Um grupo de cientistas integrantes do Stockholm Resilience Centre sob liderança do sueco Johan Rockstrom, identificou nove processos chamados “limites planetários”. Os limites definem até onde o desenvolvimento humano pode chegar sem que afete de forma irreversível a capacidade da Terra se regenerar e retornar ao seu estado natural após uma perturbação. São processos inter-relacionados dentro do complexo sistema biofísico da Terra. Isto significa que um enfoque global apenas nas alterações climáticas não é suficiente para aumentar a sustentabilidade. Em vez disso, compreender a interação das fronteiras, especialmente o clima, e a perda de biodiversidade, é fundamental na ciência e na prática.
Esses processos são as mudanças climáticas, a integridade da biosfera, o uso do solo, os fluxos bioquímicos, a destruição do ozônio estratosférico, o uso da água, a acidificação dos oceanos, o carregamento de aerossóis atmosféricos e a incorporação de novas entidades. Estes, portanto, representam os pontos críticos que, caso ultrapassados, podem desencadear mudanças abruptas e imprevisíveis para o futuro da humanidade e do planeta. Os limites planetários são interligados e interdependentes, uma forma de reconhecer que somos parte de um sistema único, complexo e dinâmico, que depende do equilíbrio entre os seus componentes.
Já ultrapassamos 6 dos nove limites planetários
No entanto, ainda sim, já ultrapassamos seis dos limites planetários necessários para manter a estabilidade e resiliência da Terra, sendo o primeiro e talvez o mais conhecido as mudanças climáticas, seguida da integridade da biosfera, mudanças na água, mudanças no uso do solo, fluxos bioquímicos e novas entidades. Contudo, deve-se destacar que a transgressão de uma fronteira não implica em mudanças drásticas de um dia pro outro, mas em mudanças graduais que põem em risco as pessoas e os ecossistemas.
No caso da crise climática, por exemplo, consideramos que um aumento máximo de 1,5 graus celsius da temperatura ainda seria um “limite seguro”, assim como estabelecido pelo Acordo de Paris. Apesar disso, tudo indica que não atingiremos essa meta.
Ferramenta útil ao planejamento e a tomada de decisão
Contudo, os limites ainda sim se mostram uma ferramenta muito útil para orientar as decisões políticas e ações individuais em relação ao meio ambiente. Afinal, é preciso entender até onde a terra suporta as pressões que são impostas sobre elas e até onde nós podemos sobreviver, e se, conseguiremos sobreviver caso os nove limites forem ultrapassados.
Dessa forma, os limites nos convidam a repensar nossos modelos atuais de desenvolvimento econômico e nossa própria relação com a natureza. Assim como Ailton Krenak cita no livro “A Vida É Útil”, apenas “quando o último peixe estiver nas águas e a última árvore for removida da terra, só então o homem perceberá que ele não é capaz de comer seu dinheiro”.