Na COP21 em 2015, por meio do Acordo de Paris, os países do globo concordaram em limitar (até 2050) o aumento da temperatura global em 1,5º C comparado ao período pré-industrial. Para alcançar essa façanha, será necessário capturar e remover 7 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa (GEE) até a metade do século.
Esse desafio deve ser perseguido com unhas e dentes, pois o não alcançar significa que teremos condições climáticas mais extremas, incluindo calor e chuvas intensas, derretimento do gelo, aumento do nível do mar, aquecimento e acidificação dos oceanos. Os custos socioeconômicos e ambientais aumentarão muito.
Anos de esforços e as emissões continuam a subir, e agora?
As emissões globais de GEE (Gases do Efeito Estufa) equivalem a 54 bilhões de toneladas de CO2e (dióxido de carbono equivalente). A China é o maior emissor contribuindo com aproximadamente 29% das emissões globais em 2022. Em segundo lugar está os Estados Unidos com cerca de 16%, seguido da Índia com 7%. O Brasil responde por 2,8% das emissões globais.
O principal objetivo para 2030 é reduzir significativamente as emissões globais de GEE. Muitos países se comprometeram com metas específicas que envolvem a transição para fontes de energia renovável, eficiência energética e opções de transporte mais limpas. O Brasil, por exemplo, assumiu o compromisso de reduzir suas emissões em 43% em relação aos níveis de 2005.
Para 2050, o principal objetivo é atingir o net zero de GEE. Isso significa que a quantidade de GEE emitidos na atmosfera é equilibrada pela quantidade removida ou compensada, efetivamente interrompendo o aumento do aquecimento global. A COP28 (em Dubai) inicia hoje e uma das questões que pairam no ar é: Quão longe estamos das metas assumidas no Acordo de Paris?
Durante a pandemia em 2020 e 2021 enfrentamos uma leve redução das emissões globais de GEE em função da diminuição das atividades econômicas no período de lockdown. Em 2022, segundo o novo boletim da Organização Meteorológica Mundial (OMM, 2023), as concentrações médias globais de dióxido de carbono (CO₂), estavam, pela primeira vez, 50% acima da era pré-industrial. Elas continuaram a crescer em 2023.
A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO₂ foi há 3-5 milhões de anos, quando a temperatura era 2-3°C mais quente e o nível do mar era 10-20 metros mais alto do que agora. O relatório da SIEMENS, lançado em setembro de 2023, aponta que menos de 50% das organizações globais alcançarão seus objetivos de descarbonização. A pesquisa foi realizada com mais de 1.400 executivos de 22 países. 50% dos entrevistados acreditam que a descarbonização é uma vantagem competitiva, mas menos da metade acredita que o seu país e suas empresas têm uma estratégia efetiva para descarbonização.
Estamos no caminho certo?
Apesar dos esforços imputados, os resultados até aqui alcançados apontam um descolamento das metas de reduções assumidas pelos países no Acordo de Paris, ou seja, estamos caminhando na direção contrária apesar de décadas de alerta da comunidade científica, dezenas de conferências do clima e milhares de páginas de relatórios com projeções alarmantes.
Como será que a COP28 poderá contribuir para que possamos colocar o trem nos trilhos e seguir rumo a um planeta net zero?
Israel Pestana Soares
Mestre em Eng. Ambiental e Doutorando em Ciências Atmosféricas pela USP. Especialista em Mudanças Climáticas com foco em créditos de carbono na GreenWay. Possui mais de 15 anos de experiência no mercado ambiental para grandes indústrias do Brasil, EUA, Europa e China