Trabalho

Aulas de música em meio à pandemia: professores se adaptam a nova modalidade de ensino virtual

O educador musical João Emídio Rodrigues contou sua experiência de ter que lidar com uma nova rotina de ensino à distância

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Por conta da pandemia do coronavírus a rotina de muitos brasileiros mudou. Trabalhos presenciais passaram a ser adaptados para a modalidade “home office” e muitos tiveram que enfrentar os desafios da nova rotina.

Após instituições de ensino terem as aulas presenciais interrompidas por conta da pandemia, profissionais de ensino tiveram que se renovar. Aqueles que não eram familiarizados com câmeras, tiveram que se adaptar. Acompanhar um aluno remotamente exige mais cuidados do profissional para que o aluno não perca o desempenho.

Se para professores de escolas públicas, particulares e até mesmo de ensino superior é difícil, professores de música têm um desafio maior, pois não é apenas atrair a atenção do aluno ou explicar um conteúdo, mas entra a parte dos instrumentos musicais, o que exige uma atenção redobrada. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Professor João Emídio Rodrigues

Tendo que aprender a lidar com a nova rotina de trabalho, João Emídio Rodrigues, de 26 anos, morador da Serra,  é educador musical e trabalha na área há 3 anos. Quando descobriu que as aulas presenciais seriam de forma virtual, João teve certo receio, pois não sabia qual seria a reação dos alunos ao serem informados que as aulas passariam ser à distância. Outro fator que preocupou João foi a permanência dos alunos na instituição em que ele trabalha. O professor temia a reação tanto dos pais quanto dos alunos em continuar aula instrumental de forma virtual, já que lidar com instrumento ainda mais em fase de aprendizado, exige atenção redobrada. Alguns alunos chegaram a desistir já que a preferência era pelas aulas presenciais e decidiram esperar o isolamento social acabar para então voltarem a fazer as aulas.

Uso da tecnologia

Para se adaptar a nova realidade, o educador contou que aprendeu a mexer nos programas que iria utilizar nas aulas, olhando alguns vídeos explicativos e para atrair a atenção dos alunos, João confeccionou vários materiais de forma que pudesse compartilhar em tempo real no decorrer das aulas, já que não teria acesso a um quadro branco. Além da substituição do quadro por outros recursos de escrita e demonstração para os alunos com materiais em forma digital, João contou que começou a utilizar mais playbacks e áudios originais das músicas para que os alunos pudessem tocar e ter uma interação musical.

Desafios

Apesar de ter conseguido os recursos adequados para trabalhar produzindo um conteúdo digital de forma acessível para os alunos, o educador relatou que conta com outro desafio: o “delay”, famoso atraso da transmissão.

Nas aulas instrumentais os professores acompanham os alunos com os instrumentos, e com o “delay” da transmissão, acabam impossibilitando que professor e aluno toquem a mesma música ao mesmo tempo. Um segundo que o vídeo atrasa já é o suficiente para que não haja sincronia e isso pode acabar prejudicando o rendimento do aluno.

João dá aula para 20 alunos e conta que a maioria se adaptou muito bem. Para que o aluno participe da aula, o educador mantém o mesmo estilo de ensino do presencial. Ele faz com que o aluno toque o instrumento, principalmente quando o aluno é uma criança, que tem mais facilidade de perder a atenção se a aula for muito teórica.

Além de sempre conversar e estimular os alunos a manter o ritmo de estudos, o professor revela que a instituição de ensino em que ele trabalha tem feito um belo trabalho junto aos pais das crianças, conversando e pedindo apoio para que eles estejam sempre conferindo se o aluno está praticando em casa.

Em relação aos alunos que têm enfrentado dificuldades no acompanhamento das aulas, João diz que tem se colocado à disposição para gravar e enviar vídeo para os alunos por conta da qualidade de vídeo e áudio da transmissão. Dessa maneira, o aluno pode usar o vídeo gravado para ver e rever o conteúdo da aula quantas vezes quiser .

Novos alunos

Embora o educador tenha perdido alguns alunos por conta da pandemia. Outros foram se interessando pela nova modalidade de ensino. “Muitos alunos estavam adiando aquele ‘sonho’ de fazer aula de música, e por incrível que pareça, mesmo com o isolamento eles entraram em contato com a escola e se matricularam, o que reforça o fato de que a música, assim como outras áreas da arte, traz benefícios para a vida das pessoas”.

João contou que mesmo após a pandemia, pretende manter o ensino virtual. “O ensino à distância possibilita que pessoas que moram em outros estados ou que são do próprio Espírito Santo, mas que não têm por perto uma escola de música e tem dificuldade de locomoção possam ter acesso à uma aula de qualidade.”

Assim como João, a pandemia abriu um leque para outras oportunidades e outros conhecimentos. Abrir a visão para se adaptar ao mercado de trabalho faz toda a diferença na vida de um profissional que quer se manter na área. A pandemia irá passar, mas as novas conquistas e os novos projetos irão permanecer.