Desde a década de 1970, a Braskem tem sido alertada quanto aos riscos de rompimento das minas de sal-gema em Maceió. E no dia 10 de dezembro, o pior aconteceu, uma das minas da empresa rompeu na lagoa de Mundaú, no bairro de Mutange, em Maceió/AL, originando assim, o maior desastre socioambiental em solo urbano do Brasil. A mina em questão já estava desocupada, por isso não houve vítimas no momento do desastre.

Mas o que as empresas podem aprender do ponto de vista do meio ambiente, social e governança com o caso Braskem?

ES tem a maior jazida de Sal Gema da América Latina

O sal gema é um mineral utilizado na indústria química na produção de soda cáustica, ácido clorídrico, bicarbonato de sódio, sabão, detergente e pasta de dente. Ele se localiza no subsolo da terra e é retirado por uma perfuração subterrânea, diferente do sal marinho, normalmente utilizado na culinária, que está na superfície da terra e é extraído a partir da evaporação da água do mar.

O curioso é que o Espírito Santo é o local com a maior jazida de sal gema em toda a América Latina com volume estimado em 20 bilhões de toneladas o que traz um alerta à população do estado. Em 2021 o Ministério Público Federal barrou um leilão feito pela Agência Nacional de Mineração no estado após constatada interferência em territórios quilombolas.

Do ponto de vista ambiental, a extração de sal gema, se feita sem critérios, pode levar aos problemas enfrentados hoje em Maceió como afundamento do solo, tremores de terra e contaminação da água. Mas esse risco é pequeno comparado aos problemas sociais e de governança que as empresas que exploram essas jazidas podem ter.

Quem não gerencia risco, gerencia crise

O exemplo clássico vem de Maceió, onde a empresa Braskem, após ignorar todos os sinais possíveis por anos, hoje enfrenta uma crise de imagem e de reputação que fez com que suas ações despencassem em apenas alguns dias. Tem uma máxima que diz que, quem não gerencia risco, gerencia crise. E é exatamente isso que a empresa vem fazendo, gerenciando uma crise sem precedentes em sua já desgastada imagem.

Em relação a governança corporativa, a empresa tem uma das diretorias e conselhos mais bem remunerados mesmo em meio aos escândalos recentes. Em 2022 mesmo registrando prejuízo milionário, a empresa pagou à 17 executivos do alto escalão R$ 60 milhões e planeja aumentar esse ano, tanto a remuneração aos executivos quanto o prejuízo, estimado em R$ 3 bilhões. Nenhum desses executivos veio a público até hoje assumir qualquer responsabilidade pelos problemas causados por sua operação tratando-os como incidentes geológicos.

Mas o pior mesmo sem dúvidas vem da parte social. Os problemas gerados desde 2018, quando houve o primeiro grande incidente nas minas operadas pela Braskem, provocando rachadura de ruas e casas. No ano seguinte, o Serviço Geológico Brasileiro atestou que os problemas eram originários da operação das minas de sal gema e recomendou a desocupação de mais de 14 mil casas em cinco bairros de Maceió onde moravam 55 mil pessoas, devido aos riscos causados pela instabilidade do solo. Hoje esses bairros parecem cidades fantasmas.

A empresa que nunca se preocupou em proteger as comunidades do entorno de sua operação, o meio ambiente e nem sequer seus negócios, agora tem que gerenciar uma crise que vem testando a capacidade operacional da empresa. Hoje a empresa vale menos do que as indenizações pagas às famílias afetadas.

E a cereja do bolo: a Braskem era listada no Índice de Sustentabilidade Empresarial da bolsa de valores (ISE B3) como como exemplo de empresa no quesito ESG e sustentabilidade. Foi excluída em 05 de dezembro após o colapso da mina.

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.