Após a notícia de que o apresentador Fausto Silva (Faustão), 73 anos, entrou na lista de espera por um transplante de coração, muitos questionamentos começaram a surgir. Entre os principais, qual é o protocolo para quem aguarda para receber um novo órgão.
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Inicialmente, é importante esclarecer que o Sistema Nacional de Transplantes (SNT) opera em âmbito nacional. Esse sistema é responsável por supervisionar as listas de espera em nível estadual e regional, em colaboração com outras entidades de controle de âmbito federal.
Isso impede que um indivíduo seja incluído em múltiplas listas ou que a hierarquia legal não seja respeitada.
No Espírito Santo, a Central de Notificação, Captação e Doação de Órgãos no Estado (CNCDO) é responsável por toda a comunicação e gerenciamento junto aos sistema nacional.
Números no Espírito Santo
De acordo com a secretaria da Saúde (Sesa), no Estado, são realizados transplantes de:
– Coração;
– Fígado;
– Rim;
– Córnea/esclera;
– Medula óssea autólogo;
– Medula óssea aparentado e não aparentado.
Ao todo, seis equipes estão credenciadas junto ao SNT e habilitadas para transplantes de órgãos sólidos. Os procedimentos são realizados no Hospital Meridional e no Hospital Evangélico de Vila Velha.
Até esta segunda-feira (21), 1.976 pacientes aguardavam para o transplante no Espírito Santo:
– 02 para coração;
– 13 para fígado;
– 994 para rim;
– 967 para córneas.
Etapas do transplante de órgãos
No Estado, quando um paciente é diagnosticado com morte encefálica e está internado em um hospital, a notificação é enviada para a Central Estadual de Transplantes.
A partir daí, médicos especialistas validam o protocolo desse diagnóstico, o qual foi realizado pela equipe médica do hospital. Assim que a validação é concluída, o paciente (com morte encefálica confirmada), é considerado um potencial doador, e a família é informada sobre a possibilidade de doar os órgãos.
Um entrevista com a família é então realizada para a permissão da doação de órgãos e tecidos. Em seguida, a Central é notificada sobre a autorização concedida.
Uma extensa avaliação incluindo análise da história clínica, os antecedentes médicos e os resultados dos exames laboratoriais é feita. A viabilidade dos órgãos é verificada, bem como a realização de exames sorológicos para descartar doenças infecciosas e a compatibilidade com possíveis receptores.
A CET elabora uma lista de potenciais receptores compatíveis com o doador e informa à equipe de transplante o nome do receptor, as condições do órgão disponível e aguarda a avaliação da equipe responsável pelo transplante para determinar a viabilidade do procedimento.
Em 2023, houve a captação de cinco corações a nível estadual. Destes, quatro foram encaminhados para a Central Nacional de Transplantes, e um transplante foi realizado no próprio Espírito Santo.
Fila de córnea já foi praticamente zerada no ES
Em entrevista ao programa Check Up Saúde, Alberto Stein, cirurgião do aparelho digestivo e especialista em transplantes lembrou que a fila para o transplante de córnea no Estado, por exemplo, era praticamente zerada.
“Tivemos algumas intercorrências com a pandemia que limitou um pouquinho, principalmente, essa doação de córnea na época, por isso esse número é tão disparate, mas a pandemia já passou. Estamos numa fase pós pandemia e precisamos correr atrás desses números. A gente tem potencial, sim, para zerar a fila de córnea.”
Maria Machado, enfermeira especialista em doação e transplante de órgãos da CNCDO, disse que a maioria dos transplantes são realizados via SUS.
“Hoje no Estado do Espírito Santo para órgãos como, coração, fígado e rins, a grande maioria são feitos pelos sistema Único de Saúde, via Sesa. Esse ano nós estamos intensificando a política de regulação dando mais acesso à esses pacientes e aos centros transplantadores”.
Processo de funcionamento de um transplante
O paciente em necessidade de transplante (receptor), preenche um formulário e passa por exames para determinar suas características sanguíneas e físicas, e no caso de rins, antigênicas também. Esse processo é acompanhado e orientado pela equipe médica do centro de transplantes de sua escolha ou de sua região de residência.
As informações são organizadas em um sistema computacional, usando a ordem cronológica como critério adicional de classificação.
Quando um órgão se torna disponível, ele é submetido a exames e os resultados são processados e inseridos no sistema de classificação de receptores em lista. O programa cruza os dados do doador e do receptor e apresenta as dez opções mais compatíveis com o órgão.
Os dez pacientes não são identificados por nome para evitar qualquer favoritismo, sendo identificados apenas por iniciais e números. O laboratório repete os exames e conduz novos testes com amostras do receptor. Nesse momento, o receptor ainda não é informado. Os novos resultados indicam o receptor mais compatível.
O médico do receptor é contatado para avaliar o estado de saúde do paciente. Se o paciente estiver em boas condições, ele se torna o candidato principal para o transplante. Caso contrário, o processo recomeça seguindo rigorosamente a lista estabelecida. Por fim, o receptor é então contatado e tem a decisão de aceitar ou recusar o transplante.
Como funciona a lista de espera por um órgão?
Assim que o médico autorizado inscreve o paciente no sistema, o paciente é posicionado na lista de espera, de acordo com a ordem de inscrição, gravidade e urgência da situação e compatibilidade com doador existente.
É fato que existem, sim, pessoas que podem ser priorizadas na lista. Para isso, elas deverão se encaixar nos critério de gravidade pré-determinados e também estabelecidos pelo Ministério da Saúde.
Entre os exemplos, estão aqueles pacientes que precisam de receber assistência circulatória, ou seja, de suporte para que o coração continue bombeando sangue para os órgãos, como é o caso do apresentador Faustão. Pacientes com falência renal (que já não apresentam condições de passar por diálise) e insuficiência hepática aguda grave (fígado), integram esses critérios.
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Captação múltipla de órgãos no ES da vida nova para seis pessoas
Em um vídeo, divulgado em novembro do ano passado pela secretaria de Estado da Saúde, é possível acompanhar uma pequena parte do trabalho dos cirurgiões, no momento em que captavam os órgãos do doador.
Na ocasião, a secretaria informou que os familiares autorizaram a doação. Com isso, coração, córneas, rins e fígado puderam ser captados pela equipe do hospital. Os órgãos doados puderam beneficiar até seis pessoas que aguardavam por um transplante na fila para o procedimento.
Como posso ser doador de órgãos?
No Brasil, o transplante só acontece com a autorização de um familiar do doador. Por isso é fundamental falar coma família sobre o desejo da doação. A doação de órgãos só acontece após autorização por escrito de familiar.
Que tipos de doador existem?
Doador vivo – Qualquer pessoa saudável pode doar um dos rins, parte do fígado, medula óssea e parte do pulmão. Pela lei, parentes até 4º grau e cônjuges podem ser doadores; não-parentes, somente com autorização judicial. Doador com morte encefálica – São pacientes em UTI com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou derrame cerebral. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico.
Quais órgãos e tecidos podem ser doados?
Coração, pulmão, fígado, pâncreas, rim, córnea, ossos, músculos e pele.
Como posso ter certeza do diagnóstico de morte encefálica?
O diagnóstico da morte encefálica é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina. Dois médicos de diferentes áreas examinam o paciente, sempre com a comprovação de exames complementares.
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