Música alta em festas? Especialista explica os perigos para a audição

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Dr. Giulliano Luchi

A música alta e as vibrações intensas são partes essenciais da experiência em uma festa ou show, criando uma atmosfera de euforia e diversão.

No entanto, essa mesma intensidade sonora pode trazer sérias consequências para a saúde auditiva. A exposição prolongada a sons de alta intensidade pode causar danos irreversíveis aos ouvidos, levando à perda auditiva temporária ou permanente.

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Como o sistema auditivo humano funciona? O ouvido é composto por três partes: a orelha externa, média e interna. O som viaja em ondas pelo ar até a orelha externa, onde é captado pelo canal auditivo e direcionado para o tímpano.

As vibrações do tímpano movimentam pequenos ossos na orelha média, que amplificam essas vibrações e as enviam para a cóclea, uma estrutura em forma de espiral na orelha interna.

A cóclea contém células ciliadas sensoriais que convertem as vibrações sonoras em sinais elétricos, que são enviados ao cérebro através do nervo auditivo. O grande problema é que essas células ciliadas não se regeneram, ou seja, uma vez danificadas, os prejuízos à audição podem ser permanentes.

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Em uma balada, os níveis de som geralmente estão bem acima do que é considerado seguro para a audição humana. A exposição a ruídos acima de 85 decibéis (dB) já pode causar danos auditivos. Em eventos musicais, o volume pode facilmente ultrapassar 100 dB, e em algumas ocasiões chega a 120 dB ou mais.

Para colocar isso em perspectiva, o volume de uma conversa normal gira em torno de 60 dB, enquanto o som de uma motosserra atinge cerca de 110 dB. Estar exposto a níveis de som tão altos por períodos prolongados pode resultar em perda auditiva temporária ou até permanente.

A perda auditiva temporária se manifesta como uma sensação de “ouvidos tampados” ou zumbido (tinnitus) após a exposição ao som alto, e, embora possa se normalizar após algumas horas ou dias, esse sintoma é um sinal de que danos auditivos estão ocorrendo.

A exposição repetida a níveis de som perigosos pode levar a uma perda auditiva permanente, que é cumulativa ao longo do tempo. Mesmo que a perda auditiva leve não seja perceptível de imediato, ela pode progredir ao longo dos anos, resultando em uma deterioração significativa da audição.

A perda auditiva não afeta apenas a capacidade de ouvir, mas pode ter um impacto profundo na qualidade de vida. Pessoas com deficiência auditiva muitas vezes têm dificuldade em entender conversas, especialmente em ambientes barulhentos, o que pode levar ao isolamento social e frustração.

O zumbido, um sintoma comum da exposição a ruídos altos, também pode ser debilitante, causando dificuldades de concentração e problemas para dormir.

Além disso, a perda auditiva está associada a outras condições de saúde, como depressão, ansiedade e até demência. O cérebro, quando privado de estímulos auditivos, pode sofrer alterações que afetam a memória e o processamento de informações.

Por isso, a proteção da audição não é apenas uma questão de evitar o incômodo do zumbido, mas sim uma forma de preservar a saúde mental do indivíduo.

Felizmente, existem várias maneiras de proteger a audição sem sacrificar a experiência divertida de uma balada ou show. Aqui estão algumas das estratégias mais eficazes:

-Uso de protetores auriculares, desde os de espuma, que são baratos e descartáveis, até os modelos de alta fidelidade, projetados especificamente para músicos e frequentadores de shows. Estes últimos são uma excelente opção para quem quer aproveitar a música sem distorções, pois reduzem o volume sem comprometer a qualidade do som.

Os protetores de ouvido de alta fidelidade podem reduzir o som em até 25 dB, trazendo o volume para um nível seguro sem afetar a clareza da música. Para quem trabalha ou frequenta baladas com frequência, o investimento em protetores auriculares de boa qualidade é uma medida essencial para proteger a audição a longo prazo.

-Pausas durante a exposição ao som é uma estratégia importante para dar aos ouvidos um descanso. Passar horas seguidas exposto a volumes altos pode aumentar os danos auditivos. Sair da pista de dança e ir a um local mais silencioso a cada hora ou durante as músicas mais altas pode ajudar a reduzir o impacto da exposição contínua.

Escolha de locais menos barulhentos na balada longe das caixas de som faz uma grande diferença no nível de exposição ao som. Ficar perto das caixas aumenta significativamente os riscos para a audição. Optar por ficar em áreas mais afastadas pode ajudar a reduzir a intensidade do som que chega aos ouvidos.

Controle de volume em fones de ouvido, disponível em algumas baladas e shows, onde os participantes usam fones de ouvido para ouvir a música em vez de caixas de som tradicionais.

Embora isso ofereça uma alternativa interessante, é importante que os frequentadores controlem o volume dos fones de ouvido. Fones em volumes altos podem ser tão prejudiciais quanto o som de caixas de som poderosas, e o uso prolongado em volumes elevados pode causar danos auditivos semelhantes.

Atenção aos sintomas de dano auditivo, como zumbido ou diminuição da audição com frequência aumentam o risco de perda auditiva permanente. Se isso ocorrer é importante procurar um especialista em saúde auditiva.

Proteger a audição em baladas é uma medida essencial para garantir a saúde auditiva a longo prazo. Embora a música alta e a energia de uma festa sejam partes fundamentais da experiência, a exposição prolongada a sons intensos pode causar danos irreversíveis. Cuidar da audição hoje é garantir uma melhor qualidade de vida no futuro, preservando a capacidade de apreciar sons por muitos anos.

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Dr. Giulliano Luchi

Médico. Mestre e Doutor em Otorrinolaringologia. Professor de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Espírito Santo. Título de especialista pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Membro internacional da Academia Americana de Otorrinolaringologia. MBA em gestão de negócios em Saúde. Formação em Mentoring, Coaching e Advice. @otoclinica_giulliano_luchi