No início de janeiro de 2024, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) publicou a contratação da empresa Ernst & Young Global para estudar tanto as potencialidades quanto as fragilidades dos parques estaduais do Espírito Santo. O objetivo? Desenvolver um modelo de concessão que viabilize a exploração econômica do uso público, incluindo áreas de recreação e de visitação.
Mas será que isso significa a privatização dos nossos parques? A resposta é não. Os parques continuam sendo ativos permanentes do Governo do Estado. A concessão, nesse contexto, não é sinônimo de privatização, mas sim de uma transferência temporária do direito de usufruto de parte do parque. Isso permite que parceiros privados invistam e operem sobre certas áreas, enquanto o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) mantém a gestão integral das áreas não incluídas na concessão incluindo o papel de monitoramento e fiscalização atribuição.
O que prevê o projeto?
As áreas sujeitas à concessão são: Itaúnas em Conceição da Barra, Paulo César Vinha em Guarapari; Forno Grande e Mata das Flores, em Castelo; Pedra Azul, em Domingos Martins; e Cachoeira da Fumaça, entre Ibitirama e Alegre.
No Parque de Itaúnas, em especial, estão planejadas várias intervenções, incluindo um memorial da vila histórica, a criação de duas pousadas, cada uma com 15 quartos, um restaurante de apoio e uma piscina suspensa, um alojamento para os trabalhadores do Iema, um mirante próximo às dunas, cafés e lojas para os turistas, e até uma tirolesa ligando à praia. A proposta, entretanto, levanta um questionamento importante: essas mudanças fortalecerão o turismo sustentável e beneficiarão a comunidade ou transformarão Itaúnas em um destino comercializado, distante de sua essência?
O povo de Itaúnas
Em Itaúnas, as opiniões sobre a concessão do Parque Estadual estão divididas, principalmente devido à proximidade da vila com a unidade de conservação e ao desejo dos moradores de preservar seu modo de vida, já que muitos dependem diretamente do turismo local. Isto é, sem contar a possível descaracterização do destino e a gentrificação da vila. Ressalta-se que, a criação do parque, inclusive, teve como um de seus objetivos barrar a instalação de um hotel à beira das dunas, enquanto a concessão atual parece caminhar na direção oposta.
Porém, há quem defende a concessão, argumentando que o parque está abandonado e que precisa de investimentos e políticas públicas mais efetivas. Dessa forma, a concessão tem sido defendida por aqueles que veem o projeto como uma oportunidade de revitalização e de aumento do potencial turístico da região. No entanto, a comunidade expressa o seu ressentimento quanto à chegada de empresas externas, temendo que a iniciativa favoreça apenas a exploração econômica, sem gerar benefícios concretos para os moradores locais. Diante desse cenário, fica a pergunta: o desenvolvimento é sustentável quando se exclui um dos elementos mais importantes dessa equação? A comunidade quer se desenvolver, mas sem abrir mão de sua identidade e do equilíbrio que faz de Itaúnas um lugar único.
Emilly Victória Silva e Souza
Estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental no Instituto Federal do Espírito Santo. Voluntária de verão no Parque Estadual de Itaúnas pelo Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação do IEMA 2025.