O relatório Carbon Majors, conforme divulgado pela prestigiada agência de notícias Reuters, revela um panorama alarmante sobre as emissões de dióxido de carbono entre 2016 e 2022. Cerca de 80% das emissões globais, que intensificam o aquecimento do planeta, são atribuídas a apenas 57 entidades, incluindo nações, empresas estatais e corporações privadas, focadas na produção de petróleo, gás, carvão e cimento.

Entre as principais responsáveis, destacam-se a gigante petrolífera Saudi Aramco, a produtora de gás russa Gazprom e a mineradora de carvão indiana Coal India. Notavelmente, a expansão da produção dessas empresas ocorreu mesmo após a assinatura do Acordo de Paris pela maioria dos países em 2015, comprometendo-se com a contenção das mudanças climáticas. Apesar de governos terem endurecido metas e incentivado a energia renovável, o aumento na produção e queima de combustíveis fósseis por essas corporações levou a um recorde de emissões energéticas globais no último ano, segundo a Agência Internacional de Energia.

19 instituições respondem por metade das emissões

A situação é ainda mais crítica ao considerar que mais de 70% das emissões desde a Revolução Industrial podem ser rastreadas até 78 entidades corporativas e estatais. Dentre estas, apenas 19 são responsáveis por metade das emissões. Este alerta, longe de ser uma novidade, ganha contornos cada vez mais preocupantes. A frequência de recordes de altas temperaturas e eventos climáticos extremos sugere um padrão emergente de desafios ambientais, ocorrendo em intervalos cada vez menores e com impactos potencialmente devastadores.

Nosso divórcio com a Terra

Citando, o livro “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, de Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo e recém empossado como imortal da Academia Brasileira de Letras, “quando despersonalizarmos o rio, a montanha, quando tirarmos deles os seus sentido, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberaremos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista. Do nosso divórcio das integrações e interações com a nossa mãe, a Terra, resulta que ela está nos deixando órfãos, não só aos que em diferentes graduações são chamados de índios, indígenas, ou povos indígenas, mas a todos nós”.

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.