem a ver com a vulnerabilidade de parte das crianças brasileiras. De acordo com a publicação, das 18,5 milhões de crianças de 0 a 6 anos, 5,4 milhões (29%) vivem em domicílios pobres. Destas, 2 milhões (38%) residem em moradias que não recebem qualquer tipo de proteção do Estado. Essa informação é relevante dado que a pobreza é um dos principais fatores de risco ao desenvolvimento infantil. O estudo mostra que crianças com problemas de desenvolvimento podem perder até um quarto da sua capacidade de geração de renda quando se tornam adultas.
“É fundamental ressaltar a importância da conclusão desse estudo. Os dados são impressionantes e mostram o real impacto da Estratégia Saúde da Família em diversos âmbitos. Esse tipo de informação é crucial para a defesa da manutenção e aprimoramento da iniciativa”, diz Eduardo Marino, diretor de Conhecimento Aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, uma das organizações que compõe o NCPI, além de membro do Conselho do Núcleo.