Você conhece as faces da sífilis? Entenda sintomas e riscos
A arte é uma ferramenta imprescindível para a compreensão e reflexão sobre o mundo. Em diversas passagens de nossas vidas, deparamo-nos com autores e artistas, compositores e intérpretes, clássicos e populares.
Em muitas incursões e viagens sobre o tema-sífilis-, encontrei-me com o que não esperava, a grandiosidade temática. A grande imitadora- a sífilis- encontrou vários artistas no transcorrer dos séculos, em obras ou em passagens reais de suas vidas, de Benvenuto Cellini à Paul Gaughin, passando por Paganinni e Munch. Nesta ocasião, destacarei os dois últimos.
Niccoló Paganini nasceu em Gênova, em 1782, finalizando o século XVIII. Uma de suas magistrais obras é Moto Perpétuo (Op.11) que, na visão de alguns músicos e intérpretes-destaco o virtuoso clarinetista Paulo Moura- peça clássica de dificílima execução. Sugere a literatura pesquisada um modo indisciplinado de Paganini com a vida e o encontro (in)evitável com a sífilis.
Já Edvard Munch, conheci por intermédio de um amigo de trabalho, apresentando-me de modo enfático e pedagógico a obra “O grito”. A realidade, para Munch, apresentava-se de forma trágica e crítica em relação à ordem social dominante, com imagens distorcidas e carregadas de sentimentos de angústia, tristeza e medo, como na obra “Herança”, quando a mãe sifilítica segura o recém-nascido (enfermo) com sífilis congênita.
Quem é a sífilis, afinal?
Sífilis é uma doença infectocontagiosa, curável, causada pela bactéria Treponema pallidum. É considerada uma infeção sexualmente transmissível (IST). As duas principais formas de transmissão são: sexual-vaginal, anal e oral- (sífilis adquirida) e vertical (sífilis congênita- mãe para filho).
A doença é um sério problema de saúde pública no Brasil e no mundo, apresentando um vertiginoso e preocupante aumento no número de casos nos últimos anos. O conjunto de sinais e sintomas da infecção passa por períodos sintomáticos (sintomas evidentes) e assintomáticos, com características diferentes conforme seus estágios de evolução: sífilis primária, sífilis secundária, sífilis latente e sífilis terciária.
O primeiro estágio (sífilis primária) aparece clinicamente de duas a três semanas após a introdução da bactéria e pode durar entre duas e seis semanas. É caracterizado pela ferida chamada de cancro duro, que surge no local da entrada da bactéria, regredindo espontaneamente após o aparecimento, não deixando cicatriz.
A lesão é altamente contagiosa. As áreas genital, anal ou bucal são os locais mais comuns de aparecimento. As lesões orais são ulceradas e sem dor. A regressão espontânea nos deixa perceber e experimentar uma falsa sensação que o mal tenha sido curado e aí não procuramos ou não levamos adiante a assistência médico-odontológica, infelizmente.
Já na sífilis secundária, ocorre a disseminação da bactéria T. pallidum e é mais fácil perceber os sinais e sintomas, sendo os mais comuns a dor de garganta, mal-estar, cefaleia, perda de peso, febre e dor na musculatura. É característico dessa fase o acometimento em região de palma das mãos e planta dos pés. A resolução espontânea dos sinais se dá em média de três a doze semanas. Após o segundo estágio, caso a doença não seja diagnosticada e tratada- temos um período sem sintomas, conhecido como sífilis latente, recente ou tardia.
Transcorrido esse tempo, sífilis terciária. Nesta fase, podemos desenvolver complicações cardiovasculares e/ou neurológicas, ocorrendo inflamações conhecidas como goma sifilítica, que na cavidade oral atinge principalmente o palato duro e eventualmente a maxila. O diagnóstico da doença deve ser feito o mais rápido possível por profissionais habilitados e capacitados. A sífilis compromete o funcionamento sistêmico/fisiológico e, também, estruturas da cavidade oral durante o desenvolvimento de seus estágios. O teste rápido de sífilis está disponível no Sistema Único de Saúde.
Por se tratar de uma infecção sexualmente transmissível, o uso de preservativos, masculinos ou femininos, é fundamental. As informações sobre os métodos preventivos (uso de preservativos) devem ser compartilhadas pelos meios de comunicação para que decisões sensatas e responsáveis fortaleçam a saúde da coletividade e não impactem sobremaneira o sistema de saúde. Além disso, o acompanhamento pelas equipes de saúde às gestantes durante o pré-natal deve ser reforçado. Quando diagnosticada na gestante, o tratamento deve se iniciar o mais rápido possível. É fundamental a sociedade procurar um profissional capacitado quando a sintomatologia se manifestar, seja na cavidade oral ou em outras partes do organismo.
A vida imita a arte e a sífilis é primorosa em imitar, seja num grito do quadro, no escuro e sombrio de uma tela ou no perpétuo impossível de uma composição.
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