Saúde

Reinfecção por covid-19: especialistas explicam o que a ciência já sabe até o momento

Pouco se sabe sobre os casos de reinfecção pela covid-19, mas mesmo com as incertezas, os cuidados devem continuar

Foto: Itamar Crispim/Fiocruz

O famoso ditado “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar” certamente não pode ser aplicado quando o assunto é a infecção pelo novo coronavírus. Casos de reinfecção têm se tornado constantes e, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, alguns estão em investigação no Espírito Santo.

Um deles é o do chefe de cozinha Adriano Rasmusssen que, em menos de quatro meses, testou positivo duas vezes para o novo coronavírus.

“A primeira vez foi logo no começo da pandemia, com uma pessoa que eu tenho contato. Ela trabalhava no hospital, estava de frente com a covid e eu peguei dessa pessoa. Uns três meses e meio após a minha primeira vez, eu fui cuidar da minha irmã e acabei pegando novamente”, disse.

Mesmo com casos confirmados e outros em avaliação, a epidemiologista Ethel Maciel conta que esses tipos de ocorrência ainda são consideradas exceções.

“Atualmente no Brasil a gente tem dois casos confirmados de reinfecção e 58 que estão em investigação. Quando a gente fala em investigação, é que precisa ter o primeiro episódio da doença com o diagnóstico do PCR e da cepa armazenados e depois, com uma diferença entre 80 e 90 dias, seja coletado outro exame do mesmo modelo para que a primeira e a segunda cepa sejam comparadas e possam ser identificadas como cepas diferentes e não um ressurgimento do primeiro episódio da doença”, explicou.

Adriano contou que apresentou sintomas nas duas ocasiões, mas notou diferença entre a primeira e a segunda infecção.

“Na primeira vez eu perdi apenas o olfato, fui em uma clínica na Praia do Canto e fiz o exame de sangue. Na segunda vez eu tive uma gripe bem forte, fiquei quatro dias com o corpo dolorido, cansado, com falta de ar, então eu fui na Prefeitura de Vila Velha e fiz aquele exame do cotonete”, contou.

A epidemiologista também explicou que em casos de reinfecção é difícil prever a reação do sistema imunológico do paciente. 

“Ainda não se tem evidências fortes que comprovam que uma segunda infecção poderá ser mais grave do que a primeira. Em alguns casos relatados no mundo a segunda infecção não foi mais grave. Em outros casos, a segunda infecção foi a mais grave. Então a gente precisa que novos casos de reinfecção sejam estudados para que a gente tenha uma certeza maior sobre a gravidade do segundo episódio em relação ao primeiro”, disse.

Quando se trata de uma nova contaminação pela covid-19, a ciência ainda apresenta uma série de incertezas. Sobre casos como o de Adriano, que teve dois diagnósticos positivos para a covid-19, alguns especialistas trabalham com hipóteses. Uma delas é de que o primeiro diagnóstico teria sido um falso positivo.

O microbiologista Luiz Almeida apontou que os testes sorológicos encontrados em farmácia não são os mais indicados para a detecção de uma nova infecção. 

“Esses testes possuem uma grande porcentagem de erro, então pode ser que tenha dado um falso positivo, que significa que a pessoa não estava com o vírus, mas por uma falha do próprio teste, deu que ela estava positivo. Depois de alguns meses, ela fez um outro tipo de teste e aí confirmou novamente o positivo. O teste mais indicado para fazer, além do PCR, é o sequenciamento do vírus para saber se é uma variante diferente do vírus que você pegou anteriormente”, disse.

O microbiologista reitera a importância da vacina como proteção eficaz contra o vírus, tendo em vista que a chamada “imunidade de rebanho” – que consiste na imunização de uma parte da população para que a outra se proteja – não existe. 

“A vacina vai treinar seu sistema imunológico muito melhor do que se fosse uma infecção pelo vírus. Por isso, inclusive, é muito importante que as pessoas que já se infectaram também entrem na fila de tomar vacina”, pontuou.

Enquanto a ciência possuir dúvidas sobre a possibilidade ou não de uma nova contaminação, o melhor é se prevenir com as ferramentas e procedimentos já disponíveis e confiáveis para evitar o contato com a doença, como o uso constante da máscara de proteção, o distanciamento social e a higienização das mãos.

 * Com informações da repórter Bianca Vailant, da TV Vitória/Record TV.