É normal sentir a boca arder?

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Dra. Martha Salim

Muitas pessoas queixam-se de gengiva e língua ardente. Isso pode ser normal?

Ardência na mucosa oral ou na língua não são considerados normais em situação habitual.

Em ocasiões em que fazemos uma alimentação muito cítrica ou muito quente podemos ter esse quadro que tem melhora espontânea em alguns dias. Mas se o quadro começa a se manifestar de forma frequente, causando desconforto e limitação ao paciente, esse pode ser um quadro que caracteriza a síndrome da ardência bucal.

A Síndrome da ardência bucal ou “ Boca ardente” é uma condição caracterizada por uma sensação de queimação, formigamento ou dor na boca, geralmente afetando a língua, lábios, gengivas, céu da boca e áreas circundantes.

Os sintomas são bem característicos, com quadro de dor e desconforto do tipo queimação na mucosa oral e principalmente da língua, como se a pessoa tivesse comido pimenta. Alguns pacientes também alegam alteração do paladar, gosto mais amargo e metálico na boca e sensação de boca seca. Essa sensação costuma ser variável ao longo do dia e tende a piorar com alimentações quentes ou condimentadas. Pode também variar de intensidade, ser contínua ou intermitente e perdurar por meses ou anos.

A prevalência da síndrome ardência bucal pode atingir até 7% da população e em sua maioria mulheres na faixa etária entre 40 a 60 anos. Alguns estudos mostram uma proporção é de 7 pessoas do sexo feminino para 1 do sexo masculino.

Não há exames ou testes específicos para determinar a sua existência, como acontece com outras doenças conhecidas, portanto, sempre precisamos fazer um diagnóstico de exclusão para se estabelecer as condições que podem estar associados.

Alterações dos nutricionais , como exemplo as hipovitaminoses B12, desequilíbrios hormonais, doenças autoimunes, estresse e até mesmo reações alérgicas podem causar esse desconforto. Outra condição que deve ser investigada e o diabetes tipo 2, que também pode acompanhar alterações da mucosa oral.

O tratamento é identificar as possíveis doenças associadas e as tratar, e para os casos aonde não foram identificadas doenças associadas o tratamento é apenas sintomático. Beber água com frequência para estimular a saliva e a manter a boca úmida, uso de saliva artificial, evitar alimentos ácidos e apimentadas, uso de medicações paliativas específicas podem ajudar a manter os sintomas controlados e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Se você sofre dessa condição, deve receber uma avaliação detalhada do dentista especialista em estomatologista ou patologia oral, para condução adequada do seu caso.

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Dra. Martha Salim

Doutorado em Cirurgia Bucomaxilofacial (UNESP); Mestrado em Patologia Bucodental (UFF); Especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (UERJ); Capacitação em Odontologia Do Sono; Capacitação em Sedação com ÓXido Nitroso; Graduação em Odontologia (UFES); Atua como professora de Cirurgia Bucomaxilofacial da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Revisora Científica das Revistas: Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) e Brazilian Dental Science (BDS). Autora dos livros "Cirurgia Bucomaxilofacial: diagnóstico e tratamento" (1 e 2 edições), Anestesia Local e Geral na Prática Odontológica, além de colaborar com 38 capítulos de livros e artigos científicos publicados. @dramarthasalim