Calor. Esta, certamente, é uma das palavras mais ouvidas em 2025. Sob o efeito de altas
temperaturas, as pessoas reclamam das condições adversas que o calor tem sobre seu bem-
estar e saúde. O que poucas pessoas fazem, seja por desconhecimento, seja por descrença, é
entender o motivo pelo qual a humanidade vem experimentando cada vez mais períodos mais quentes.
Desde 1988, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em
inglês), órgão das Nações Unidas, lança relatórios com estudos científicos sobre o tema,
demonstrando o movimento da natureza e o aumento de temperatura no mundo. Estudos como esse motivaram importantes acordos internacionais, como o tratado climático de Paris de 2015, com iniciativas voltadas para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
Dez anos depois, sabe-se que as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar e
as metas do Acordo não podem ser atingidas. Somente em 2022, as emissões globais
aumentaram 1,2%, atingindo um novo recorde; a ONU mostra que o mundo caminha para um aumento de temperatura de 2,5º a 2,9º, acima dos níveis pré-industriais. Projeções do Climate Change Knowledge Portal indicam que as temperaturas médias, no Brasil, podem subir de 1,7º a 5,3ºC até o final do século.
Conhecer os riscos para mitigar danos
Embora não tenhamos atingido os objetivos internacionais, não se pode ignorar que ainda há uma janela de oportunidade para mitigar consequências mais graves: afinal, um clima 2,0ºC mais quente é mais hostil que um 1,5ºC mais quente. É preciso atuar para lidar com chuvas mais concentradas e em períodos menos regulares, enchentes, deslizamentos de terra e secas severas.
Projetos de infraestrutura, comuns nos setores rodoviários já incorporam riscos associados à mudança do clima em suas análises socioeconômicas, adotando, inclusive, o conceito de resiliência para lidar com as ameaças advindas do risco climático, a fim de reconhecer as interações dinâmicas entre tais ameaças com a exposição e vulnerabilidade do sistema humano ou ecológico afetado aos perigos.
Assim, abraça-se os caminhos de desenvolvimento resilientes ao clima (Climate Resilient
Development Pathways, ou CRD), incorporando medidas de mitigação na fase de definição de projetos de infraestrutura, considerando fatores ecológicos e de engenharia. No Espírito Santo, a concessionária Eco101, empresa que administra o trecho capixaba da BR101, elaborou o Estudo de Vulnerabilidade dos Riscos Climáticos da BR-101 ES/BA, recentemente
apresentado ao Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente (Caoa) do
Ministério Público do Espírito Santo.
O que o documento apontou
O documento reúne as ameaças climáticas e seus impactos, com base nos cenários de
mudanças na temperatura global apresentados nos relatórios do IPCC, bem como as possíveis consequências para a infraestrutura da BR-101 e para as comunidades que dependem da rodovia.
Foram mapeados impactos biofísicos como alagamentos, inundações, erosão, assoreamento, saturação de terrenos naturais e comprometimento das bacias hidrográficas. A partir da identificação de riscos, probabilidades e vulnerabilidades, desenvolvemos uma matriz de riscos climáticos e estamos implementando um Plano de Adaptação Climática.
Este plano visa criar rodovias resilientes, abrangendo projetos de engenharia, obras de arte,
melhorias em sistemas de drenagem, monitoramento de taludes e a adoção de tecnologias
sustentáveis. Dessa forma, as iniciativas delineadas no Plano permitirão moderar ou mitigar danos potenciais, bem como aproveitar oportunidades benéficas decorrentes de eventos
climáticos reais. Devido à sua importância, o assunto clima tem que estar na agenda de entes governamentais, empresas privadas, organizações do terceiro setor e sociedade civil.
Thiago Cardoso é Coordenador de Sustentabilidade da Eco101.