Há mais de um ano vivemos em um contexto de pandemia, e nesse período algumas palavras se tornaram comuns nos noticiários e rodas de conversa: vacina, soro e plasma são algumas dessas palavras. Mas afinal, você sabe o que são, para que servem e quando podem ser usados?
O soro contra a Covid-19, o plasma convalescente e a vacina são formas de proteção contra a doença no organismo. Mas eles têm funções diferentes e agem no corpo do paciente de maneiras distintas. O objetivo principal dos três é o mesmo, minimizar os danos que este “corpo estranho”, neste caso o novo coronavírus, possa causar ao corpo.
A vacina prepara o organismo para responder quando houver uma infecção. O soro e o plasma não conferem imunidade duradoura como a vacina, porque já se utilizam de anticorpos prontos.
Anvisa aprova testes de soro anti-covid em humanos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou no dia 25 de maio o início dos testes do soro anti-Sars-CoV-2, desenvolvido pelo Instituto Butantan, de São Paulo. Com a decisão, o Butantan poderá começar a aplicação do soro em voluntários da pesquisa. Esta será a primeira vez que o soro será testado em humanos.
A autorização foi concedida após o Butantan submeter à agência o novo protocolo clínico com as adequações necessárias para que o estudo pudesse ser iniciado em humanos.
O microbiologista Luiz Almeida explicou o que o soro é produzido em animais, o plasma em pessoas que foram infectadas naturalmente. Mas reforçou que tanto o soro, quanto o plasma, são tratamentos. E que a melhor forma de prevenir a doença, é com vacina.
“O soro a gente sabe a quantidade de anticorpos neutralizantes que tem, é muito mais controlado, mas precisa passar por testes clínicos. O plasma a gente não sabe a concentração de anticorpos produzida por cada pessoa, mas não precisa passar por testes clínicos, sendo mais indicado para um tratamento de emergência, que pode ou não dar certo, dependendo da quantidade de anticorpos produzidos pelo doador”, explicou.
Veja abaixo quais são as indicações, prós e contras de utilizar cada um desses métodos:
Vacina
A vacina é um imunobiológico que atua de forma preventiva. Para produzir a resposta imune, inocula-se um agente patogênico em um organismo, que prepara o sistema imunológico para se defender quando o corpo tiver contato com esse micro-organismo novamente.
Normalmente, os imunizantes utilizam vírus fragmentados ou vírus inteiros inativados (mortos), que não são capazes de adoecer o indivíduo. A resposta imunológica induzida pela vacina é chamada de imunidade ativa.
Para que serve: Prevenir o adoecimento quando a pessoa entra em contato com o vírus.
Prós: A vacina confere imunidade duradoura e diminui casos graves da doença e evita óbitos e internações.
Contras: Nenhuma vacina é 100% eficaz, então o indivíduo pode adoecer, ainda que não desenvolva a forma grave da infecção.
Soro
O soro é também um imunobiológico mas, diferentemente da vacina, é uma forma de tratamento, não de prevenção.
Geralmente, o agente causador da doença é inoculado em um animal – no Instituto Butantan é produzido em cavalos -, que responde produzindo anticorpos.
Depois, utiliza-se o plasma do animal para separar as imunoglobulinas, que atuam contra organismos invasores. Trata-se, então, de uma reação chamada de imunidade passiva.
Para que serve: Tratar pessoas já infectadas.
Prós: Controlar de forma precisa a quantidade de anticorpos introduzidos no paciente.
Contras: Por ser um produto, ainda precisa passar por testes clínicos antes de obter autorização para ser utilizado.
Plasma
O plasma convalescente, também um tratamento, tem uma finalidade parecida com a do soro. Porém, nesse caso, não houve injeção do vírus inativado no organismo.
A pessoa teve contato direto com o novo coronavírus e adoeceu. O organismo do indivíduo reconhece o micro-organismo como estranho e se defende, produzindo anticorpos que a protegem.
A ideia de utilizar o plasma como tratamento é fazer um processo parecido com uma transfusão de sangue de uma pessoa curada para uma pessoa infectada. Como o doador tem anticorpos, a pessoa que recebe o plasma será capaz de reconhecer o vírus e combatê-lo mais rapidamente.
Para que serve: Tratar pessoas já infectadas.
Prós: Ser uma alternativa rápida para tratar a doença e diminuir a gravidade dos casos e as internações enquanto não há tratamento específico.
Contras: Não é possível saber a quantidade de anticorpos que são passados ao receptor da doação.
Diferenças entre soro e plasma convalescente
O soro, diferente da vacina, é uma forma de tratamento, não da prevenção. O que geralmente acontece é que o agente causador da doença, no caso o Sars-Cov-2, que é o causador da covid-19, é inoculado no animal. O microbiologista explicou as principais diferenças entre o soro e o plasma.
“O Butantan está fazendo isso em cavalos: eles injetam esse Sars-Cov-2 nos cavalos, não causa doença nos cavalos, somente nos humanos, e o cavalo acaba desenvolvendo anticorpos, respondendo essa infecção”, explicou Luís.
O especialista explicou que depois de estimular a peodução de anticorpos nos cavalos, o plasma do animal é utizado, separando o sangue dos anticorpos, e esses anticorpos sãoutilizados para produzir o soro em si. “Esse soro então é utilizado em pessoas que já estão internadas, já estão em estado grave, pra fazer o tratamento. O soro é para tratamento, não para prevenção.”, concluiu.
O plasma é muito parecido com o soro, é usado para tratar pessoas já infectadas, não é para prevenir a doença, como no caso das vacinas.
“A grande diferença é que a gente pega o soro de pessoas que foram naturalmente infectadas pelo coronavírus, pessoas que sobreviveram e produziram anticorpos. Neste caso, não injetamos vírus nas pessoas para retirar o soro delas, como o Butantan está fazendo em cavalos. É uma alternativa rápida para tratar a doença e diminui a gravidade dos casos, é uma resposta de emergência”, finalizou.
Em resumo, os dois tratamentos têm em comum a finalidade de reconhecer o vírus e bloquear seu efeito, reduzindo a capacidade de infectar mais células. Isso ajuda a reduzir a gravidade dos casos, diminuindo internações de longo prazo.