Assim como a expressão ‘verde’ se tornou uma abreviação para qualquer ação, produto ou projeto que traga a preocupação com o meio ambiente em seu cerne – e foi posteriormente tão usado (e abusado) que quase não fez sentido, a ‘sustentabilidade’ se tornou um termo generalista e de certa forma clichê. Nos dicionários mais atuais em um contexto ambiental, sustentabilidade é a busca por suprir as necessidades do presente sem afetar as gerações futuras. No entanto, passou a abranger quase todas as práticas de negócios que podem ser classificadas como ‘fazer bem, fazendo o bem’.

O mais recente substituto para a sustentabilidade, no olhar dos incautos, é o desempenho ambiental, social e de governança (ESG). Há, no entanto, uma diferenciação importante entre esses dois conceitos, principalmente em termos de escopo.

Diferenças entre sustentabilidade e ESG

À medida que o mundo corporativo se torna mais consciente da necessidade de incorporar critérios ESG ao planejamento de negócios, é importante diferenciar entre metas de sustentabilidade e práticas ESG. A sustentabilidade é uma parte central da política ESG; um negócio sustentável terá uma política ESG; mas o alcance do ESG se estende muito além dos limites da sustentabilidade.

A diferença mais marcante, e talvez seja a mais relevante, é na área das finanças e dos investimentos. Os investimentos em sustentabilidade excluíam as ações de empresas que não atendiam aos padrões éticos e morais como erradicação de trabalho escravo, poluição dos rios e das matas ou práticas empresariais moralmente questionáveis. Os gestores de fundos já sabiam que esse investidor teria um desempenho pior do que os fundos convencionais e assumiam que esse perfil, conscientemente, abria mão de partes de seus lucros por uma consciência ecológica limpa. E isso era amplamente aceito.

Melhor desempenho financeiro

Nos dias de hoje, os investimentos ESG baseiam-se em uma ampla gama de fatores. Ao invés de filtrar organizações ou setores específicos excluindo por exemplo empresas que promoviam testes em animais, trabalho infantil ou lucrar com tabaco ou jogos de azar, o investimento ESG busca identificar e classificar empresas que apresentam outras características desejáveis como: remuneração de executivos, diversidade de conselhos, tratamento e remuneração de funcionários, histórico de saúde e segurança e envolvimento da comunidade. Tudo isso sob o guarda-chuva ESG.

E o mais importante disso é que para os acionistas, as companhias com fortes políticas ESG têm demonstrado melhor desempenho financeiro no longo prazo, oferecendo maiores retornos e menores riscos. Por isso que o percentual de investidores de varejo e institucionais que aplicam os princípios ESG na escolha de 25% ou mais de suas carteiras saltou de 48% em 2017 para 75% em 2019. Isso marca uma evolução positiva e mensurável no investimento ético.

 

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.