Dezembro, o último mês do ano e, com ele, inúmeras emoções. Enquanto para uns o momento é de expectativa pelas celebrações festivas e pela oportunidade de confraternizar com amigos e familiares, para outros, esse período pode desencadear a “dezembrite” ou “síndrome de fim de ano.”
Mas o que essa síndrome implica? Quais seus possíveis sintomas e estratégias para lidar com o estresse típico dessa época do ano?
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Segundo especialistas, o fim do ano é sinônimo de encerramento de um ciclo e a expectativa pela chegada de algo novo. Por isso, é comum que as pessoas sintam-se impulsionadas a resolver tarefas não acabadas e situações não resolvidas, em meio à sensação de estafa, estresse e cansaço. Não é raro também se deparar com quem se queixe de melancolia e tristeza.
Na entrevista deste domingo a reportagem conversou com a Sátina Pimenta, Psicóloga Clínica, professora e coordenadora do curso de Psicologia da Estácio. Ela fala sobre saúde mental, autoconhecimento, encerramento de ciclos e ressignificação.
1. O que é a “síndrome de fim de ano”?
Sátina Pimenta – Vamos começar pela terminologia. Não existe esta síndrome de forma real nos manuais ou no caderno internacional de doenças (CID11). O que ocorre é que o final do ano trás muitas reflexões e enfrentamentos que podem gerar sentimentos e exacerbar sintomas.
O final de um ciclo simbólico que é o ano pode fazer com que a pessoa seja grata por tudo que passou ou possa cobrar-se exageradamente sobre aquilo que não fez ocasionando o sentimento de frustração, tristeza, ansiedade entre outros.
As reuniões familiares podem ser maravilhosas pois encontramos pessoas que amamos, mas podem nos levar a pensar naqueles que não estão lá ou pela morte ou pela ausência (in)justificada.
Para aqueles que não possuem famílias perto ou até mesmo não possuem laços familiares – por diversos motivos- pode ocorrer a sensação de vazio, necessidade de isolamento ou até sentimento de abandono.
2. É possível lidar com esses sentimentos? Como?
Sim. Afinal todo ano tem ano novo. O autoconhecimento é a melhor ferramenta para isto. Se eu me conheço eu sei aquilo que pode me afetar negativamente e assim vou buscar evitar este objeto, pessoa, lugar ou situação. Ou ainda, caso não possa evitar vou tentar observá-lo de outra maneira para que não me afete tanto.
Quanto às cobranças o autoconhecimento também é importante. Porque você deve criar metas que sabe que dá conta e não metas que lhe gerarão frustração.
3. Como a dezembrite afeta a vidas pessoas? Quando se preocupar?
Afeta na medida da importância que esta pessoa dá para este período. Tem pessoas que acham que é apenas um dia como outro qualquer. Mas outras não. Precisamos nos preocupar quando isto afeta a saúde mental do sujeito.
Quando nos sentimos pressionados a fazer algo, ou sentir algo, precisamos parar e pensar “tem alguma coisa errada aqui” pois esta pressão gera angústia.
4. A pressão para estar feliz no fim do ano pode atuar como gatilho?
Sim. Porque todo mundo quer ser feliz. Mas como a filosofia já afirmou felicidade não existe. Existem momentos que geram a felicidade. A dica é tentar refletir em como podemos ser melhor do que já somos. É um novo ciclo (mesmo que simbólico) e ideal para isto.
5. Medo do futuro, tristeza, raiva! Validar esses sentimentos nessa época pode desencadear outros problemas?
Nenhum sentimento deve ser descartado. Nunca. Precisamos saber o que fazer com este sentimento. Como ele foi construído dentro de nós e qual a atitude racional eu tomarei em relação a ele.
6. Pessoas de todas as idades costumam lidar com a síndrome?
Todas não. Até porque crianças não tem nem noção do que é um ano novo. Mas quando começamos a ser dobrados pela sociedade de sermos e fazermos algo podemos sim compreender o dezembro como um mês de contas a vencer e a pagar.
7. Paradoxo do “Ano Novo”? Ressignificar é importante?
Depende. Tem gente que consegue um novo fôlego com a virada do ano! Fala “agora vai” e está significação e bacana para elas. Mas tem gente que não. Aí sim precisamos ressignificar! Ressignificamos o que não faz mais sentido!