A esclerose múltipla (EM), doença autoimune que acomete o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal), afeta aproximadamente 40 mil brasileiros, em especial mulheres, na faixa etária mais ativa da vida, entre 20 e 40 anos. A baixa prevalência da doença, 15 casos para cada 100 mil habitantes, assim como sua ampla diversidade de sinais e sintomas, fazem com que a EM seja, ainda, pouco conhecida pela população. Apesar disso, o Brasil conta com tratamentos modernos que alteram o curso natural da doença.
Mundialmente já se discute o caráter individual da evolução da esclerose múltipla em cada paciente e a necessidade de adequar o tratamento às preferências e ao estilo de vida do paciente. O objetivo é tratar a doença com a melhor terapia para um determinado perfil e gerar adesão ao tratamento medicamentoso, levando a estabilização da doença e manutenção da qualidade de vida.
No Brasil, neste ano, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec) abriu uma consulta pública para ouvir a opinião da sociedade sobre a atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de esclerose múltipla do Ministério da Saúde. No entanto, a nova sugestão trouxe poucas alterações em comparação com a proposta vigente.
“Cada paciente tem suas peculiaridades, preferências e estilo de vida, por isso é de extrema importância que o guia para o atendimento e tratamento, o PCDT, conte com opções distintas e seja flexível”, afirma Aline Pacheco, presidente da Associação Mineira de Apoio a Portadores de Esclerose Múltipla. “Precisamos ampliar o uso de tecnologias de esclerose múltipla incorporadas no SUS. Isso beneficiará não só o paciente, mas a própria saúde financeira da rede pública”.
Atualmente, são 8 medicamentos disponíveis para o tratamento da doença na rede pública. O protocolo brasileiro para a esclerose múltipla é estabelecido por “linha de cuidado”. Isso significa que o paciente precisa cumprir algumas etapas até chegar no tratamento mais adequado e pertinente ao seu perfil de evolução da doença.
“Termos um PCDT com um arsenal terapêutico robusto é um grande avanço, mas o fluxo ainda é restritivo. Nós temos medicamentos para diferentes níveis de atividade da doença, mas o momento que os pacientes podem ter acesso aos tratamento é ainda problemático. Se o caso é mais agressivo, temos que tratar o paciente já com o medicamento mais eficaz e adequado. Afinal, estamos falando de uma doença incapacitante. Seguir uma sequência que não considera as peculiaridades do paciente, é um grande desafio”, avalia a médica especialista Andrea Anacleto.
Para a médica, essa metodologia difere das diretrizes internacionais atuais, que propõem o tratamento de acordo com o nível de atividade da doença.
A esclerose múltipla compromete o sistema nervoso central, ela é caracterizada pela inflamação crônica e desmielinização da bainha de mielina, que envolve os axônios dos neurônios, por onde passam os impulsos nervosos. “É como se um fio estivesse desencapado e acontecesse um ‘curto-circuito’ no cérebro, gerando uma cicatriz, que é a esclerose. Por ser incapacitante, quanto mais rápido seu diagnóstico e o início do tratamento, melhor”, afirmou Anacleto.