Na gelada Noruega, terra dos Vikings e dos fiordes, a mil quilômetros do Polo Norte, fica o banco mundial de sementes inaugurado em 2008, o Svalbard Global Seed Vault (Silo Global de Sementes de Svalbard) ou também chamado “cofre do apocalipse” e “plano B da humanidade”.

Atualmente, estão armazenadas mais de 1,2 milhões de amostras de sementes vindas de todas as partes do mundo. No entanto, o local tem a capacidade de armazenar 4,5 milhões de variedades de culturas, onde cada pacote possui, em média, cerca de 500 sementes.

Mas qual seria sua finalidade? O objetivo, basicamente, é guardar toda essa coleção no intuito de garantir a base do nosso futuro alimentar e de evitar a perda do patrimônio botânico do mundo, sendo, portanto, uma reserva que garante a diversidade genética das culturas.

Dessa forma, quase tudo que plantamos e colhemos está lá. O local, inclusive, já foi cenário da série “Noite Adentro”, da Netflix em 2020, quando um grupo, diante de uma catástrofe mundial, viaja até a Noruega na expectativa de encontrar comida. A construção chamou atenção justamente devido a sua arquitetura imponente com ar futurista e jeitão de bunker, tudo no meio do gelo.

Desastres, guerras e mudanças climáticas

Desastres e guerras são algumas das preocupações que justificam a criação do banco, porém, não são as únicas. Afinal, as mudanças climáticas vão exigir que as plantas se adaptem a mudanças extremas de temperatura e com a falta ou excesso de chuvas. Sem contar, a preocupação relativa ao armazenamento adequado e correto, algo que nem sempre pode ser feito pelo país de origem das sementes. 

Dessa forma, estas são guardadas, lacradas e armazenadas em embalagens personalizadas com três camadas. Os baixos níveis de temperatura e umidade do armazém garante não só a baixa atividade metabólica, como mantém as sementes viáveis por longos períodos. O trigo, por exemplo, pode ficar fértil por mais de mil anos, já o alface não dura mais de 50 anos.

Ninguém é dono do local

Hoje, quem gere o local é o Ministério da Agricultura e Alimentação norueguês, juntamente com o banco genético regional NordGen e o Crop Trust. Nenhuma nação precisa pagar para manter as sementes armazenadas, assim como o consenso é que ninguém é oficialmente dono do local. Vale destacar que, o depositante ainda sim é proprietário das sementes que armazena, sendo o único que pode retirá-las. 

O banco, até mesmo, já provou sua utilidade há alguns anos, quando um grupo de pesquisadores do Centro Internacional de Pesquisa Agrícola em Áreas Secas de Aleppo, na Síria, solicitou a coleta de suas amostras, uma vez que o Instituto Aleppo havia sido ocupado e destruído. Assim, os mesmos conseguiram repor sua herança de sementes para realização das pesquisas.

Mas porque o armazém foi construído lá? Apesar de remoto, é acessível. Sem contar que, é geologicamente estável, está acima do nível do mar, portanto protegido de inundações oceânicas, e é a prova de desastres como terremotos e inundações. Além disso, não há nenhum conflito diplomático, uma vez que as sementes da Rússia se encontram bem ao lado das da Ucrânia, por exemplo.

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.