Uma pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas mostrou que, no Brasil, há mais smartphones ativos do que pessoas. São 220 milhões de aparelhos para 207,6 milhões de habitantes. Segundo o pesquisador e psicólogo Adam Alter, existem algumas razões que justificam a dependência das pessoas pelos celulares. De acordo com ele, a primeira seria o fato de esses aparelhos estarem amplamente disponíveis.
A segunda razão é a existência de características psicológicas inerentes à experiência de usar o celular que nos prendem a ele, como a ausência de sinais que indicam que devemos interromper algum comportamento. Diferentemente de ler um livro ou assistir à TV, onde há indicativos de pausas, como o fim de um capítulo ou intervalos para a veiculação de comerciais, ao usar o celular no instagram ou facebook.
O terceiro motivo, segundo o pesquisador, seria a quantidade de recompensas que o eletrônico nos traz durante o dia, como likes, mensagens, comentários e o recebimento de fotos, por exemplo. De acordo com Adam Alter, essas recompensas nos propiciam doses pequenas de satisfação, devido à liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer.
Vicio ou mania?
De acordo com Tathiana Machado de Queiroz, orientadora educacional, os jovens passam, em média, de seis a sete horas por dia conectados, ou até mais. Se considerarmos esse tempo projetado na vida, haveria uma estimativa de cerca de 11 a 15 anos conectados a uma tela durante a vida inteira. Quais seriam as soluções para que houvesse uma dosagem melhor nesse hábito e, assim, os pais conseguirem proporcionar aos filhos mais qualidade de vida?
“Primeiramente, é importante reconhecer que a nossa vida seria mais difícil sem tecnologia, por isso, ter controle não significa extinguir os smartphones dela. O maior desafio está em observar e ponderar o uso e a sua frequência e de que forma isso está interferindo na nossa vida”, afirma Tathiana. Essa ponderação, segundo ela, deve partir dos pais e dos filhos. “A disciplina positiva se baseia no princípio do respeito mútuo, portanto, não adianta os pais questionarem o uso excessivo dos celulares, se eles próprios se mostram dependentes. Por isso, é importante que os responsáveis exerçam uma escuta ativa, ouvindo a opinião do filho, sem sermão ou punição”, sugere.
A orientadora educacional avalia que essa reflexão pode levar a uma comunicação eficiente entre pais e filhos. “Façam combinados sobre o tempo do uso do celular, se proponham a deixá-los guardados durante as refeições. As pessoas que conseguem fazer isso relatam ter experiências mais ricas de interação. Incentive a autodisciplina e o autocontrole do adolescente”, aconselha.
Outra recomendação de Tathiana seria a busca por alternativas viáveis que possam substituir a distração oferecida pelos celulares. “Os pais podem propor desde a meditação ou a prática de exercícios, até a leitura e jogos em família. É muito difícil fazer isso quando se tem os celulares disponíveis, porém, quando se propõe com antecedência a definição de um horário onde o uso do celular será proibido, tenho certeza que novas ideias de distração surgirão”, avalia.
A educadora também pontua que é papel dos pais disciplinar seus filhos sobre o uso da internet segura e consciente, tendo como base uma disciplina que ensina, que não seja punitiva, nem permissiva. “É preciso estabelecer regras em família, dar exemplos, argumentar e oferecer ferramentas para que o adolescente seja capaz de desenvolver o comportamento esperado. Acompanhar o seu desenvolvimento e intervir quando se faz necessária a correção e orientação são partes do processo educacional. Já o excesso de controle pode ser nocivo”, adverte.
A escola pode e deve ter um papel fundamental na intervenção sobre o uso excessivo dos celulares. Segundo a orientadora educacional Tathiana Queiroz, por meio de palestras e encontros de orientação é possível falar sobre a internet segura, seus benefícios e prejuízos à saúde. “Trazer o tema para discussão em encontros parentais e de alunos pode propiciar uma reflexão maior sobre como seu filho tem utilizado seu tempo e sobre uma possível dependência ao uso do celular”, diz.
Tathiana ressalta que a adolescência é uma fase difícil, pois além de ter que lidar com as mudanças no cérebro e na aparência, o adolescente também enfrenta o desafio de encontrar seu novo lugar no mundo, pois não é mais uma criança nem pode ser considerado um adulto.
Entender essa fase significa aceitar um eventual comportamento de apatia ou o desejo por ficar sozinho, por exemplo. Entretanto, segundo ela, é essencial que os pais fiquem atentos, de forma a serem capazes de diferenciar uma apatia temporária de uma possível depressão. “É possível controlar o uso do celular, mas, para isso, precisamos estar absolutamente conscientes das necessidades de ter dicas de paradas, maior frequência de relacionamentos pessoais e menos busca de gratificação imediata”, observa.