Saúde

Síndrome da cabana: pandemia e isolamento podem gerar medo de voltar à rotina

São sentimentos de angústia e temor diante da ideia de sair às ruas e ter contato social após ficar isolado

Foto: Divulgação

Durante a pandemia, muita gente ficou angustiada por causa do distanciamento social e de ter que passar a maior parte do tempo dentro de casa. O isolamento continua sendo a forma mais indicada de tentar conter a proliferação do novo coronavírus, assim como o uso frequente da máscara, mas agora, com a flexibilização das normas, há quem relate certo receio de retomar ao novo normal. 

A psicóloga Naira Delboni afirma que não é incomum que, após o período de pouco contato com o mundo exterior, algumas pessoas sintam medo, angústia, ansiedade e até pânico ao pensar em voltar à rotina anterior. “Mesmo sem ameaças imediatas, algumas pessoas não se sentem mais seguras fora do seu lar, porém muitas precisam voltar à rotina ou necessitam sair por algum motivo. Mesmo protegidas, podem sentir dificuldade nesse enfrentamento. Esse receio após longos períodos de isolamento, que pode se agravar, foi batizado de ‘Síndrome da Cabana’”.

Segundo a especialista, a síndrome teve seus primeiros relatos em 1900 e o termo foi criado para explicar um problema que acometia trabalhadores que passavam longos períodos em cabanas, esperando o inverno passar e, depois, tinham receio de retomar o contato social.

“São sentimentos de angústia e temor diante da ideia de sair às ruas e ter contato social após ficar isolado. Obviamente que, na nossa atualidade, esse medo pode vir da possibilidade de sermos contaminados. E mesmo que não aja como o fator principal, o medo desempenha um papel significativo na resistência em voltar à vida normal”, destaca a psicóloga.

Não é doença

Naira Delboni explica que a “Síndrome da Cabana” não é uma doença ou um transtorno mental e, sim, um fenômeno natural do nosso corpo, baseado em mudanças bruscas de comportamento, levando o sujeito a sair de sua “zona de conforto” para se adequar a uma nova realidade obrigatória. “Isso causa alterações nas emoções e no modo de agir. Como se o nosso cérebro ficasse acostumado a uma nova rotina e aprendesse que estar em casa é a única possibilidade de segurança e proteção diante do coronavírus”, assinala.

Ela afirma que a pessoa que vive essa angústia pode ter problemas de sono, perda ou ganho de apetite, diminuição da concentração, além de sintomas físicos, como taquicardia, falta de ar, sudorese e tonturas. “Os sintomas da ‘Síndrome da Cabana’ podem lembrar os da ‘Síndrome do Pânico’, que leva o indivíduo ao isolamento. Mas na ‘Síndrome da Cabana’ acontece o contrário: o isolamento leva o indivíduo ao pânico”.

Se o receio for acentuado, é importante buscar ajuda profissional e fazer um acompanhamento para lidar com esses sentimentos e pensamentos paralisantes. “É importante entender que tudo isso vai passar e precisamos nos adaptar todos os dias ao novo”, conclui a especialista.

Algumas dicas para lidar com o medo de voltar à rotina

1 – Rotina: Estabeleça uma rotina diária, de trocar de roupa, tomar banho, fazer leituras e exercícios físicos. A atividade física é muito importante na prevenção de várias doenças, inclusive a depressão e os transtornos ansiosos. Faça coisas mais simples, como abrir a janela e ter contato com a luz do dia, do sol, isso irá fazer uma grande diferença.

2 – Respeite seu tempo: É normal se encontrar nessa condição emocional após tanto tempo em confinamento. Faça as coisas no seu tempo, seja gentil consigo e priorize sua saúde mental.

3 – Foque no que está no seu controle: Ao focar no que está no seu controle, você diminui a sensação de angústia e medo. Dessa maneira, crie uma rotina e traga à memória os bons momentos que você já viveu. Pense que, quando tudo voltar ao normal, você ainda terá controle. Caso saia e se sinta mal, por exemplo, vá com calma e conduza a situação no seu ritmo.

4 – Comece devagar: A técnica da dessensibilização sistemática é geralmente usada na Terapia Cognitivo Comportamental e consiste em diminuir uma condição com doses mínimas e crescentes. Aos poucos, acrescente metas para lidar com o medo. Por exemplo, você pode ir primeiro até o portão, amanhã até a calçada, depois dar uma volta no quarteirão e assim sucessivamente, até que se sinta bem com isso. Trabalhe a respiração e seus pensamentos.

5 – Busque ajuda profissional: Se sentir que isso está afetando sua vida, é essencial buscar ajuda profissional. Pense que esse apoio irá te ajudar a caminhar após um longo período de imobilização.