Desde que tive o primeiro contato com os conceitos do ESG (ou ASG), talvez por minha formação acadêmica, me remeteu muito ao conceito de sustentabilidade guardando semelhança com o seu conhecido tripé ambiental, social e econômico. Ouvimos muito que as forças desse triângulo devem estar equidistantes, que há de haver interconexão natureza-sociedade-economia ou que devemos agir ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente justo.

O conceito trazia o ambiental e o social, mas algo ali não encaixava perfeitamente na caixinha do econômico. O G (governança), uma letrinha que trazia um conceito tão diferente quanto instigante. Será então que governança era o que faltava no tripé da sustentabilidade para que de fato se consiga implementar o tão sonhado desenvolvimento sustentável? Ou será que por meio dela, o pilar econômico da sustentabilidade foi alçado ao patamar de impulsionador da implementação de políticas mais responsáveis?

Negócio com propósito

Tudo isso passa por uma questão moral que o mundo começou a discutir. O propósito nunca ficou tão importante dentro das companhias, seu legado e contribuição para o mundo. E essa mudança de cultura institucional veio por meio da mudança de propósito também do conceito de sustentabilidade, incorporando mais do que uma mera letrinha. A governança passa a ser o fiel da balança do jogo se considerarmos que, mal ou bem, as questões sociais e ambientais são em muitos lugares do mundo, regulamentadas e exigidas nos processos de licenciamento ambiental.

Além da geração de lucro aos acionistas, ter a preocupação em deixar um legado ou de contribuir positivamente para o bem estar coletivo, é inegável que tem um poder imenso, e quando feito em escala, um impacto global imenso. E isso vem de uma governança forte e comprometida com suas duas outras letrinhas irmãs, o E e o S.

Dada a responsabilidade que a governança assume no contexto da implementação das ações socioambientais é razoável pensar que as ações corporativas, as iniciativas dos acionistas e as decisões da alta direção das companhias são a base fundamental para o desenvolvimento de um negócio socioambientalmente responsável.

A governança é a letra mais importante no ESG?

Então, fica patente por todo o histórico de busca de um desenvolvimento sustentável, que as ambições corporativas podem influenciar no sucesso da implementação do ESG nas empresas e são decisivas para uma mudança de atitudes. Sem o G, dificilmente se consegue implementar o E e o S com sucesso, indo além das normativas legais.

Na questão ambiental, por exemplo, os marcos regulatórios normalmente não exigem a mitigação das emissões de carbono se limitando a proibir determinados gases e exigindo o controle de poluentes. A redução da pegada hídrica também não é cobrada se houver um processo de outorga cumprido.

No âmbito social, políticas de equidade de gênero, diversidade e inclusão não são levadas em consideração nos marcos legais e tem um impacto expressivo na atração e retenção de talentos na companhia. Fora dos muros das empresas, os processos de licenciamento ambiental consideram a mitigação dos impactos nas comunidades vizinhas, mas a visão do ESG não se limita à minimização dos impactos privilegiando também a melhoria das condições de vida dessas pessoas. A nova ordem do chamado capitalismo de stakeholders preconiza que deve-se priorizar todas as partes interessadas, sejam internas ou externas da companhia e que estes devem estar tão satisfeitos quanto os acionistas.

Nota-se claramente uma mudança de mindset, da forma com que as empresas, seus CEOs e acionistas pensam o negócio comprovando novamente que a governança é peça-chave no triângulo de forças do ESG, que como dito anteriormente, devem estar equilibradas para que haja sucesso das ações em longo prazo.

Com isso, não seria interessante pensar que o ESG deveria se chamar GSA? Nós profissionais que se dedicam a implementar métricas e o conceito do ESG nas companhias, não deveríamos começar a fortalecer o conceito de governança dentro das corporações de maneira prioritária?

 

“A governança é o coração da sustentabilidade empresarial e a chave para um futuro melhor para todos.” – Ulrich Spiesshofer, CEO da ABB

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.