A meditação atualmente é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma atividade saudável, sobretudo em um cenário como o da pandemia do coronavírus. Com altos graus de ansiedade e estresse neste momento, a prática, entre suas variadas modalidades, pode beneficiar a saúde mental e mesmo a física.
“Neste momento de pandemia, a meditação é uma ferramenta muito importante. Pode prevenir quadros mais graves de transtornos mentais que podem acontecer ao longo dos meses e dos anos, e também amenizar efeitos de curto, médio e longo prazo destes transtornos”, afirma Marcelo Demarzo, Coordenador da Especialização em Mindfulness da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Demarzo divide os atual momento em três partes: “a primeira fase é mais aguda, tem a ver com o medo do contágio e até da morte; a segunda é relacionada às mudanças no estilo de vida e rotina, e acontece mesmo pra quem está trabalhando; o terceiro, relacionado a perdas estruturais, de familiares e pessoas queridas, ou quem teve eventos traumáticos com a doença”.
Estes estágios, relata o médico, podem aumentar casos de depressão, suicídio e estresse pós-traumático. “Quando falamos de saúde mental, falamos de ter ferramentas e recursos internos, e mais autonomia para lidar com o estresse e fatores que nos levam a doenças”, diz Demarzo.
Um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) revela que, durante a pandemia, casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.
“A meditação ajuda a não ficarmos desatentos. Quanto mais ficamos desatentos, mais percebemos o estresse. A explicação é que nossa relação com os fatores de estresse é mediada pelas emoções e não pelo lado racional. Brincamos que é o treinamento do ‘músculo’ da atenção, e esse treinamento tem a ver com o gerenciamento do estresse. Quanto mais desatentos, mais impulsivos e reativos somos”, explica.
Pelo caminho contrário, como relata Marcelo, quanto mais atentos estivermos a fenômenos internos e externos, mais conseguimos ter consciência dos momentos de estresse e do que provocam em nós, “tendo assim uma resposta adequada e eficaz frente ao estresse”.
E como a meditação deixa o corpo mais saudável?
Há, além dos benefícios à saúde mental, uma relação direta da meditação com a saúde do corpo. “Quando estamos expostos ao estresse, há uma série de alterações no nível hormonal. Um dos hormônios relacionados ao estresse é o cortisol. Quando vivemos um período de estresse crônico, há uma alteração no nível de cortisol no corpo. O cortisol está ligado a uma série de funções fisiológicas – uma delas é o sistema imune. Se ele está alterado por muito tempo ou com intensidade, se altera o funcionamento do sistema imunológico. Isso abre uma janela pra infecções”, explica Marcelo.
E é neste contexto, como indica o médico da Unifesp, que a prática meditativa pode influenciar no bom funcionamento do corpo e do sistema imunológico. “Se eu tenho uma ferramenta que me ajuda a lidar com o estresse, eu previno essas alterações disfuncionais ou deletérias, hormonais, e previno essas alterações que podem ser prejudiciais ao sistema imunológico”, diz o pesquisador.
FONTE: Guilherme Padin/ Portal R7