Especialistas garantem! Hábitos saudáveis, quando iniciados desde a primeira infância, têm muito mais chances de permanecer ao longo da vida. Já a ausência deles pode desencadear uma série de problemas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a estimativa para 2025 é de que 2,3 bilhões de adultos estejam acima do peso no mundo todo. Em relação à obesidade infantil, 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade e 7% dos adolescentes de 12 a 17 anos têm obesidade. Os dados são do Ministério da Saúde e da Organização Panamericana de Saúde.
O mês de março é marcado pelo Dia Mundial da Obesidade (4 de março) e a gente conversou com uma especialista sobre o assunto. Então, como saber se o seu filho está acima do peso ou caminha para a obesidade? Como tratar a doença e preveni-la? Nós fomos buscar essas respostas para você.
Segundo a endocrinologista e metabologista, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Espírito Santo, Priscila Pessanha Faria, a obesidade está entre os principais fatores de risco que levam à doenças como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares.
“Assim como em adultos, o excesso de peso reflete na saúde das crianças. Ele leva à alterações nas taxas de colesterol, glicose, triglicerídeos. Também acelera a puberdade. Nas meninas, pode antecipar a chegada da menstruação levando à perda da estatura final. Sem contar com os problemas comportamentais e transtornos psicológicos. Crianças com sobrepeso tendem a apresentar mais dificuldade de se socializar e ainda sofrem com bullying, pontuou.”
90% dos casos de obesidade estão relacionados aos maus hábitos
Priscila ressalta que, ao contrário do que muitos imaginam, o sobrepeso não é uma questão diretamente ligada à genética. Apenas 10% dos casos estão diretamente ligados a esse fator. Segundo a endocrinologista, 90% dos quadros de obesidade são desencadeados por hábitos ruins.
“O fator genético, ele realmente conta, mas influenciam em uma causa mínima. A maior parte está ligada a hábitos errados, à uma qualidade de vida ruim. Vivemos uma época onde as crianças estão muito ligadas a aparelhos eletrônicos, que não proporcionam gastos energéticos. Faltam atividades físicas regulares: brincadeiras na rua, jogos como queimadas, vôlei, futebol, pique-pega…”
Efeitos do açúcar no cérebro são similares aos da cocaína, alerta especialista
A questão alimentar é outro ponto de extrema importância nesse contexto! A ingestão em excesso de carboidratos ruins, fast-foods, bebidas ricas em açúcar provoca grandes danos à saúde como um todo.
“O açúcar vicia 20 vezes mais que a cocaína! As crianças apresentam abstinência ao doce, ficam irritadas, oscilam o humor assim como os adultos quando iniciam uma dieta mais restritiva a esses alimentos. Não muda só pelo fato de serem crianças”, lembra Priscila.
Outro ponto importante é o de que a obesidade cresce em números maiores que a desnutrição. E isso está diretamente ligado à facilidade de acesso aos carboidratos, em geral, já que costumam ter preços mais acessíveis para o consumidor. Ou seja, a doença atinge todas as classes sociais. Desde as mais carentes até as mais altas. “É uma questão de hábitos errados por motivos diferentes”, lembrou a médica.
Os reflexos da pandemia no peso das crianças
A endocrinologista diz ainda que a pandemia e a ansiedade gerada por ela vieram agravar todo esse problema. O cortisol, por exemplo, é o hormônio que em níveis normais atua na regulação do humor, ajudando o organismo a controlar o estresse, a redução de inflamações e a pressão arterial.
“A alteração desse hormônio leva a um ganho de peso. É importante ficar atento ao bem-estar psicológico, emocional da criança. Cuidar da qualidade do sono é muito importante, também.”
Descascar mais e desembalar menos
Buscar a ajuda de um médico é fundamental para entender o que está acontecendo com o organismo do paciente e estabelecer os melhores tratamentos, que são individualizados. Porém, não há dividas de que a mudança de hábitos está entre as ferramentas mais eficazes para reverter um quadro de obesidade.
“As mudanças não podem ser temporárias. Elas devem funcionar para a vida inteira. Caso contrário, de nada vai adiantar o suporte de medicações, por vezes necessárias ao longo do tratamento. Em algum momento elas serão dispensadas e se o paciente não tiver se adaptado à uma nova rotina as chances de um efeito sanfona são muito grandes”.
Os novos hábitos não devem ser incorporados apenas pelo paciente, não. A família toda precisa se envolver no processo. Priscilla lembra que é papel dos pais, mães, avós, irmãos, tios serem exemplos de uma alimentação rica em nutrientes e bem variada. É preciso que as crianças tenham bons exemplos a serem seguidos.
Procure praticar o descascar mais e desembalar menos! Torne o preparo das refeições algo divertido, com participação da criança inclusive. Deixe que ela toque, conheça os tipos de alimentos que farão parte da refeição dela e de toda a família.
Obrigar a criança a comer bem se o próprio adulto não come complica a situação. Todos os integrantes da família devem estar dispostos à passar pela reeducação alimentar. É um esforço coletivo, um trabalho em conjunto que, bem feito, gera excelentes resultados de acordo com a especialista.
E lembre-se: diante de qualquer suspeita de sobrepeso, mal estar e mudanças comportamentais ligadas à alimentação não deixe de procurar um especialista.
Confira dicas simples para uma boa alimentação:
– Reduza a ingestão de açúcares;
– Beba bastante água;
– Aposte em uma refeição bem colorida, com verduras, legumes, grãos integrais e proteínas;
– Consuma frutas todos os dias;
– Mastigue devagar, não tenha pressa quando estiver comendo. Isso te ajuda a perceber quando já está satisfeito;