Foto: Nothing Ahead
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Mantendo a tendência atual, novamente o mundo verá o mesmo final de um filme já conhecido antes. E este final não é feliz. No ano 2000, 191 países se uniram em torno dos Objetivos do Milênio (ODM), que somavam oito metas a serem atingidas até 2015, que iam desde acabar com a fome e a miséria até garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, passando por temas como igualdade, mortalidade infantil e saúde das gestantes.

Houve avanços, como a redução de pessoas que viviam em extrema pobreza, que passou de 1,9 bilhão em 1990 para 836 milhões em 2015. Mas o progresso foi desigual entre regiões e países, e conflitos e desafios persistem, ainda que a pauta tenha, definitivamente, entrado no radar da sociedade.

Tanto que o compromisso global foi renovado por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que cresceram (são 17) e incorporaram novos desafios e metas. O mundo pactuou atingir, até 2030, 169 metas que se desdobram destes objetivos, caso queira viver em um cenário em que meio ambiente preservado e a  justiça social seja uma realidade, e não um propósito.

No entanto, nove anos após este compromisso, a ONU (Organização das Nações Unidas, que lidera a Agenda 2030 alertou que o mundo não está cumprindo os ODS. Ainda que faltem seis anos para o fim do prazo, o atingimento das metas está aquém do esperado e, mantida esta tendência, levará a sociedade novamente à situação de não alcançá-los. Faltam investimentos maciços e ações em escala, segundo a entidade.

O cenário é desafiador

Com apenas 17% das metas em curso correto para serem cumpridas, sendo que quase 50% delas apresenta progresso mínimo e mais de um terço está estagnada ou regredindo, o cenário revela-se desafiador. Mais 23 milhões de pessoas foram levadas para a situação de pobreza extrema e mais de 100 milhões passavam fome em 2022, se comparado com o ano de 2019. A pandemia da Covid, as tensões geopolíticas e a crise climática tornaram o ambiente mais complexo e o atingimento das metas mais difícil.

Foto: Karolina Grabowska

A cooperação é a chave para avançar com esta pauta. Não à toa, o ODS 17 é considerado por muitos especialistas como o mais importante. Intitulado “Parcerias e Meios de Implementação”, reconhece que sem união entre nações e segmentos não será possível aferir conquistas. Segundo a ONU, três frentes precisam  de esforços para que se possa recuperar os índices: financiamento de US$ 4 trilhões ao ano para o desenvolvimento, a fim de auxiliar os países que necessitam de recursos; paz e segurança, para lidar com a morte de civis, o deslocamento de refugiados e a escalada da violência; e aceleração da implementação da Agenda 2030.

Os objetivos são conhecidos, e as metas oferecem um importante mapa na jornada para a sua implementação. O que falta é vontade política e prioridade financeira. Ambas poderiam ser alcançadas a partir do senso de urgência que nasce do reconhecimento de que este é o único caminho para um futuro comum. Enquanto reinar a desconfiança sobre os indicadores ou a apatia sobre a situação atual, a roda que move o mundo o fará na direção de manutenção de privilégios, mesmo que isso ocorra às custas da vida humana. Como falou o sub-secretário geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Li Junhua:

“o tempo das palavras já passou. Precisamos agir agora e com ousadia.” – Li Junhua

Meta: sensibilizar para mudar

Tanto os Objetivos do Milênio como os de Desenvolvimento Sustentável têm um importante papel de sensibilizar e mobilizar nações, empresas, entidades e população em torno de metas urgentes, que não podem ser resolvidas sem um esforço coletivo. Mas esse não é o único papel da Agenda 2030.

Foto: Fauxels

Ações têm que sair do papel para mudar uma realidade em que 55% dos países não possuem leis para coibir a discriminação contra mulheres, o progresso da educação não é suficiente para melhorar o desempenho de 58% dos estudantes que não atingem a proficiência mínima de leitura ao final do ensino fundamental, onde 60% dos países de baixa renda estão sob alto risco de endividamento ou temperaturas recordes dos oceanos provocam um evento global de branqueamento de corais.

O dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière, dizia:

“é comprida a estrada que vai desde a intenção até a execução” – Molière.

O ano de 2030 está logo ali. Que a humanidade possa construir atalhos que a levem em direção a uma realidade mais equânime e próspera, a partir da  união de esforços.

Felipe Mello

Colunista

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.