A humanidade provocou um grande impacto no planeta, e isso é inquestionável. As modificações foram tamanhas que nós inauguramos uma nova era geológica, o Antropoceno, uma era onde as pessoas constituem o maior motor de mudança da terra. Onde os países que são mais ricos e que mais consomem recursos naturais, são também os que empurram o clima, a biodiversidade e o oceano para zonas desconhecidas e de alto risco. Para tanto, o ano e o local escolhido para o início desse marco físico é 1952 e o lago Crawford, no Canadá. Afinal, análises dessa reserva mostraram que, em 1952, já haviam registros bem marcados de plutônio e cinzas no solo, marcas da crescente atividade atômica e da queima de combustíveis fósseis.
Nesse período em específico, o artigo “Antropoceno: As Questões Vitais em um Debate Científico”, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (a Unesco), afirma que houve um aumento sem precedentes do consumo e do crescimento populacional, do desenvolvimento econômico e da urbanização das populações. E que esse seria o “prego de ouro” que marcaria o Antropoceno.
Mantendo a mesma postura, não alcançaremos as ambições da Agenda 2030
No relatório “A Transformação é Viável”, elaborado para o aniversário de 50 anos do Clube de Roma, é apontado que se continuarmos com nossas atuais linhas de tendência para o crescimento econômico, possivelmente, alcançaremos alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, mas ainda assim passaríamos longe das ambições da Agenda 2030.
O relatório afirma que para que seja possível alcançar tais ambições, é preciso uma análise sistemática e robusta, através do cultivo de atitudes positivas e sinérgicas entre os ODS, até porque por maior que seja nossa boa vontade, nosso crescimento rápido e nosso trabalho, estas ainda sim podem não trazer tanto êxito. Então o que significa uma abordagem sistêmica e dinâmica? No relatório, é explicado que se, por exemplo, duplicarmos as energias renováveis, as taxas de crescimento energético e os investimentos em eletrificação podemos afastar o mundo dos combustíveis fósseis e acertar em cheio no quesito energia limpa. E, seguindo essa linha, poderíamos melhorar outros ODS como Produção e Consumo Sustentável (ODS 12) e Combate às Mudanças Climáticas (ODS 13).
Uma escolha coletiva: o planeta
Já numa abordagem fragmentada, vemos o contrário, vemos que as governanças priorizam um ODS em detrimento de outros não os enxergando como um sistema único, interligado e interdependente. Com isso, se falharmos na pobreza e na equidade, corremos o risco de falhar numa governança estável, no clima e na biodiversidade. Precisamos considerar o coletivo, até porque, a escolha de você não usar automóvel e não consumir nada que aumente o aquecimento global, não muda o fato do planeta está derretendo, mas uma escolha coletiva poderia sim mudar esse cenário.
Citando o livro “A Vida não é Útil”, de Ailton Krenak, um líder indígena, ambientalista e imortal da Academia Brasileira de Letras, “se enxergamos que estamos passando por uma transformação, precisamos admitir que nosso sonho coletivo de mundo e a inserção da humanidade na biosfera terão que se dar de outra maneira. Nós poderemos habitar este planeta, mas deverá ser de outro jeito. Senão, seria como se alguém quisesse ir ao pico o Himalaia, mas pretendesse levar junto sua casa, a geladeira, o cachorro, o papagaio, a bicicleta.”