De bartender a motorista: profissões não param nas festas de fim de ano
Motoristas de aplicativo, bartenders, e cuidadores de idosos são ocupações que mantêm o trabalho na época das festividades, aguardada por muitos para descansar
As últimas semanas do ano trazem um clima de descontração e relaxamento. Após quase 365 dias de expediente e compromissos, a maioria das pessoas aproveita a época para tirar férias, ou para curtir o recesso do trabalho.
O descanso é desejado e almejado por muitos, que contam com o período para riscar da lista destinos de viagens e celebrar as festividades de Natal e Réveillon entre família.
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Mas enquanto a maioria reserva a época para curtição, existem pessoas que não alteram o expediente no período de festividades.
O Folha Vitória ouviu profissionais que não param de trabalhar no final de ano para entender os desafios enfrentados.
Urânia Carvalho, de 57 anos, é natural da Bahia e vive em Vila Velha há 16 anos. A cuidadora de idosos tem três filhos e mora com dois deles de aluguel. Ela conta que veio ao Estado buscando trabalho, e que, atualmente, cuida de uma idosa de 70 anos.
"Os cuidados são auxiliar ela no banho e nas refeições, dar medicamentos, ajudar a vestir roupas, caminhar com ela, eu passo o dia com ela. Eu vim lutar, vim buscar emprego porque estava me faltando lá na Bahia", disse.
Além de trabalhar como cuidadora, Urânia também cozinha e vende marmitas aos finais de semana, oferecendo aos clientes feijão tropeiro, salpicão, empadões e vinagrete. Para encomendas, basta entrar em contato no telefone: (27)98894-7764.
Ela relata que, neste ano, irá trabalhar durante o réveillon, e que já está acostumada com o expediente de fim de ano. O maior desafio é se reunir com a família para celebrar.
"Nós nos reunimos depois do fim do ano. É necessário fazer isso, se não perdemos o rumo. Mas a gente joga aberto, temos clareza de que fazer isso é necessário. As vezes eu me sinto culpada, mas depois tento suprir esse tempo que passamos longe. Essa é a nossa realidade", desabafou.
De dezembro a abril: Bartender trabalha durante todo o verão
A música recita "pé na areia, caipirinha, água de coco, a cervejinha", e embala quem aproveita um pagode no verão. Mas para Guilherme Ribeiro, bartender de 24 anos, a canção é sinônimo de trabalho.
Natural de Guarapari, o jovem é sócio-fundador da empresa de open-bar Barca Drinks, que presta consultoria na produção de bebidas. O bartender contou à equipe do Folha Vitória que já passou anos trabalhando do natal ao aniversário, que é celebrado no começo de março.
"Por vezes, o movimento de trabalho segue alto até abril, e fica difícil encontrar com minha família até no meu aniversário, que é no comecinho de março. Já passei alguns anos trabalhando natal, ano novo e aniversário", contou.
O bartender conta que a realidade da ocupação exige expediente noturno seis dias por semana, e que a rotina se intensifica no final do ano. O esforço garante incremento de renda.
"Dá para incrementar a renda nesse período, mas é bem difícil. Por mais que eu já esteja acostumado, você vê outras famílias confraternizando, e você não consegue estar com a sua. Você deixa os seus entes queridos para atender os outros", disse.
Incrementar a renda e até pagar Fies: Os motoristas de aplicativo que não recusam corridas durante as festas
Wallace Lourenço Mendes, de 46 anos, é natural de Ocrane (MG), e mora em Vila Velha desde 2008, e tem duas filhas que moram com a mãe. Trabalhando como motorista de aplicativo há três anos, ele também aluga carros, e conta que sente falta de descansar.
"Eu consigo tirar um extra, é muito bom. Mas eu sinto falta de parar, eu acostumei a estar longe das minhas filhas. Eu marco de vê-las depois das festividades, porque janeiro é mais fraco, época que eu aproveito para dar manutenção nos carros que eu alugo. É questão de necessidade", disse.
Francisco Moreira, de 52 anos, mora em Vila Velha com a esposa e duas filhas, e trabalha como motorista de aplicativo há anos. Ele conta que trabalhou nos dois últimos natais para "fazer um extra".
"Eu trabalho quase que o dia todo como motorista e aplicativo, e a minha renda vem toda desse trabalho. Nos dois últimos natais eu trabalhei, aproveitei o período de festa para fazer um extra de fim de ano", disse.
Apesar do incremento na renda, Francisco conta que aumentar a carga de horário em fim de ano gera desgaste físico e que é necessário sacrificar estar presente em momentos que a família está celebrando.
"Eu já sacrifiquei o momento de estar com a família para ganhar dinheiro, e realmente isso não é tão bom. Você tem que se concentrar, porque o trânsito é maior, e isso gera desgaste físico", desabafou.
Luís Gustavo Barroso, de 29 anos, também trabalha como motorista de aplicativo para incrementar a renda. O detalhe é que o jovem formado em engenharia civil usa parte do dinheiro para pagar o financiamento da faculdade, que foi feito através do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
"Parte do dinheiro vai para incrementar minha renda, ajudar em casa, porque moro com minha mãe. Outra parte vai para pagar o Fies. No momento, eu estudo para concursos, e trabalho há três anos com aplicativo", disse.
Luís afirma que a rotina de trabalho permite flexibilidade nos horários, o que é bom para quem estuda. Apesar da liberdade, o jovem, que é natural de Ibatiba, na região do Caparaó, e mora em Vila Velha, conta que trabalhar durante as festividades pode ser incômodo.
"Ano passado eu trabalhei no natal. Me incomoda ver o pessoal curtindo, eu queria estar desse jeito também, aproveitando o final de ano. Mas é isso, temos que aproveitar, pois essa é a época que mais faturamos. Em janeiro o movimento piora", desabafou.