À medida que a COP28 (Conferência das Partes) em Dubai se aproxima, destacando a necessidade urgente de ações climáticas, as empresas, incluindo aquelas no setor do agronegócio, enfrentam riscos crescentes de reputação ao não adotarem práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance). Estudos como os da AXA, envolvendo 3.500 especialistas e 20.000 membros do público geral, identificaram o clima como o principal risco emergente global. Essa percepção pública crescente sobre as questões ambientais coloca uma pressão adicional sobre as organizações para alinharem suas operações com os padrões de sustentabilidade.
Mudanças Climáticas: o maior desafio do todos os tempos
Mudança climática é a questão mais desafiadora que o mundo tem enfrentado e a busca por um equilíbrio na economia que garanta carbono zero ou zero líquido ou neutralidade não é recente. O aumento da temperatura no planeta já é um alerta antigo para as nações de todo o mundo! Em 2015, na COP21, quase 200 países se reuniram e assinaram o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, para buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, a fim de evitar os piores efeitos do aquecimento global.
Em 2021, também sob os termos do Acordo de Paris, os Estados Unidos, por exemplo, se comprometeram a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em até 52% e o Brasil em 43%, em comparação com a linha de base de 2005 até o ano de 2030. A China, que é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, limitou o crescimento das emissões e fixou meta de neutralidade de carbono até 2060. Infelizmente, porém, mesmo se os compromissos de todas as nações forem rigorosamente cumpridos, ainda é provável que excedamos a meta de dois graus Celsius.
Hoje, ao ler os jornais no Brasil e no Espírito Santo, é evidente que a mudança climática é uma realidade presente, afetando indivíduos, famílias e negócios locais. As histórias variam desde o aumento das ocorrências de queimadas, a elevação dos níveis do mar afetando a costa brasileira, secas severas afetando mananciais e comprometendo fortemente o abastecimento de água em muitas cidades, em especial no território capixaba, e impactos sobre a agricultura, essencial para a economia espiritossantense. Podemos observar, ainda, paralelos com o cenário global, onde publicações como The Wall Street Journal e The New York Times destacam a urgência da crise climática, abordando desde o futuro incerto do petróleo até os incêndios florestais devastadores.
Todos os países precisam aumentar suas ambições para neutralizar o CO2. Durante a Cúpula da Ambição Climática da 78ª Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2023, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, anunciou novas metas, com a redução de 48% das emissões até 2025 e 53% até 2030, melhores em comparação com as metas originais apresentadas na COP21. Mas essa é uma situação prática em que não apenas governos e reguladores, mas também o setor privado, indústrias, comércios, organizações financeiras e outros precisam trabalhar juntos para alcançar uma economia líquida zero carbono até o ano de 2050.
Pressão para ESG de verdade
E o risco empresarial não se limita aos impactos operacionais do aumento de temperatura. Ainda com muito pouca maturidade corporativa no cenário nacional, um levantamento feito pela Data Makers, aponta que dos 170 presidentes e diretores de empresas ouvidos consideram que (85%) zelar pela imagem e (65%) diminuir o risco reputacional são as principais motivações para avançar na agenda ESG, seguidas pela melhora na gestão da empresa (59%), redução de riscos (pressão de stakeholders; 38%) e retenção de talentos (35%).
Aqui, vale relembrar um episódio notável, de 2021, em que a ExxonMobil vivenciou uma pressão sem precedentes de seus investidores. O fundo ativista Engine No. 1, detendo menos de 1% das ações, conseguiu eleger três membros para o conselho da Exxon, realinhando a estratégia da empresa com um foco maior em sustentabilidade e energias renováveis. Esse caso reflete um movimento crescente no mundo corporativo, onde a responsabilidade ambiental está se tornando um critério central para investidores e acionistas (vamos contar essa história com mais detalhes nas próximas colunas, não percam porque vale a pena!).
Há muita importância em ter sinergia entre ações governamentais e a pressão de stakeholders privados na condução da transição para a economia de carbono zero. Exemplos de regulamentações governamentais ilustram esforços para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Paralelamente, investidores, consumidores e funcionários têm se mostrado agentes de mudança, exigindo que as corporações adotem práticas mais sustentáveis que envolvem as três letras, o Ambiental, o Social e a Governança.
A FRONTEIRA IDEOLÓGICA
Com isso, a COP28 cria novas expectativas e promete remexer em algumas feridas abertas. A esperança é de que à medida que a conscientização sobre a urgência das ações climáticas se intensifica, empresas de todos os setores aceitem a necessidade imperativa de adotar práticas de ESG para mitigar riscos de reputação e alinhar-se com os padrões de sustentabilidade globalmente reconhecidos.
A cúpula em Dubai servirá como um lembrete e um catalisador para ações concertadas, reiterando a importância da sinergia entre os stakeholders do planeta na transição para uma economia de baixo carbono, um passo essencial para enfrentar a desafiadora realidade das mudanças climáticas.
Daniela Klein
Comunicóloga especializada em meio ambiente e com pós-graduação em gestão de energia, marketing e MBA em Gerenciamento de Crises. Ampla experiência em comunicação ambiental, sustentabilidade e gestão de imagem. Desenvolve Relatórios de Sustentabilidade em padrões globais (certificada GRI e BID) e atende demandas de ESG. Com mais de 20 anos de carreira, já atuou em redações, assessorias públicas e privadas. Fundadora e CEO da KICk, empresa focada em comunicação socioambiental e branding.