Por Cintia Dias

Vai ser pelo amor ou pela dor?

Descubra como a adesão à pauta sustentável pode impactar as empresas e por que é importante se preparar para essa mudança de paradigma.

Vai ser pelo amor ou pela dor?

Há uma velha máxima da sabedoria popular que diz que as pessoas aprendem pelo amor, quando buscam o aprimoramento por sua própria iniciativa ou aproveitando os exemplos que as cercam, ou pela dor, quando são obrigadas a lidar com um problema por não terem se preparado para ele com antecedência. Com sustentabilidade acontece o mesmo, e as empresas vão aderir à pauta sustentável quer queiram ou não.

Há empresas que vão atuar pelo amor, ou seja, vão aderir à pauta sustentável por livre iniciativa e convicção, antecipando ações que depois serão exigidas em um arcabouço regulatório que evolui a partir das demandas sociais. E há aquelas que só vão fazer esta adesão pela dor, quando se confrontarem com multas, penalidades, exigências dos consumidores, pressão social e limitação de acesso a mercados por não atenderem aos requisitos estabelecidos.

É claro que em um mundo ideal, todo mundo optaria pelo caminho intencional de adoção da sustentabilidade, mas a tendência mostra que a maioria fará este movimento quando for obrigada a tanto. E, por isso, o arcabouço regulatório tem um papel relevante no avanço desta pauta. Veja o exemplo do uso do cinto de segurança, que só se tornou uma prática comum quando se tornou obrigatório, em 1998, mesmo com todas as campanhas prévias a esta legislação demonstrarem o quão importante o dispositivo era na proteção da vida. Pois é, por vezes, a obrigatoriedade cumpre o papel que a sensibilização não conseguiu realizar.

O papel da regulação

Basta verificar o que vem ocorrendo na Europa, que tem se revelado o berço de um marco regulatório mais rigoroso. Em 2020, foi aprovado o European Green Deal, ou Pacto Ecológico Europeu, que dispõe sobre a economia circular.  Desde então, empresas do velho continente, sejam elas sustentáveis ou de outros setores, como o energético e automobilístico, vêm colhendo resultados, que vão dos efeitos positivos ao meio ambiente até o lucro advindo da operação.

Desde 2019, vigora o SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation), ou Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis, que visa garantir uma maior transparência na divulgação de informação de ativos financeiros, que passam a ser classificados tendo em vista riscos e impactos na sustentabilidade. Ou seja, não basta rotular um produto como sustentável, é preciso comprovar o fato, o que é decisivo para combater o greenwashing.

Há, ainda, a Taxonomia Ambiental (Regulamento UE 2020/852), que cria um sistema de classificação para identificar atividades econômicas consideradas ambientalmente sustentáveis, a partir de critérios como mitigação das alterações climáticas, adaptação às alterações climáticas, utilização sustentável e proteção dos recursos hídricos e marinhos, transição para uma economia circular, prevenção e controle da poluição, e proteção e restauro da biodiversidade e dos ecossistemas.

Normativas internacionais

Outra evolução é a nova diretiva CSRD (Corporate Sustentainability Reporting Directive), que define as regras relativas ao reporte de indicadores de desempenho em matéria de sustentabilidade, que entrou em vigor no início de 2024. A diretiva deixa claro o alinhamento do modelo de negócio com o processo de transição para uma economia sustentável. Outra normativa de 2024 trata do Dever de Diligência das Empresas (CSDDD – Corporate Sustentainability Due Diligence Directive), que reforça a responsabilidade dos conselhos de administração sobre este alinhamento estratégico.

São muitas as legislações que buscam refletir necessidades e anseios, redefinir normas sociais, direcionar padrões de comportamento e impulsionar mudanças em prol de práticas sustentáveis. Por meio de requisitos legais, objetiva-se mostrar as iniciativas aceitáveis e aquelas que serão reprimidas por meio das penalidades previstas.

A regulação é bem-vinda quando há a necessidade de instituir padrões sustentáveis que não foram adotados por livre iniciativa, o que contribui para moldar a realidade e mitigar problemas presentes que, se ignorados, comprometerão a vida futura.

Felipe Mello Colunista
Colunista
Biólogo, mestre em Sustentabilidade e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência e dois prêmios de melhor Gestor de Projetos do ES.