“Aquilo que afeta diretamente uma única pessoa, afeta indiretamente a todos”.
Martin Luther King
No mês dedicado às mulheres, é essencial abordar a equidade de gênero de forma leve, mas sem perder a profundidade que o tema exige. Muitas vezes, ao falar sobre o assunto, percebemos o desconforto de alguns homens, que se “remexem na cadeira” ao serem confrontados com questões que, aparentemente, não os afetam diretamente. No entanto, como disse Luther King Jr., “Aquilo que afeta diretamente uma única pessoa, afeta indiretamente a todos”. Essa reflexão nos lembra que a desigualdade de gênero não é um problema exclusivo das mulheres, mas uma questão que impacta toda a sociedade.
A equidade de gênero não é sobre culpar indivíduos, mas sobre entender uma construção social, política e histórica que moldou as oportunidades e os desafios enfrentados por mulheres em diversas áreas, especialmente na tecnologia. Dados mostram que apenas 16% a 18% das mulheres estão matriculadas em cursos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Além disso, 42% abandonam a carreira em fase intermediária, muitas vezes ao se tornarem mães. No ambiente de trabalho, 90% das mulheres já sofreram algum tipo de sexismo, e a diferença salarial em relação aos homens ainda é de 22%.
Competência não tem gênero
Esses números não são apenas estatísticas, são reflexos de uma realidade que precisa ser transformada. E essa transformação começa com diálogo, conscientização e ação. Não se trata de criar uma “defesa bélica” entre gêneros, mas de reconhecer que a diversidade e a inclusão beneficiam a todos. Empresas com maior diversidade de gênero, por exemplo, têm rentabilidade até 66% mais elevada.
Para tornar o tema mais acessível, podemos pensar nele de forma lúdica, como em um desenho animado ou ficção. Não precisamos de apenas uma “Viúva Negra” ou um “Capitão América” podemos ter ambos, trabalhando juntos, cada um com suas habilidades únicas. Afinal, competência não tem gênero.
No entanto, ainda há muito a ser feito. Pesquisas mostram que 51% dos homens não têm consciência dos desafios enfrentados por mulheres no ambiente de trabalho. Comentários depreciativos, interrupções frequentes, questionamentos sobre capacidade técnica e a pressão de equilibrar carreira e maternidade são apenas algumas das barreiras que precisam ser superadas.
Em 2024, o número de mulheres ocupadas no mercado de trabalho brasileiro atingiu cifras históricas, com dados do setor indicando que aproximadamente 43,38 milhões de mulheres estavam empregadas. Esse avanço é resultado, em parte, da retomada econômica e de políticas de estímulo à formalização do trabalho, com regiões como o Sudeste e o Nordeste apresentando números expressivos de inserção.
Desafios e avanços das mulheres na tecnologia: Um olhar do RH
Ao longo dos últimos 25 anos atuando com gestão de pessoas na área de tecnologia, acompanhei de perto os desafios enfrentados pelas mulheres que ingressam nesse setor, como aceitação, credibilidade perante usuários e equidade salarial. A baixa representatividade feminina ainda é evidente, conforme aponta um levantamento da Serasa Experian: menos de 1% das mulheres no Brasil atuam na área de tecnologia.
Felizmente, o cenário está mudando. Empresas de tecnologia têm investido mais em políticas de inclusão, programas de desenvolvimento e redes de apoio, criando ambientes mais equitativos e favoráveis ao crescimento das mulheres na TI. O futuro exige times diversos, e a presença feminina em áreas como gestão de projetos, desenvolvimento de software e transformação digital é essencial para impulsionar a inovação e trazer novas perspectivas para soluções tecnológicas.
No entanto, ainda há barreiras a serem superadas. Muitas profissionais lidam com vieses inconscientes em processos seletivos, menor acesso a oportunidades de liderança e a necessidade constante de provar sua capacidade em ambientes predominantemente masculinos.
Neste Dia das Mulheres, reforço a importância de não apenas celebrar as conquistas, mas de seguir promovendo mudanças reais. O caminho para a equidade passa pelo incentivo, pela criação de oportunidades e pelo compromisso de toda a sociedade em garantir que as mulheres tenham voz e espaço na tecnologia.
Neste Dia, é essencial não apenas celebrar conquistas, mas promover mudanças reais, incentivando oportunidades e garantindo que as mulheres tenham voz e espaço na tecnologia, com o compromisso de toda a sociedade.
Sonymara de Almeida Santos
Administradora, Head de Pessoas e Coach Profissional
Setores com maior representatividade
A presença feminina se destaca em segmentos como educação, saúde e serviços sociais. Por exemplo, setores como os serviços domésticos e a área de comércio também mostraram crescimento significativo, embora muitas vezes com remunerações inferiores, o que reforça a persistência de desigualdades.
- Desafios Salariais: mesmo com avanços na inserção, as mulheres ganham, em média, cerca de 19,4% a menos que os homens. Relatórios recentes apontam que essa disparidade salarial persiste mesmo após a implementação de medidas legais como a Lei da Igualdade Salarial (Lei nº 14.611/2023) que visam criar condições para salários mais justos em funções equivalentes
- Desafios Estruturais e Tendências para 2025 informalidade e Dupla Jornada: dados de entidades como o DIEESE mostram que, embora haja crescimento na ocupação, as mulheres especialmente as negras ainda enfrentam taxas de informalidade mais elevadas e a sobrecarga de afazeres domésticos. Essas condições prejudicam a continuidade de trajetórias profissionais e impactam na progressão salarial.
- Menor Representatividade em Cargos de Liderança: ainda que o avanço na inserção em cargos formais seja um sinal positivo, as mulheres continuam sub-representadas em posições de alta gestão. Essa concentração em funções com menor poder decisório é apontada como um dos principais desafios para alcançar a igualdade de gênero no ambiente corporativo.
Segundo a psicóloga Rebeca Pelles, além dos aspectos citados ao longo da matéria, é fundamental considerar os fatores psicológicos que envolvem a equidade de gênero. A forma como as mulheres são socializadas desde a infância faz com que os estereótipos relacionados aos papéis tradicionais sejam constantemente reforçados ao longo de suas vidas, impactando sua autoestima e suas escolhas. Do ponto de vista psicológico, muitas mulheres podem se sentir sobrecarregadas ao equilibrar múltiplos papéis, o que aumenta os níveis de estresse e pode gerar a sensação de não pertencimento em determinados ambientes.
Por isso, um ambiente mais inclusivo e respeitoso não apenas oferece segurança para lidar com desafios externos, mas também promove o cuidado com a saúde mental das mulheres. Isso permite que elas se sintam valorizadas, reconhecidas e tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional que qualquer outra pessoa.
Perspectivas para 2025
Apesar de os números oficiais para 2025 ainda estarem sendo finalizados, as tendências mostram um aumento gradual na participação feminina. Isso é impulsionado por programas de incentivo e por uma maior conscientização sobre a importância da equidade de gênero. No entanto, desafios como a desigualdade salarial e a informalidade ainda permanecem, o que demanda ações contínuas tanto do setor público quanto do privado.
Em resumo, 2024 foi um ano repleto de avanços para as mulheres no mercado de trabalho no Brasil, com um crescimento expressivo na sua inserção e expansão em setores estratégicos. Para 2025, mesmo com a tendência de melhoria, será fundamental intensificar as políticas de igualdade e criar condições que permitam às mulheres progredir profissionalmente em pé de igualdade com os homens.
Esse cenário em transformação mostra que, embora os avanços sejam notáveis, é essencial implementar medidas práticas para eliminar as disparidades existentes. Além disso, investir em políticas que conciliem a vida profissional e pessoal é fundamental para reduzir o impacto da dupla jornada de trabalho, que historicamente pesa mais sobre as mulheres.
Neste Dia das Mulheres, a mensagem que fica é clara: a equidade de gênero não é uma luta apenas das mulheres, mas de toda a sociedade. É uma questão que envolve educação, respeito, oportunidades e, acima de tudo, a compreensão de que todos ganhamos quando há igualdade.
Portanto, antes de criticar, culpar ou julgar, pare e reflita. A mudança começa com pequenas atitudes, como ouvir mais, interromper menos e reconhecer o valor de cada pessoa, independentemente de seu gênero.
Que este seja um dia de celebração, mas também de conscientização e compromisso com um futuro mais justo e igualitário para todos.
#DiaDasMulheres #EquidadeDeGênero #CompetênciaNãoTemGênero