Nos últimos anos, a pressão por transparência e responsabilidade das organizações em relação à agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) tem aumentado significativamente. Essa demanda tem levado muitas empresas a produzirem relatórios de sustentabilidade como forma de demonstrar seu compromisso com práticas éticas e sustentáveis. No entanto, o risco de “washing” — seja greenwashing, social washing, ou qualquer outro — surge quando as organizações se apressam em divulgar iniciativas sem antes estabelecer uma gestão sólida dos aspectos ESG. Publicar relatórios sem uma base concreta de gestão não só compromete a credibilidade da empresa, mas também expõe os riscos que poderiam ser evitados por uma estratégia bem estruturada.
Uma rota para um relatório consistente
Um caminho para minimizar esses riscos foi estabelecido pela Prática Recomendada PR2030, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que apresenta uma rota orientativa para que as organizações possam estruturar adequadamente sua gestão ESG. Esse guia enfatiza a importância de um planejamento meticuloso, com etapas claras e objetivos mensuráveis. Apenas com uma gestão efetiva é possível garantir que as ações comunicadas em relatórios de sustentabilidade correspondam à realidade da empresa, evitando assim o “washing” e, mais importante, estabelecendo um compromisso genuíno com a sustentabilidade.
Nesse sentido, é fundamental que as organizações desenvolvam uma estrutura robusta de planejamento e implementação dos aspectos ESG. Isso inclui a análise de materialidade, que visa identificar e priorizar os temas mais relevantes para a organização e seus stakeholders (partes interessadas). A materialidade não deve ser vista como um simples checklist, mas sim, como uma ferramenta estratégica que orienta a empresa sobre onde concentrar seus esforços e recursos, garantindo que os aspectos mais críticos sejam gerenciados de forma eficaz.
Talk the walk – só fale daquilo que faz com consistência
A comunicação e o relato de iniciativas ESG, portanto, só devem ocorrer após um trabalho sólido de planejamento e implantação. Relatórios de sustentabilidade são, em última instância, uma extensão da gestão interna da empresa. Se não houver substância por trás das ações relatadas, o documento se torna vazio e potencialmente prejudicial à reputação da organização. Um relato bem-sucedido é aquele que reflete um processo consistente de gestão, no qual as informações comunicadas são sustentadas por dados concretos e resultados tangíveis.
Concluindo, as organizações que insistem em “passar o carro à frente dos bois” ao divulgarem relatórios de sustentabilidade sem uma gestão estruturada e efetiva, arriscam não apenas sua reputação, mas também a confiança de seus stakeholders (partes interessadas). Para evitar o “washing” e garantir que os relatórios realmente reflitam o compromisso da empresa com a agenda ESG, é imperativo que a gestão anteceda a comunicação. O respeito a essa lógica é o que diferencia empresas verdadeiramente comprometidas com a sustentabilidade daquelas que apenas buscam a aparência de responsabilidade.
Paulo Cezar de Siqueira Silva
CEO da Irradiare Consultoria em Sustentabilidade, membro da CEE256 – ESG da ABNT e do Conselho de Responsabilidade Social da FINDES e líder do Comitê Qualificado de Conteúdo de ESG do IBEF-ES.