Com o envelhecimento da população, segundo o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares e o câncer se tornaram os responsáveis por cerca de 50% das mortes no Brasil. Essa mudança significativa no cenário epidemiológico ampliou os estudos sobre a relação entre esses dois diagnósticos, dando origem a cardio-oncologia, subespecialidade da cardiologia que visa acompanhar o paciente em tratamento oncológico para diagnosticar, tratar ou atuar na prevenção de eventos cardiovasculares.
Marina Bond, cardiologista especialista em cardio-oncologia explica que, além de compartilharem fatores de risco como obesidade, hipertensão, diabetes, os tratamentos oncológicos podem também aumentar o risco de insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e demais complicações.
De acordo com a especialista, tanto a quimioterapia como outros tratamentos (radioterapia, imunoterapia, endocrinoterapia) e até mesmo cirurgias oncológicas, podem afetar a saúde do coração. “Alguns medicamentos usados no tratamento contra o câncer de mama, linfomas e sarcomas podem causar insuficiência cardíaca”, frisa.
Marina Bond conta que doenças coronárias, valvulares, arritmias e complicações pericárdicas podem ocorrer de forma aguda, precoce ou tardia, mesmo anos após o término do tratamento oncológico.
Com o acompanhamento médico adequado, o paciente em tratamento oncológico recebe terapia específica para prevenir as complicações cardiovasculares, conseguindo, então, completar o tratamento contra o câncer com sucesso. “A cardio-oncologia não visa suspender a quimioterapia, mas sim permitir que o paciente complete o seu tratamento de forma segura, eficaz e com saúde cardiovascular”, esclarece.
Medicamentos que podem ser tóxicos ao coração
– Antraciclinas como doxorrubicina: insuficiência cardíaca. Essa classe de medicamentos é usada para tratamento de câncer de mama, linfomas e sarcomas.
– Anticorpo monoclonal trastuzumabe: insuficiência cardíaca. O fármaco é utilizado para um tipo específico de tumor mamário.
– 5-Fluoruracila ou capecitabina: vasoespasmo coronariano e infarto agudo do miocárdio. São utilizados como tratamentos prévios e auxiliares para o câncer de cólon.
– Endocrinoterapia (tratamentos hormonais): piora do colesterol, ganho de peso e aumento de risco de diabetes, todos fatores de risco cardiovascular. São medicamentos indicados para o tratamento de câncer de próstata e de mama.
Além dos fatores de risco citados, o tabagismo, o diabetes e o sedentarismo também favorecem desenvolvimento de problemas cardíacos e de câncer. Por isso, a cardiologista aconselha bons hábitos de vida, como manter-se no peso ideal, parar de fumar, exercitar-se regularmente e gerenciar o estresse.