Um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) publicou na revista científica norte-americana One Earth, em janeiro, um estudo quanto às técnicas de reflorestamento que resultariam em um aumento da produtividade das produções de café. O estudo afirma que a restauração ecológica é vital para reverter a perda de biodiversidade e as alterações climáticas, mas que também enfrenta diversos desafios relacionados aos custos. Assim, foram desenvolvidos 8 cenários de possíveis restaurações e estimativas para compreensão da forma como a restauração dessas paisagens pode proporcionar maior rendimento das colheitas.
Para tanto, a pesquisa usou como base a Mata Atlântica, hotspot brasileiro, para comprovação de que a ação atrairia abelhas polinizadores capazes de acrescentar de 10% a 30% na produção de café. Com isso, ficou determinado que os gastos relativos à restauração seriam compensados ao longo de 20 anos pelos benefícios dos serviços ecossistêmicos. Com potencial de venda de créditos de carbono provenientes da área, o produtor passaria a ter uma maior rentabilidade com a restauração das áreas degradadas. Ressalta-se que, em todos os cenários foi concluído que a restauração traria de fato lucro.
Resultados otimistas e alinhados com a Lei de Proteção da Vegetação Nativa
Além disso, outros biomas como o Cerrado e a Amazônia também podem ter sucesso com o mesmo modelo de restauração. Os resultados são otimistas e animadores por serem um complemento à Lei de Proteção da Vegetação Nativa, que orienta e impõe que todas as áreas rurais que estejam dentro da Mata Atlântica devem ter no mínimo 20% da vegetação nativa conservada ou restaurada. O estudo, ainda é assinado por Francisco d’Albertas, doutor em Ecologia pela USP, Gerd Sparovek, coordenador do Geolab da USP, Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, Camila Hohlenwerger, doutora em Ecologia pela USP e Jean-Paul Metzger, professor do departamento de Ecologia da USP.
Com isso, é possível ajudar a combater as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade em biomas mais devastados do território brasileiro. Mas é necessário o apoio de todos os setores, especialmente do agronegócio, para que assim possamos atender aos compromissos do Acordo de Paris.
Década da Restauração de Ecossistemas
O Brasil lidera o ranking de maior produtor de café do mundo, com uma longa tradição e podemos iniciar cada vez mais negócios que tragam resultados positivos para o ambiente e para a sociedade. Um negócio precisa ser eficiente não apenas em termos econômicos, mas precisa ter uma relação intrínseca entre a inovação e a sustentabilidade. Se podemos aliar as duas coisas por meios de técnicas como as citadas no estudo, por que não fazer?
A Organização das Nações Unidas designou o período de 2021 a 2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas, afinal quanto mais saudáveis forem nossos ecossistemas, mais saudável será o planeta. A década, portanto, busca interromper e reverter a degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos. Inclusive, o prazo final da Década coincide com o prazo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, já que é o mesmo delimitado como nossa última chance de evitar os eventos climáticos extremos.