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O vício em jogos de videogames foi reconhecido, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma doença. O chamado distúrbio em games é definido como um padrão de comportamento caracterizado pela perda de controle sobre o tempo de jogo, suprindo qualquer outro interesse ou atividades.
Um estudo publicado no jornal de Psiquiatria da Austrália e Nova Zelândia, em 2021, estima que cerca de 2% da população mundial sofre do transtorno, o que representa 154 milhões de pessoas.
Na última semana, o programa Fala Espírito Santo, da TV Vitória/Record TV, repercutiu o assunto com a presença de profissionais.
O bate-papo teve participação da psiquiatra Letícia Mameri e do psicólogo Alexandre Brito, que explicaram como é feito o diagnóstico do distúrbio em games e os problemas que eles podem trazer aos jogadores.
“O diagnóstico de vício tem que preencher os critérios como qualquer outro. Você precisa de uma dose cada vez maior, não consegue ficar sem, começa a ter um estreitamento de repertório. A pessoa só quer fazer aquilo”, explica a Letícia.
Como exemplo, a especialista citou uma pessoa que acorda pensando em jogar, só pensa nisso e acaba deixando de fazer outras atividades por conta dos jogos, prejudicando as áreas pessoais, sociais, sono, alimentação e vida profissional ou escolar.
“Uma pessoa viciada em jogos, não necessariamente é um adolescente, criança que fica dentro de um quarto o tempo inteiro jogando. Pode ser qualquer um que tenha um jogo no celular, e não consegue parar de pensar no game, arrumando sempre um pretexto para jogar”, afirmou a psiquiatra.
Em países como a China, por exemplo, considerado o maior mercado de games do mundo, o assunto é levado muito a sério. Crianças e adolescentes só podem jogar às sextas-feiras, fins de semana e feriados, com horário limitado: uma hora por dia, de 20h às 21h.
Tempo de tela
A psiquiatra destacou que o tempo olhando para uma tela de computador, celular ou televisão pode causar questões de conexão cerebral, que podem ocorrer alterações pelo fato de ficar muito tempo focado no jogo.
O psicólogo Alexandre Brito reforçou que o excesso de horas de jogos começa a se tornar algo tóxico e fazer mal para as funções. Ele alertou também que o vício pode afetar várias áreas da saúde.
“Isso vai fazendo um mal para o organismo. Pode ter vários sinais ou sintomas, como enxaqueca, pode ter problemas de prisão de ventre, começar a sentir dores. Não só dores da posição que está jogando, mas dores porque você não respira bem, porque não está vivendo bem e curtindo a vida. Essa é a grande questão de um vício em jogo”, disse o psicólogo.
“O ambiente é virtual, mas a sensação é real”
Treinador já ficou 12 horas jogando
O treinador profissional de games Giovanni Federici, que também participou da entrevista, contou que já ficou 12 horas jogando.
“Às vezes existem lançamentos no mercado que o jovem vai dedicar um tempo a mais ali, assim que começar esse lançamento. Geralmente é um pico que vai decair em cima do produto que acabou de ser lançado”
O treinador destacou que consegue identificar quando a pessoa está indo para o ramo de profissionalização e quem vai para o ramo patológico durante entrevistas para se tornar jogador profissional.
Segundo a psiquiatra Letícia, o dependente em jogos pode ter crises de abstinência e sobrecargas das funções visuais. Ela explica que o dependente minimiza o vício como os dependentes químicos, e nunca admitem que estão jogando por lazer ou esporte.
“O jogo, quando é um esporte, o jogador tem todo o treinamento como qualquer outro esporte tem. O dependente não tem o preparo físico e o suporte da equipe para ficar 12 horas jogando, como o profissional pode ter” relatou a médica.
Veja como foi a entrevista no Fala Espírito Santo:
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