Você se recorda do caso de uma mãe que jogou o sorvete dos filhos fora para que aprendessem a respeitar as pessoas? Ela chegou a dizer, em um post nas redes sociais, que foi por um dia “a pior mãe do mundo”. Na época em que foi publicada, a mensagem da escritora americana Primak Sullivan viralizou nas redes sociais e muitas pessoas elogiaram a atitude.
Quem tem filhos ou precisa lidar com crianças e adolescentes, sabe como é difícil criá-los. Pensando em dar uma ‘luz’ para os que estão ‘perdidos’ ou não sabem como impor limites aos pequenos, o jornal online Folha Vitória conversou com a psicóloga capixaba Mariana Grassi Maciel Garcia, que falou sobre pontos importantes.
Sobre o caso da escritora, Mariana acredita que é preciso cautela em alguns casos. “Acredito que não cabe julgar a mãe por uma atitude sem conhecer todo o seu histórico, mas ela poderia repreender as crianças na frente do funcionário pedindo que a agradecesse por ter levado o sorvete. Jogar os sorvetes fora na frente de todos pode ser um limite imposto de forma equivocada, pois as crianças podem interpretar como humilhação e criar uma crença de desamor a partir desse episódio. Acho mais válido fazer uma psicoeducação, ou seja, mostrar o valor do próximo no momento do acontecimento”, ressaltou.
Veja o relato da mãe na íntegra aqui!
Além disso, a psicóloga fez pontuações importantes. Uma delas é o aumento do desenvolvimento de doenças mentais na infância e a responsabilidade dos pais.
Veja alguns dados:
Qual é a relação entre doenças mentais e a responsabilidade dos pais?
As estatísticas retiradas de pesquisas realizadas durante os últimos 15 anos são alarmantes, de acordo com a profissional.
-> 1 em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental;
-> um aumento de 43% no Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) foi observado;
-> um aumento de 37% na depressão adolescente também foi observado;
-> um aumento de 200% na taxa de suicídio foi observado em crianças de 10 a 14 anos.
Pais desesperados em saber como educar os filhos da melhor maneira para evitar tragédias buscam ajuda psicológica com frequência. De acordo com Mariana, as perguntas recorrentes são: o que fazer para que meu filho se interesse pelos estudos? Como impor limites sem ser rígido ou ultrapassado? Meu filho tem tudo, mas está deprimido e chegou a praticar automutilação, como posso intervir para ajudá-lo?
“É claro que a culpa não é dos pais, pois na maioria das vezes, os erros de criação ocorrem por falta de informação ou mesmo por todo “atropelamento” que a vida moderna impõe às famílias. Mas algo importante é preciso ser dito: os pais precisam impor limites claramente definidos; dar responsabilidades; evitar a proteção excessiva contra qualquer frustração ou erro, pois errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida”, disse.
Regras e limites são de extrema importância. “Todos passam por situações nas quais têm que lidar com limites ou regras. O limite na infância tem função estrutural importante na constituição psíquica dos sujeitos, estando intimamente relacionado com o desenvolvimento de aspectos como a capacidade empática, internalização e obediência a regras morais e sociais, capacidade de atrasar gratificação, de lidar com a frustração e de autorregulação do comportamento”, ressaltou a psicóloga.
E como todo mundo sabe, o ser humano é diferente um do outro. “As pessoas possuem diferentes temperamentos e não respondem de forma única. Toda a intervenção deve ser pensada dentro de um contexto, levando em consideração as necessidades da criança e da família.”
>> Como os pais podem começar a impor limites aos filhos de maneira positiva?
-> Diálogo: esteja disponível para ouvir seus filhos e conectar-se ao universo deles;
-> Comunique-se com facilidade, evitando indiretas, sendo cordial e verdadeiro;
-> Deem exemplos de bondade e assertividade. Evite discussões na frente das crianças e adolescentes;
-> Cuidado com as palavras, pois elas têm poder. Algo dito não volta atrás. Verifique o seu nível de irritação antes de proferir qualquer palavra. As crianças e adolescentes tendem a internalizar emoções de forma interpretativa, gerando culpa, medo, podendo desenvolver crenças de desamor e rejeição;
-> Procure evitar rotulações do tipo: meu filho é tímido, minha filha é gorda, assim como rotulações extremamente positivas que podem gerar ansiedade, como: minha filha é a mais inteligente da turma, pois assim a criança pode deprimir-se quando não conseguir alcançar esse padrão de comportamento;
-> Organize a rotina: ter um planejamento com horários para estudo, lazer e obrigações com a organização da casa faz com que seus filhos adquiram responsabilidades sobre a própria vida.
-> Um dia, os filhos terão que “andar com as próprias pernas”. Infelizmente, os pais não estarão presentes durante toda a vida dos filhos e o que vai ficar é a capacidade que os filhos terão de reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva. ‘Dar tudo a um filho’ não deve significar apenas bens materiais e sim educação e conexão emocional. Por fim, busque a qualidade de tempo com seus filhos: sorria, abrace, beije, faça cócegas, leia, dance, pule, brinque e sonhe junto com eles”.