Por Emily Victória

A polêmica concessão dos Parques Estaduais do ES: o caso de Itaúnas

A polêmica concessão dos parques do ES vem gerando discussões. Descubra o que isso realmente significa para a preservação ambiental e para a comunidade da pequena e pacata vila de itaúnas.

Parque Estadual de Itaúnas
Parque Estadual de Itaúnas

No início de janeiro de 2024, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) publicou a contratação da empresa Ernst & Young Global para estudar tanto as potencialidades quanto as fragilidades dos parques estaduais do Espírito Santo. O objetivo? Desenvolver um modelo de concessão que viabilize a exploração econômica do uso público, incluindo áreas de recreação e de visitação.

Mas será que isso significa a privatização dos nossos parques? A resposta é não. Os parques continuam sendo ativos permanentes do Governo do Estado. A concessão, nesse contexto, não é sinônimo de privatização, mas sim de uma transferência temporária do direito de usufruto de parte do parque. Isso permite que parceiros privados invistam e operem sobre certas áreas, enquanto o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) mantém a gestão integral das áreas não incluídas na concessão incluindo o papel de monitoramento e fiscalização atribuição.

O que prevê o projeto?

As áreas sujeitas à concessão são: Itaúnas em Conceição da Barra, Paulo César Vinha em Guarapari; Forno Grande e Mata das Flores, em Castelo; Pedra Azul, em Domingos Martins; e Cachoeira da Fumaça, entre Ibitirama e Alegre.

No Parque de Itaúnas, em especial, estão planejadas várias intervenções, incluindo um memorial da vila histórica, a criação de duas pousadas, cada uma com 15 quartos, um restaurante de apoio e uma piscina suspensa, um alojamento para os trabalhadores do Iema, um mirante próximo às dunas, cafés e lojas para os turistas, e até uma tirolesa ligando à praia. A proposta, entretanto, levanta um questionamento importante: essas mudanças fortalecerão o turismo sustentável e beneficiarão a comunidade ou transformarão Itaúnas em um destino comercializado, distante de sua essência?

O povo de Itaúnas

Em Itaúnas, as opiniões sobre a concessão do Parque Estadual estão divididas, principalmente devido à proximidade da vila com a unidade de conservação e ao desejo dos moradores de preservar seu modo de vida, já que muitos dependem diretamente do turismo local. Isto é, sem contar a possível descaracterização do destino e a gentrificação da vila. Ressalta-se que, a criação do parque, inclusive, teve como um de seus objetivos barrar a instalação de um hotel à beira das dunas, enquanto a concessão atual parece caminhar na direção oposta.

Porém, há quem defende a concessão, argumentando que o parque está abandonado e que precisa de investimentos e políticas públicas mais efetivas.  Dessa forma, a concessão tem sido defendida por aqueles que veem o projeto como uma oportunidade de revitalização e de aumento do potencial turístico da região. No entanto, a comunidade expressa o seu ressentimento quanto à chegada de empresas externas, temendo que a iniciativa favoreça apenas a exploração econômica, sem gerar benefícios concretos para os moradores locais. Diante desse cenário, fica a pergunta: o desenvolvimento é sustentável quando se exclui um dos elementos mais importantes dessa equação? A comunidade quer se desenvolver, mas sem abrir mão de sua identidade e do equilíbrio que faz de Itaúnas um lugar único.

Emilly Victória Silva e Souza

Estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental no Instituto Federal do Espírito Santo. Voluntária de verão no Parque Estadual de Itaúnas pelo Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação do IEMA 2025.

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.