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Baratas, moscas e pelos de rato: decreto da Anvisa traz descoberta assustadora em ketchups no Brasil

De acordo com a Anvisa, é permitido que, a cada 100 gramas de ketchup, o produto contenha até 10 fragmentos de insetos e 1 de rato; entenda

Ratos e pelos no ketchup (Foto/reprodução: Freepik)
Ratos e pelos no ketchup (Foto/reprodução: Freepik)

Presente em sanduíches, batatas fritas, pastéis, cachorro-quente e até — acredite — em arroz com feijão, o ketchup ocupa um lugar de destaque nas refeições do brasileiro. Seu sabor agridoce conquista paladares de todas as idades, e o produto é praticamente um item obrigatório nas mesas de lanchonetes, restaurantes e lares.

Mas, por trás da tonalidade vermelha vibrante e do sabor inconfundível, existe um dado curioso — e até um pouco chocante — que pouca gente conhece: a presença de fragmentos de insetos e pelos de roedores é tolerada pela Anvisa no ketchup vendido no Brasil.

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Ingrediente secreto

De acordo com a Resolução RDC nº 14/2014, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é permitido que, a cada 100 gramas de ketchup, o produto contenha até 10 fragmentos de insetos e 1 fragmento de pelo de roedor. E o detalhe mais surpreendente: essa informação não precisa ser declarada no rótulo.

Isso mesmo. O sachê que acompanha seu lanche preferido pode conter, dentro do que a legislação considera “aceitável”, pequenas partículas que, tecnicamente, não estão listadas nos ingredientes. Embora pareça algo digno de um filme de terror culinário, há uma explicação técnica e prática para essa autorização.

Por que a ANVISA permite isso?

Segundo a própria agência, eliminar completamente essas impurezas nos alimentos industrializados seria virtualmente impossível. Mesmo com rígidos controles de qualidade e boas práticas de fabricação, fragmentos microscópicos de insetos e pelos de roedores podem acabar se misturando ao produto final. A contaminação pode ocorrer em diversas fases da produção — desde a colheita do tomate até o envase do ketchup.

Na lavoura, os tomates são expostos ao ambiente natural, onde insetos estão presentes de forma inevitável. Durante o transporte e armazenamento, a exposição a pragas também pode ocorrer. Já na linha de produção, mesmo com os equipamentos modernos e a limpeza constante, a presença de partículas indesejadas em pequena escala ainda é considerada tolerável.

A regulamentação, portanto, estabelece um “nível máximo permitido”, baseado em padrões internacionais de segurança alimentar e em análises de risco.

O ketchup continua seguro?

Dentro desses limites, sim. A ANVISA garante que a ingestão dessas partículas, em quantidades mínimas e controladas, não oferece risco imediato à saúde. Trata-se de uma questão técnica, não de negligência. O ketchup vendido no Brasil passa por fiscalizações regulares, e os lotes são analisados para garantir que permaneçam dentro dos parâmetros sanitários.

Entretanto, caso os limites sejam ultrapassados, os lotes são considerados impróprios para o consumo e devem ser recolhidos do mercado. Já houve casos em que marcas foram autuadas e produtos retirados das prateleiras por excederem o limite de contaminação permitido.

E o consumidor? Deve se preocupar?

A revelação pode gerar certo desconforto, especialmente entre os mais sensíveis ou rigorosos com a alimentação. Mas o ponto central é que o ketchup — assim como outros produtos industrializados — segue padrões internacionais de segurança e está sujeito a regras claras e inspeções frequentes.

O que assusta, na verdade, é o contraste entre a imagem de um molho limpo e uniforme com a ideia de que possa conter, ainda que em fragmentos microscópicos, resíduos de insetos ou roedores. Porém, vale lembrar: esses fragmentos são invisíveis a olho nu e não alteram sabor, cheiro ou aparência do produto.

Consumo de ketchup no País

De acordo com dados da consultoria Euromonitor, o Brasil está entre os maiores consumidores de ketchup da América Latina. Apesar de não haver um número exato sobre o volume anual consumido, estima-se que milhões de unidades do produto sejam vendidas todos os meses no país.

O molho é amplamente aceito por crianças e adultos, tornando-se um “curinga” na culinária informal do dia a dia. Sua versatilidade vai além do hambúrguer e do cachorro-quente: há quem misture o ketchup com arroz, feijão, pizza e até massas.

Esse cenário de alto consumo torna ainda mais relevante o papel da fiscalização e do controle de qualidade, já que o ketchup é um dos condimentos mais acessíveis e populares no Brasil.

A informação de que fragmentos de insetos e pelos de roedores são tolerados por lei em certos alimentos não é nova — mas continua sendo impactante. Ela reforça a importância de sabermos mais sobre o que consumimos, e como funciona, de fato, a cadeia produtiva dos alimentos.

Além disso, mostra como a indústria alimentícia trabalha com margens de tolerância consideradas seguras, mesmo que algumas pessoas prefiram evitar esse tipo de produto após conhecer esses detalhes

A boa notícia é que os níveis permitidos pela ANVISA são monitorados, e que os produtos encontrados nos supermercados, quando dentro da legalidade, são seguros para o consumo.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.