Promover o desenvolvimento econômico sem exaurir os recursos naturais nem comprometer a justiça social é um desafio complexo, pois exige que as empresas busquem soluções diferentes, que desafiam o modelo produtivo atual. Não há como resolver problemas complicados a partir de respostas simples, por isso a sustentabilidade anda de mãos dadas com a inovação, que tem sido uma importante parceira na construção de uma terceira via, aquela que não exige trade offs.
Como lidar com as mais de 400 milhões de toneladas de plásticos produzidas atualmente no mundo, das quais 350 milhões delas viram resíduos, segundo pesquisa do Credit Suisse? Com iniciativas como a desenvolvida pela Sulapac, que lançou uma alternativa a este material que é biodegradável, reciclável e compostável, não gera microplásticos e tem pegada de carbono reduzida, fabricada a partir de insumos naturais como restos de madeira.
Como resolver dores do setor têxtil, como baixa utilização de materiais reciclados e adição de produtos químicos e corantes nas fibras, processo altamente poluente? A marca esportiva Infinite Athletic reaproveita materiais como fios de raquetes ou fibras de bolas de tênis para fabricar roupas e calçados para praticantes deste esporte, de forma que os resíduos das práticas retornem aos seus adeptos.
Plataformas unem agentes
Como evitar que o uso de agrotóxicos ameace a vida das abelhas, importantes agentes de polinização, responsáveis por este processo em mais de 90% das plantas nativas e 75% das lavouras? A GeoApis criou uma plataforma de georreferenciamento que faz o diagnóstico dos territórios onde situam-se lavouras e colmeias. Dessa forma, quando um produtor faz algum manejo com produtos químicos, um alerta é emitido a apiários do entorno, a tempo de proteger as abelhas.
Como oferecer crédito a populações vulneráveis, que não podem atender aos requisitos das garantias e exigências das instituições financeiras tradicionais? O Grameen Bank, na Índia, inspirou o conceito de economia social, em que os solicitantes, divididos em grupos, formam uma rede de apoio para que aqueles que recebem o empréstimo primeiro o devolvam, sob o risco de comprometer que os demais tenham acesso ao benefício.
Como garantir que moradores de favelas consigam adquirir bens pela internet, quando sua classificação como residentes em região de risco, por empresas de entrega, os mantêm à margem de tal benefício? Envolvendo os próprios habitantes destes territórios, que são responsáveis pelas entregas, o que ainda contribui para gerar emprego e renda. Foi isso que fez a start up naPorta, aproveitando o conhecimento logístico das regiões, vielas, ruas e becos para garantir a efetividade da operação.
Problemas são drivers das soluções
São muitos os casos que mostram que onde há um problema, há uma solução a ser desenvolvida. É nessas oportunidades que a inovação demonstra que não só tecnologias emergentes, mas também uma visão diversa sobre a questão, são decisivas para mudar a realidade local. E problemas não faltam no mundo.
Crises climáticas? A inteligência artificial (IA) vem sendo treinada para medir as mudanças em curso de forma dez mil vezes mais rápida do que um ser humano seria capaz de fazê-lo. Desmatamento? A IA pode usar imagens de satélite e conhecimentos de ecologia para mapear seu impacto. Inclusão? Já há ferramentas capazes de criar soluções de design para atender a pessoas com deficiência e diferentes habilidades cognitivas, com interfaces mais acessíveis e tecnologias assistivas.
Há uma gama de problemas e situações que imploram por melhorias, à espera de empreendedores e visionários dispostos a transformar dor em novos negócios, que apresentem soluções inovadoras, permitam a inclusão, melhorem a realidade local e, claro, gerem lucro. Afinal, não seria inovação se não perseguisse uma terceira via, em que não há espaço para trade-offs nem a exigência da escolha entre desenvolvimento e inovação. Sustentabilidade exige união.
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