Enquanto mais de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo, somente em 2022 a humanidade desperdiçou o equivalente a 1 bilhão de refeições por dia, de acordo com o estudo divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O estudo foi realizado em conjunto com a organização sem fins lucrativos WRAP, sendo o segundo relatório a abordar o desperdício global de alimentos. Contudo, apesar do cálculo em questão ser provisório, a quantidade de alimentos pode ser ainda maior e os gastos já ultrapassam US$1 trilhão de dólares, isto é, quase um quinto do que é produzido.

Apenas restaurantes, refeitórios e hotéis foram responsáveis por cerca de 28% do total desperdiçado muito em função do manuseio incorreto e da grande quantidade de alimentos perecíveis, isto é, além do fato de que as pessoas compram mais alimento do que necessariamente precisam, calculam mal o tamanho das porções e largam as sobras. Dessa forma, o desperdício foi capaz de produzir cinco vezes mais emissões de CO2 do que o setor de aviação.

Se o desperdício de alimentos fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa (CO2) do planeta, atrás dos Estados Unidos e China

O relatório ainda explica que muitos alimentos se perdem no transporte ou até mesmo estragam devido a problemas ou falta de refrigeração. Com isso, o desperdício ocupa 30% das terras destinadas ao uso agrícola. Terras que contribuem para a perda de habitat, a poluição dos recursos hídricos e o desmatamento. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) divulgou em 2022 também que seus voos comerciais geram aproximadamente seis milhões de toneladas de resíduos por ano, sendo que cerca de 20% são alimentos e bebidas lacradas. Assim, esses resíduos representam um prejuízo de US$4 bilhões de dólares.

A pergunta que fica é se seria possível alimentar todas as pessoas que passam fome no mundo apenas com a quantidade de comida que é desperdiçada a cada ano. E destaca-se que, esse desperdício não se associa a apenas países ricos, mas a todos os países ao redor do mundo, uma vez que é um problema que já está disseminado. Isto é, ainda mais em países quentes, afinal há uma maior geração de resíduos e um maior consumo de alimentos frescos.

 

A luta contra o desperdício faz parte da luta contra as mudanças climáticas

Portanto, caso continuemos por essa linha, não alcançaremos a meta 12.3 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que busca reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita. Para tanto, precisaremos buscar uma forma de minimizar essas perdas e aproveitar ao máximo tudo que está à disposição. Porque apesar do desperdício não afetar o bolso do consumidor e do mercado em geral, quanto maior for o seu volume maior serão as consequências.

Manter o controle do que é comprado e usado é essencial. Calcular suas porções de arroz, feijão e frango, e verificar a data de validade de determinado produto é uma forma de combater o desperdício e o impacto ambiental. A luta contra o desperdício faz ́ parte da luta contra as mudanças climáticas.

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.