Um casamento, que aconteceu no início de janeiro, deu o que falar nas últimas semanas após a noiva declarar no altar da igreja, onde a cerimônia foi realizada, que seria “submissa” ao marido.
A noiva é Melissa Dantas, tem 18 anos, é natural de Aimorés, em Minas Gerais, onde o casamento foi realizado, mas mora em Barra de São Francisco, município da Região Noroeste do Espírito Santo, com o marido, Lucas Fiuza, de 21 anos.
A jovem publicou o momento dos votos nas redes sociais e acabou viralizando com a fala de “submissão”.
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Eu para sempre me submeterei a você, Lucas. Para sempre te respeitarei. Para sempre te honrarei como o cabeça do nosso lar. E nenhum plano de Satanás irá prosperar no nosso casamento. Porque Deus será o alicerce desse matrimônio. E nada que me faça deixar de ser a esposa, uma mulher como a de Provérbios 31. Eu serei essa esposa que edifica e nutre a casa, enquanto eu te sigo e enquanto você segue a Cristo, diz um trecho da fala da noiva.
O vídeo tem mais de 4 milhões de visualizações no Instagram e cerca de 45 mil comentários. Desses, muitas falas de apoio, principalmente de evangélicos, já outros trazem duras críticas.
“Uma mistura de dependência emocional com cristianismo”, disse uma internauta. “Será que ela entendeu o conceito de ser submissa? Ou eu que estou perdida? Porque ela se ajoelhou?”, disse outra internauta.
VEJA O VÍDEO:
Melissa explicou o que a inspirou a fazer a declaração no seu casamento.
Quando comecei a pensar em fazer os votos, queria que fosse um momento marcante e não tive dúvidas que seria emocionante. O meu noivo achou um gesto lindo, sabendo que acertou em cheio a mulher com quem se casou. Ficou emocionado e feliz, disse a noiva.
A jovem afirmou que está em paz com as críticas recebidas nas redes sociais. “Deus tem me dado uma paz muito grande e nenhum comentário tem me afetado. Pelo contrário, essas críticas me mostraram várias pessoas que gostaram do meu gesto”, afirmou.
Além disso, a noiva falou que os convidados aprovaram a sua declaração e ainda fizeram comentários positivos.
Recebi muitos e muitos feedbacks bons e emocionantes. Até eu postar nas redes, não tinha tido nenhuma crítica. Teve uma convidada que disse assim: ‘Mel, meu marido não chorou nem no enterro do pai dele, mas chorou nos seus votos!! Foi muito emocionante’, declarou.
Noiva diz que vai criar conteúdos na internet para ajudar casais
Melissa também disse quais serão os próximos passos dela nas redes sociais, dizendo que irá criar conteúdos para inspirar outros casais cristãos na internet.
“Eu pretendo dar continuidade aos conteúdos, fazendo cada vez melhor, e atraindo cada vez mais meninas e mulheres que desejam se inspirar, e ter sucesso no casamento! Gosto da área e faço com amor”.
A jovem explicou, de acordo com o que ela pensa, o que é o conceito de submissão no casamento tendo como base o contexto bíblico.
Hoje em dia, a submissão da mulher ao marido é confundida com escravidão ou como se o marido fosse obrigar a fazer tudo que ele quer. A verdade é que a submissão que a Bíblia nos pede é uma escolha que ela faz de deixar o marido liderar e proteger. Porque do mesmo jeito que a mulher deve assumir o papel de submissão, o marido deve assumir o papel de liderar, amar, proteger, respeitar, admirar e, se preciso for, dar a sua vida pela esposa.
Ela ainda complementa o argumento:
“Quando o casal cumpre com seus papéis, o casamento anda, prospera e Deus abençoa. E depois que a mulher aprende isso, o papel dela de cuidar da casa, dos filhos e do marido, não é mais obrigação, e sim um prazer, pois aí ela vê que está cuidando do que ela tem de mais precioso, a família”, explicou Melissa.
Pastor explica o que é submissão pela Bíblia
O Folha Vitória procurou um pastor para entender o conceito bíblico de submissão. O pastor Usiel Carneiro, da Igreja da Praia, na Praia do Canto, em Vitória, explica que a visão da jovem quanto à submissão no casamento é comum entre os evangélicos.
“Essa visão não é incomum entre evangélicos e revela uma leitura bíblica possivelmente literalista, que concebe cada texto como uma afirmação categórica para a vida. Os que assim acreditam afirmam estarem respeitando o texto em lugar de interpretá-lo, não percebendo que também esta é uma forma de interpretação, visto que é impossível, que diante dele, não estejamos carregados de imaginários e percepções que definem nossa leitura”, afirma.
Usiel Carneiro explica o que é submissão no casamento à luz da Bíblia:
Na forma de leitura literalista e outras que dela se aproximam, a submissão no casamento é uma posição a ser assumida pela mulher em relação ao homem, sendo ele quem lidera e a mulher é quem segue e obedece. Majoritariamente, esta compreensão vem do texto de Efésios 5.22-23: ‘Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador’.
O pastor também explica o que diz em Provérbios 31, trecho bíblico citado pela jovem em seu discurso no altar.
“O texto é a descrição de uma mulher exemplar para quem vive numa sociedade patriarcal, cujo papel da mulher é cuidar da casa e gerar filhos, e que não está apta a participar da vida social em igualdade com o homem, mas como dependente dele. Era uma sociedade que não compreendia a mulher como um ser de mesmo valor que o homem. Um momento histórico, inclusive anterior ao texto de Efésios e, portanto, ainda mais radicalmente patriarcal”.
O líder religioso da Igreja da Praia segue explicando os momentos históricos em que os livros sagrados foram escritos:
“O casamento retratado em ambos os textos não se dava por razões emocionais e escolha livre. Seu caráter era mais comercial que romântico. A mulher era como uma propriedade de seu pai e depois passava a pertencer ao marido, dizendo a grosso modo. Paulo inclusive parece avançar no texto de Efésios, pois fala da submissão da mulher num contexto em que todos na comunidade cristã deveriam praticar a submissão, ou o dever de ceder ao outro”.
Usiel Carneiro destaca ainda que a Bíblia traz também as “atribuições” do marido no casamento. Veja o argumento do pastor:
“Ao falar do dever de submissão para a esposa, o autor afirma que aos maridos caberia amar, não de qualquer forma, mas amar a esposa como Cristo amou a igreja ao ponto de morrer por ela. Nos termos orientados pelo apóstolo, a submissão não seria razão de desprezo, descuido, desvalorização. Uma relação conjugal saudável era o interesse de Paulo”.
O líder evangélico avalia que a submissão precisa ser considerada a partir da nova natureza do casamento e da compreensão do valor e papéis de homens e mulheres.
O casamento hoje é de natureza romântica, emocional. Dá-se por livre escolha de ambos. À mulher já não cabe mais o papel exclusivo de cuidar da casa e gerar filhos. E as leis protegem os nubentes, a ambos, inclusive prescrevendo possibilidades de nulidade. No casamento, homem e mulher devem amadurecer e romper com perspectivas que desnivelem a relação e comprometam o lugar e valor de ambos, finaliza o pastor.
*Texto sob a supervisão da editora Elisa Rangel
