O que devo saber sobre a dengue?

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Temos recebido informações alarmantes sobre o número expressivo de casos de dengue no Espirito Santo. O cenário epidemiológico não se pinta como novidade e isso nos traz certa preocupação.

Vivemos em um país tropical apreciado por muitos e “bonito por natureza”, com médias de temperatura elevadas em várias regiões do país e volumes consideráveis de chuva, principalmente no verão. Não são só os turistas os apreciadores dessas condições tropicais. Altas temperaturas e ofertas de água nada econômicas montam e estruturam o cenário quase perfeito para a reprodução de vetores biológicos.

Digo cenário quase perfeito, pois faltam alguns elementos, como o cardápio diversificado de alimentos para as pragas e os abrigos aconchegantes e variados. Os insetos são protagonistas exemplares da peça. Outro agravante se agrega ao cenário instalado e preocupante.

Com a emissão excessiva de gases poluentes na atmosfera, a exemplo do gás carbônico-CO2-, em razão dos processos de queimadas e desmatamentos, as temperaturas médias no planeta estão se elevando, fazendo com que a distribuição epidemiológica e espacial da dengue não seja somente em países tropicais. O Aedes, definitivamente, está ultrapassando as fronteiras tropicalistas.

Vamos, agora, contar um pouco da doença dengue e desse versátil protagonista chamado Aedes aegypti.

A dengue é uma doença viral (- são 4 sorotipos no Brasil: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e o vírus é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti, espécie envolvida, também, na transmissão do vírus Zika, do chikungunya e do vírus da febre amarela urbana.

O Aedes aegypti possui hábitos domésticos, vivendo dentro ou próximo às casas e reproduz-se em locais onde contenha água parada, seja em recipientes naturais ou artificiais, principalmente em tambores, barris e pneus. A fêmea do mosquito necessita de sangue para maturação dos ovos e, também, para o metabolismo fisiológico do organismo. Geralmente, os mosquitos alimentam-se a cada 3-4 dias, sendo mais ativos nos períodos da manhã e ao anoitecer. Ovos postos na superfície desses recipientes eclodem ao contato com a água. Caso não entrem em contato com a água, resistem às condições ambientais por mais de um ano.

Enquanto cidadãos, o que podemos fazer para melhorarmos o quadro epidemiológico da dengue no ES?

Combater a proliferação do mosquito-vetor da doença. É dificílimo exterminarmos a população de mosquitos Aedes, bem como de outros insetos- voadores- e aclimatados em países tropicais. Em contrapartida, se soubermos interferir no ciclo a partir de ações educativas individuais e coletivas, conseguiremos diminuir a taxa de reprodução dos mesmos.

Não podemos oferecer condições para que o mosquito feche o seu ciclo de vida, evitando reservatórios que possam acumular água, como vasos de plantas, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas plásticas. Sempre que possível, evitarmos o acúmulo de resíduos produzidos.

Quando produzidos, recolhê-los, acondicioná-los corretamente e deixá-los fechados em locais mais altos e não no chão. Quando possível e necessário, permitir o acesso do agente de controle de zoonoses (vigilância ambiental) em sua residência ou estabelecimento comercial.

É imprescindível reforçarmos as ações em educação em saúde para as doenças cujos agentes/vetores estão muito bem acostumados ao nosso estilo de vida. O cenário da dengue precisa de novas tintas e nuances para que possamos contar uma outra história nem tanto tropicalista assim.

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Dr. Antonio Carlos Pacheco Filho

Biólogo, Bacharel em Direito e Doutor em Odontologia Preventiva e Social. @dr_antonio_pacheco