Os encantos e belezas de Dunas de Itaúnas

A vila de Itaúnas, com suas riquezas culturais e folclóricas, é um verdadeiro relicário da história capixaba, guardando um dos mais importantes acervos arqueológicos nas icônicas Dunas de Areia. O nome, de origem tupi-guarani, significa “pedra preta”, em referência às rochas escuras que repousam no fundo do rio Itaúnas, ecoando a sua ancestralidade.

O povoado de Itaúnas abriga uma cultura singular e uma beleza cênica de tirar o fôlego. Porém, o que hoje encanta os visitantes têm raízes em uma história de perdas ambientais e sociais. 

Entre as décadas de 1950 e 1970, o desmatamento desenfreado da vegetação de mata atlântica litorânea na região, que antes protegia a vila entre o rio e o mar, desencadeou um processo de erosão severo. As areias, até então contidas, avançaram sobre a antiga vila, sepultando-a por completo e privando a comunidade de visitar seus marcos históricos e os túmulos de seus antepassados.

A resistência de Tamandaré

Foto: Felipe Mello

Mitos e lendas também permeiam o imaginário local, oferecendo explicações para o soterramento da antiga vila. Um dos contos mais populares narra que o fenômeno ocorreu após um padre ser expulso da cidade por desentendimentos com a comunidade, amaldiçoando o lugar.

Outra versão menciona a excomunhão da vila pelo mesmo padre devido à preferência dos moradores pelos ritos africanos. Essas narrativas, ricas em simbolismo, seguem alimentando a memória e identidade local, reforçando a conexão entre o passado e o presente de Itaúnas.

Os registros da tragédia apontam um detalhe singular: apenas um morador resistiu ao avanço das areias. “Seu Tamandaré”, como era conhecido, sobreviveu sem que sua casa fosse soterrada porque manteve intacta a vegetação ao redor de sua propriedade. Essa decisão, aparentemente simples, revelou-se crucial para a proteção de sua moradia, enquanto a maioria dos habitantes enfrentou a perda não apenas de suas casas, mas também de memórias e do vínculo profundo com o território original.

Em tempos de mudanças climáticas, a história de Itaúnas nos lembra que respeitar a natureza é mais do que uma escolha ética: é uma estratégia de sobrevivência. “Seu Tamandaré” não só protegeu sua casa, mas nos deixou um legado sobre como coexistir de forma sustentável com o território que habitamos.

Dunas de Itaúnas: cartão-postal do Espírito Santo

Hoje, a nova Vila de Itaúnas ressurge próxima ao rio Itaúnas, sendo lar de uma comunidade resiliente, composta majoritariamente por agricultores e pescadores. Localizada a cerca de 270 km da capital Vitória e pertencente ao município de Conceição da Barra, a vila é símbolo de resistência e renascimento. As cicatrizes do passado, no entanto, alertam sobre a importância da conservação ambiental.

Foto: Arquivo Folha Vitória

A transformação do cenário, ironicamente, impulsionou o turismo na região. As imponentes Dunas de Areia se tornaram um dos principais cartões-postais do Espírito Santo, atraindo visitantes em busca de sua beleza singular. Mas Itaúnas não é feita apenas de paisagens.

É também um polo cultural vibrante, conhecido como a capital nacional do forró, celebrando anualmente o Festival Nacional de Forró de Itaúnas. Além disso, manifestações como o ticumbi, o jongo, o reis bois e a capoeira mantêm vivas as tradições ancestrais.

Emily Victória Silva e Souza

Estudante de Engenharia Sanitária e Ambiental no Instituto Federal do Espírito Santo. Voluntária de verão no Parque Estadual de Itaúnas pelo Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação do IEMA em 2025.

Felipe Mello

Colunista

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.