Trabalho

Enfermeira de 56 anos da Serra é aprovada em 3 concursos

Em entrevista ao Folha Vitória, Moabe Ferreira Coelho contou como surgiu a decisão de voltar aos estudos e os desafios enfrentados neste processo

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

“Quando fiz 50 anos, eu pensei: posso viver mais 50 e fazer tudo o que eu já fiz até hoje, só que melhor”. Essa frase é da enfermeira Moabe Ferreira Coelho, que, aos 56 anos, decidiu trocar o descanso da aposentadoria por uma rotina intensa de estudos. Resultado: conquistou as primeiras posições em três importantes concursos: Tribunal Regional do Trabalho (TRT-ES), Tribunal de Justiça (TJES) e Petrobras.

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Mineira, quase aposentada e de uma simpatia ímpar, Moabe topou conversar com a reportagem do Folha Vitória e falou sobre essa virada de chave profissional.

Natural de Araçuaí, em Minas Gerais, Moabe, os cinco irmãos (ainda na infância) e a mãe vieram para o Espírito Santo. A decisão de se mudar para terras capixabas, segundo ela, aconteceu após a morte do pai.

“Sempre estudei muito”

Bons resultados em concursos só podem ser atingidos com dedicação, organização e horas a fio de muito estudo, costume que, para Moabe, não era novidade. 

Apesar de ter se dedicado à família e ao trabalho na área da saúde durante anos, ela lembra que a rotina de estudos era algo muito frequente na sua juventude.

“Eu sempre estudei muito para o que eu queria, sempre fui muito disciplinada, só que eu não estava mais estudando para concursos.”

O caminho que a levou ao sucesso de hoje começou ainda no ensino médio quando, mesmo com dúvidas, optou por desbravar a área da saúde. 

“No começo não sabia bem se era isso que eu queria, mas depois que fiz o técnico eu tive certeza que era isso que eu queria”, disse ela sobre o ingresso no curso técnico de enfermagem.

Passado o período do técnico, começou aí uma rotina mais intensa de conciliar estudo em casa, sem auxílio de qualquer cursinho, e o trabalho como técnica de enfermagem no Hospital Infantil. A rotina agitada gerou bons frutos: a jovem técnica passou na Ufes e deu início à sua graduação de Enfermagem. 

Moabe teve que se dividir entre a intensidade do trabalho como técnica e as responsabilidades da faculdade, rotina que durou 4 anos.

“Depois passei em um programa de residência no Rio de Janeiro na área de enfermagem pediátrica. Eu trabalhava final de semana em Vitória e durante a semana fiz minha residência no Rio, fiquei dois anos fazendo isso”, lembrou a enfermeira.

Após o período de residência, Moabe entrou para o serviço público capixaba. Ela trabalhou na UTI neonatal do Hospital Estadual Dório Silva, na Serra, e depois entrou para a Prefeitura da Serra, onde trabalha atualmente como enfermeira de Estratégia e Saúde da Família.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

“Me sinto jovem, ainda tenho muito a oferecer”

A virada de chave teve início pouco tempo depois que ela fez o pedido da aposentadoria, ainda em 2022, mas a rotina de estudo para concurso já veio desde o início da pandemia em 2020.

“Eu vi um vídeo no YouTube falando sobre o concurso do tribunal, eram poucas vagas e exigia um bom preparo e eu decidi estudar. Eu comprei um curso, a primeira vez foi no início da pandemia em 2020. Eu inicie o curso e parei, trabalhei de domingo a domingo na pandemia na nossa área e não consegui fazer o curso”, lembrou.

Dois anos depois, Moabe decidiu dar início ao processo de aposentadoria, mas sentia que algo poderia ser diferente. 

Apesar do cansaço físico, como ela mesma diz, a mente ainda funcionava e ela queria fazer questão de reforçar isso para si mesma.

“Eu me sinto muito jovem, ainda tenho muito a oferecer. Eu vou aposentar, mas vou continuar só não sabia o quê.”

Em março de 2022, ela lembra que viu uma propaganda sobre o Senado Federal e decidiu fazer o concurso. A enfermeira bateu o martelo, comprou cursos sobre o certame e começou a estudar. Após um ano de estudos e provas, em março deste ano os resultados começaram a aparecer.

Veja as conquistas e os salários

Petrobras – 1º lugar (Salário básico de R$ 3.294,36 com garantia de remuneração mínima de R$ 5.563,90)
Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 17ª Região – 2º lugar (R$ 7.591,37)
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo – 4º lugar (R$ 6.713,00)

No TRT-ES e na Petrobras, Moabe passou para a vaga de enfermagem do trabalho. Já no TJES, a conquista foi para o cargo de enfermeira. Apesar das três notícias boas, até o momento ela ainda não decidiu qual cargo deve escolher.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

“Em véspera de concurso, eu estudo até 12 horas”

Para atingir os resultados acima, Moabe conta que se organiza em uma rotina intensa de estudos que ainda são divididos com a rotina de trabalho como enfermeira. 

Durante a semana são 4 horas diárias de estudo e nos fins de semana a programação pode chegar a 8 horas de leituras, exercícios e revisões.

“Eu acordo às 4h e estudo até as 6h. Trabalho de 7h às 16h e de noite, das 18h às 20h, estudo novamente. Aos sábados e domingos, estudo durante 6 a 8 horas e em véspera de concurso, eu estudo até 12 horas.”

Amigos chegaram a duvidar de escolha de enfermeira

Além das dificuldades impostas pelo próprio processo de estudo e das provas necessárias, Moabe encontrou outro desafio em sua rotina: a reação de amigos e conhecidos.

Desde quando começou sua nova vida de concurseira, ela lembra que alguns amigos estranharam a escolha e chegaram a chamá-la de “maluca” por escolher estudar com mais de 50 anos.

“Quando eu comecei a pensar em fazer concurso, tive colegas que falavam: ‘Moabe você é maluca, quase 60 anos’. Eu sei que posso dar muito de mim ainda, o corpo pode estar cansado, mas a cabeça está boa”, afirmou.

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Moabe Ferreira ao lado da filha Vitória Coelho, grande apoiadora da mãe na rotina de estudos

“Nunca é tarde para a gente começar ou recomeçar”

Com a resposta na ponta da língua, a estudiosa e batalhadora mineira de 56 anos é categórica ao falar sobre a importância de seguir os sonhos, independente da idade.

Para Moabe, tudo é um processo. Não será de uma hora para outra que os resultados surgem e nem deve ser esse o objetivo de quem volta aos estudos com mais idade. O segredo, segundo defende a concurseira, é não parar e não parar nunca.

“Nunca é tarde para a gente começar ou recomeçar. O importante não é você conseguir de cara aquilo que você quer, o importante é não parar. Vá devagar, mas vá. Não pare, nunca pare. Eu sei que na minha idade eu tenho noção que eu tenho mais dificuldade que os jovens até por conta da memória, mas não pare. Isso vai fazer a gente viver mais, viver melhor”, garantiu ela.

Mesmo que concursos sejam completamente disputados, o propósito dela é outro e, acredite se quiser, a concorrência é o menor dos medos dessa mulher que é exemplo de dedicação, luta e realização de sonhos.

“Não tenho medo de concorrência, minha maior concorrência, sou eu mesma, eu quero sempre me vencer.”