Caramujo africano: devemos nos preocupar?
Em muitos passeios e caminhadas por aí, principalmente em dias mais úmidos e após as chuvas, encontro-me com os exóticos e invasores territoriais caramujos gigantes africanos. Ou serão caracóis gigantes africanos?
Sempre adverti meus filhos para não tocarem no animal, alegando invariavelmente a questão de saúde x doença. Meu filho Antonio até sabe classificar/caracterizar, parcial e cientificamente, o caramujo como: animal invertebrado, molusco, sem predador natural e transmissor de doenças. Fantástico, Antonio! É por aí mesmo!
O caramujo-gigante-africano foi introduzido no Brasil a partir de uma feira agropecuária em Curitiba, no Paraná, na década de 80. O Lissachatina fulica (nome científico) pertence ao Reino Animalia e ao Filo Mollusca. É um gastrópode pulmonado terrestre, logo a nomenclatura popular deveria ser caracol gigante africano (terrestres), e não caramujo.
Possui hábito semi-arborícola (árvores, muros e paredes, chão), alta resistência aos fatores e rigores ambientais e elevado potencial reprodutivo. É considerado uma espécie exótica invasora, nativo da África, competindo por abrigo e alimentos com moluscos endêmicos (da nossa região). De acordo com as definições adotadas pela Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica, espécie exótica é quando a mesma se encontra em local diferente de sua distribuição natural, por ações mediadas pelos seres humanos.
Caso a espécie consiga se reproduzir, gerar descendentes férteis, ter sucesso no novo habitat e ameaçar a biodiversidade nativa, passa a ser considerada espécie exótica invasora.
Como este animal veio parar no Brasil, então?
Para substituir pratos com certo requinte em terras brasileiras, como o escargot, caracol do Gênero Helix. Não deu certo e foi literalmente “jogado” no ambiente sem manejo correto ou plano de soltura.
Recentemente, li a notícia sobre os caramujos africanos próximos de áreas habitadas não só por adultos, mas também por crianças, como é o Parque da Ciência. A manchete que me chamou a atenção é esta: Alerta na Guarderia: caramujos africanos invadem área de restinga, publicada no Folha Vitória, em 04 de outubro de 2023. Como diz a própria manchete, é preciso ficar, no mínimo alerta. Vamos analisar alguns fatores.
Primeiramente, a relação parasita x hospedeiro em uma abordagem mais ampla do processo saúde x doença. O molusco (Achatina) é o hospedeiro intermediário (aquele que hospeda temporariamente) de um verme, o Angiostrongylus cantonensis, agente causador da meningoencefalite eosinofílica, doença que provoca inflamação das meninges. Os roedores urbanos (ratazana ou rato-de-esgoto, rato comum ou rato-de-telhado e camundongo) são os hospedeiros definitivos e reservatórios da verminose.
O homem aparece como um hospedeiro acidental. A contaminação no homem ocorre pela ingestão de moluscos contaminados e também pela ingestão de alimentos (folhagens e frutos) não higienizados e contaminados.
Outro ponto que merece atenção e cuidado é sobre a concha do caracol, uma das características marcantes dos moluscos. A concha, sem a parte visceral presente, pode servir como reservatório de água para a reprodução de mosquitos transmissores do vírus da Dengue, Zika e Chikungunya.
O que devemos fazer diante de uma população de caracóis africanos?
– Identificar, se possível, a espécie Lissachatina fulica; não devemos eliminar sem critérios quaisquer tipos de caracóis e caramujos, pois o impacto nas cadeias alimentares pode ser desastroso;
– Informar a Secretaria Municipal de Saúde, caso identifique a presença numerosa do caracol Achatina fulica; o manejo e catação do molusco deve ser feito com critério e técnica;
– Coletar periodicamente o lixo e entulhos dos quintais e terrenos baldios para eliminar a presença de ratos e locais de ocorrência de caracóis (pneus, latas, entulhos, plásticos, tijolos, telhas, madeiras); evitam-se, também, baratas, escorpiões, aranhas, moscas e mosquitos, animais sinantrópicos;
– Lavar e higienizar as frutas, hortaliças, verduras e legumes; os moluscos Achatina fulica se alimentam de folhagens, frutos etc., deixam o rastro do muco por onde passam;
– Evitar jogar os caracóis vivos diretamente no lixo doméstico ou em qualquer outro local e não utilizar os caracóis gigantes africanos como alimento ou isca para pescar.
Mais uma vez, é preciso enxergar a situação com um olhar mais amplo, envolvendo a saúde humana, a saúde animal e as questões e impactos nos ecossistemas. Caracol ou caramujo, eis a questão!
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