Auditoria

Tribunal de Contas aponta falhas no sistema de saúde mental do ES

Rede de atenção à saúde mental do ES passou por auditoria, que identificou falta de Caps e tempo de espera por consultas inadequado

O Tribunal de Contas do Espírito Santo.
Tribunal de Contas do Espírito Santo. Foto: Divulgação/TCE-ES

Uma auditoria promovida pelo Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES) revelou falhas críticas na Rede de Atenção Psicossocial do Estado.

Isso significa que o sistema de saúde mental precisa de melhorias para oferecer serviços de qualidade às pessoas portadoras de transtornos mentais e usuários de álcool e drogas.

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Os auditores do Núcleo de Controle Externo de Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas de Saúde (NSaúde) do TCE identificaram:

  • Falta de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) em diversos municípios capixabas;
  • Caps com estruturas físicas inadequadas e equipes incompletas;
  • Necessidade de adequação das referências hospitalares para transtornos mentais;
  • Tempo de espera superior a 100 dias para a realização de consultas psiquiátricas ou psicológicas;
  • Inexistência de financiamento federal para equipes e pontos de atenção.

Ao trazer à luz essas questões, a auditoria não apenas cumpre seu papel de fiscalização, mas também serve como um catalisador para mudanças positivas e necessárias no sistema de saúde mental do nosso estado – Mayte Aguiar, supervisora da auditoria.

A divulgação da auditoria faz parte da campanha do Janeiro Branco, mês destinado a conscientização sobre saúde mental. O objetivo do Tribunal é garantir o apoio necessário a todas as pessoas, independentemente da condição socioeconômica.

A Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes) considerou que são necessárias medidas urgentes para lidar com as deficiências do sistema e aprimorar o atendimento à população. Para a associação, “é essencial agir com urgência” e investir em políticas públicas para garantir um “atendimento digno, acessível e eficaz”.

Procurada pela reportagem do Folha Vitória, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) informou que “trabalha na ótica do cuidado em Saúde Mental seguindo a Política Nacional de Saúde Mental, que visa a garantir o cuidado às pessoas com transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas” (Confira a nota na íntegra no final da reportagem).

Recomendações do TCE

A fim de melhorar as estruturas públicas voltadas ao atendimento psicossocial, a Corte recomendou que a Sesa, junto com o Ministério da Saúde, habilite 18 Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) nas cidades para acompanhar pacientes.

Além disso, a Sesa e as secretarias municipais de saúde devem fazer uso do recurso federal destinado à área que chega a R$ 10.724.547,00 por ano.

Os Caps devem ser, de acordo com o TCE, ampliados e reformados, e as equipes, completadas. Já as consultas com psiquiatras ou psicólogos devem ocorrer em no máximo 100 dias.

A secretaria pontuou que a gestão dos Caps cabe aos municípios e que a necessidade de ampliação do número das unidades já foi identificada. Segundo a Sesa, o Estado oferece suporte a algumas unidades e vai investir na construção de novas, “junto com os municípios que aderirem ao projeto”.

Sobre as consultas, o órgão disse que tem ampliado o acesso da população ao serviço por meio de teleconsultas que incluem as especialidades de psiquiatria, tanto adulta quanto pediátrica.

Confira a nota da Sesa na íntegra:

A Secretaria da Saúde (Sesa) informa que trabalha na ótica do cuidado em Saúde Mental seguindo a Política Nacional de Saúde Mental, que visa a garantir o cuidado às pessoas com transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Esclarece que a porta de entrada da Rede de Atenção Psicossocial é a Atenção Primária em Saúde, ou seja, através das Unidades Básicas de Saúde dos municípios e territórios de origem das pessoas, e em se tratando de pessoas em situação de rua, também podem ser acionados os serviços de equipes de Consultório na Rua (CNR) que devem realizar o acompanhamento a esse público a qualquer tempo e realizar os encaminhamentos necessários a cada caso.

Os casos graves em saúde mental são encaminhados para  a atenção especializada e são atendidos através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) que, em suas diferentes modalidades, dão suporte para os demais pontos de atenção e realizam o acompanhamento de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

Importante ressaltar que os CAPs são de gestão dos municípios, mas que o Estado tem dado suporte para a atividade em algumas unidades. A Sesa já identificou a necessidade de ampliação do número de CAPs no Estado e vai investir na construção de novas unidades, junto com os municípios que aderirem ao projeto.

Sobre aumento de consultas especializadas, a Sesa ampliou a oferta, incluindo a modalidade de teleconsultas com 19 mil teleconsultas neste mês para 11 municípios do Sul do Estado, que incluiu especialidades de psiquiatria adulto e pediatra. Essa ampliação vem ocorrendo em todo o Estado, através da regionalização do acesso, com os credenciamentos em todas as regiões de saúde. Nesta sexta-feira (24), acontece o evento de entrega de 265 mil teleconsultas, entre elas neurologia e psiquiatria adulto, para mais 23 cidades capixabas no ano de 2025. 

Em relação a leitos, a Secretaria conta hoje com leitos psiquiátricos para adultos no Hospital de Atenção Clínica – HEAC e no Centro de Atendimento Psiquiátrico Aristides Alexandre Campos – CAPAAC, e leitos de saúde mental infanto juvenis no Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba). Além dos leitos próprios, a Sesa possui também leitos com a rede contratualizada e clínicas credenciadas para atender aos pacientes utilizando o Protocolo Estadual de Classificação de Risco em Saúde Mental para definição de prioridade clínica para internação.

Julia Camim Editora de Política
Editora de Política
Atuou como repórter de política nos veículos Estadão e A Gazeta. Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa, é formada no 13º Curso de Jornalismo Econômico