A sociedade civil desempenha um papel cada vez mais fundamental na promoção de práticas sustentáveis no mundo. Além da responsabilidade individual de cada cidadão com um consumo consciente, conforme destacado pelo Fórum Econômico Mundial, a conscientização ecológica tem impulsionado um maior apoio a negócios sustentáveis globalmente. Essa realidade já pode ser evidenciada por casos emblemáticos, como o da Amazon, a maior plataforma de comércio eletrônico do mundo, com faturamento superior a U$554 bilhões em 2023.
Antes de 2019, a Amazon defendia que suas operações eram ambientalmente responsáveis devido à simples natureza do comércio eletrônico, argumentando que era mais sustentável do que os modelos tradicionais de varejo, por causa da eficiência logística e ao uso otimizado de recursos. E, se fazendo dessa abordagem, não incluía metas específicas de redução de emissões de carbono ou compromissos concretos relacionados à sustentabilidade ambiental.
A mudança começou com a ação de um grupo de funcionários chamado “Amazon Employees for Climate Justice” (Empregados da Amazon por Justiça Climática). Este grupo, que reuniu cerca de 8.200 assinaturas em uma carta, organizou uma caminhada em setembro de 2019 para apoiar a Greve Global pelo Clima, destacando a urgência de ações climáticas mais efetivas por parte da Amazon.
A pressão social
Os colaboradores da Amazon pressionaram por metas específicas, incluindo a eliminação das emissões de carbono até 2030, e um fim ao fornecimento de tecnologias para empresas de petróleo e gás. Um dos espaços de maior repercussão foi no “Washington Post”, onde afirmaram que a empresa lucrava com negócios que contribuiam para a crise climática. Dois funcionários foram advertidos pelo jurídico da empresa por violarem a política de comunicação da empresa ao falar com a mídia sem aprovação.
A situação gerou mais discussões sobre a liberdade dos funcionários em expressar preocupações relacionadas ao clima e as práticas ambientais da Amazon, que passou a ser acusada também de retaliação corporativa. A crítica aumentou, destacando a tensão entre os objetivos corporativos e a responsabilidade ambiental. A gigante do comércio eletrônico ficou no centro de uma crise de imagem sem precedentes na sua história, bombardeada pela opinião pública.
A resposta
Essa pressão culminou em uma conferência de imprensa em Washington, D.C. (EUA), onde o CEO Jeff Bezos declarou compromissos e metas ambiciosas para a redução de emissões de gases de efeito estufa, e a neutralidade de carbono em todas as suas operações nos próximos 21 anos. Um site de sustentabilidade foi lançado para trazer transparência às suas ações.
Bezos ainda anunciou a criação do “Climate Pledge”, em parceria com a ex-chefe do clima da ONU, Christiana Figueres. Desde então, a empresa anunciou compromissos significativos, incluindo um investimento de U$10 milhões no “Right Now Climate Fund” para conservação florestal e soluções baseadas na natureza. Inicialmente, três empresas globais – Verizon, Reckitt Benckiser (RB) e Infosys – se juntaram ao compromisso, mas até 2023, o Pledge já tinha atraído 458 signatários de todo o mundo, cada um desempenhando um papel no estímulo a investimentos no desenvolvimento de produtos e serviços de baixo carbono.
O compromisso do Pledge é atingir a neutralidade de carbono até 2040, antecipando em dez anos a meta do Acordo de Paris, e, para tanto, a Amazon já investiu mais de U$2 bilhões no desenvolvimento de de tecnologias sustentáveis. De lá para cá, foram registrados avanços significativos nas iniciativas de sustentabilidade, como o consumo de 90% de sua eletricidade de fontes renováveis em 2022, com o objetivo de alcançar 100% até 2025.
A Amazon também encomendou 100.000 veículos elétricos de entrega da Rivian, com planos de colocar todos 100.000 na estrada até 2030, reduzindo milhões de toneladas métricas de emissões de carbono por ano. A empresa implementou 15 fazendas de energia eólica e solar internacionalmente e instalou mais de 50 telhados solares em centros de atendimento e classificação em todo o mundo.
Além disso, reduziu o peso da embalagem por remessa em 41% desde 2015 e doou mais de 80 milhões de refeições a bancos de alimentos nos EUA e na Europa em 2022, e mobilizou U$1 bilhão para proteger florestas tropicais através da Coalizão LEAF e contribuiu com U$10 milhões para lançar o Water.org Water & Climate Fund.
O caso se tornou um exemplo de como ações coletivas e consciência ambiental são forças poderosas na construção de um futuro sustentável. Uma história que prova como cada um de nós é peça estratégica neste quebra-cabeça da sobrevivência do planeta.
Daniela Klein
Comunicóloga especializada em meio ambiente e com pós-graduação em gestão de energia, marketing e MBA em Gerenciamento de Crises. Ampla experiência em comunicação ambiental, sustentabilidade e gestão de imagem.
Desenvolve Relatórios de Sustentabilidade em padrões globais (certificada GRI e BID) e atende demandas de ESG. Com mais de 20 anos de carreira, já atuou em redações, assessorias públicas e privadas. Fundadora e CEO da KICk, empresa focada em comunicação socioambiental e branding.