O cantor Zeca Pagodinho protagonizou um momento inusitado durante sua participação no programa Gente do Rio, exibido pela Band TV Rio.
Durante a conversa com a apresentadora Mônica Ramos, o sambista não hesitou em compartilhar histórias sobre suas crenças, festas religiosas e, principalmente, uma prática considerada ilegal no Brasil: sua relação com o jogo do bicho.
A entrevista foi ao ar como parte da edição comemorativa de um ano do programa. Em um tom descontraído, Zeca não fugiu das perguntas e revelou sua experiência com o jogo de azar, arrancando risadas da apresentadora.
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ZECA PAGODINHO E A RELIGIOSIDADE
Ao longo da conversa, a apresentadora mencionou festas religiosas de matriz africana, ao que o cantor respondeu de maneira espontânea, confirmando sua presença constante nesses eventos.
“Você vai na festa de preto velho, feijoada?”, perguntou Mônica Ramos. “Todas, todas”, respondeu Zeca Pagodinho.
O cantor, que nunca escondeu sua ligação com religiões de matriz africana, reforçou seu respeito e admiração pelas tradições. O bate-papo fluiu de maneira leve e natural, até que a apresentadora decidiu abordar outro tema delicado.
O CANTOR FALA SOBRE O JOGO DO BICHO
Em meio à conversa sobre suas crenças, Mônica Ramos perguntou diretamente:
“E jogo do bicho?”.
Sem hesitar, Zeca respondeu com bom humor:
“Ah, que delícia… [mas] esse ano estou perdendo muito”.
O sambista seguiu contando sua experiência com a prática e revelou que, durante a pandemia, teve sorte nas apostas. “Na pandemia, eu ganhei umas cinco vezes”, afirmou. No entanto, segundo ele, a sorte não durou muito: “Fui falar pra um amigo que mexe com isso, ele me rogou uma praga que nunca mais ganhei nada”.
A apresentadora riu da situação e brincou:
“Arruma uma benzedera aí”.
Zeca entrou na brincadeira e respondeu:
“O negócio tá bravo”.
POR QUE O JOGO DO BICHO É CONSIDERADO ILEGAL?
O jogo do bicho é uma forma de aposta popular no Brasil, mas sua prática é ilegal. Criado no final do século XIX, o jogo consiste em apostar em números associados a animais, com base em sorteios diários.
A ilegalidade dessa prática se dá porque ela opera fora de qualquer regulamentação governamental. Isso significa que não há controle sobre os sorteios, prêmios ou a circulação do dinheiro, o que torna o jogo vulnerável a fraudes e até mesmo a atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro.
Mesmo sendo proibido, o jogo do bicho segue sendo amplamente praticado em diversas regiões do país, especialmente no Rio de Janeiro, onde há uma forte cultura em torno das apostas.
ZECA PAGODINHO: AUTENTICIDADE E BOM HUMOR
O episódio reforça uma das características mais marcantes de Zeca Pagodinho: sua autenticidade. O cantor, que há décadas é um dos principais nomes do samba, sempre se destacou por sua espontaneidade e sinceridade nas entrevistas.
Seja falando sobre suas crenças, sobre o cotidiano ou até mesmo sobre temas polêmicos, Zeca mantém seu jeito irreverente e bem-humorado, características que o tornaram querido pelo público brasileiro.
A entrevista no Gente do Rio não foi diferente. Sem rodeios, ele compartilhou histórias, se divertiu e, mais uma vez, mostrou por que é uma das figuras mais carismáticas da música brasileira.
A HISTÓRIA DE UM HINO: DEIXA A VIDA ME LEVAR
Se existe uma música que resume o espírito e a personalidade de Zeca Pagodinho, é Deixa a Vida me Levar. Lançada em 2002, a canção se tornou um hino de otimismo e resiliência para os brasileiros, atingindo enorme sucesso dentro e fora do país.
A composição é de Serginho do Meriti e Eri do Cais, e surgiu de maneira espontânea. Meriti conta que criou a música em São João do Meriti, cidade da Baixada Fluminense onde foi criado.
“Um dia eu fui na casa da minha mãe, peguei o violão e fiz essa música. É a história da minha vida, a história da vida do brasileiro, que não desiste nunca”, revelou o compositor.
A trajetória da canção mudou quando Zeca Pagodinho a ouviu durante um de seus tradicionais encontros em Xerém, distrito de Duque de Caxias, onde mora.
Sempre que se prepara para um novo álbum, o sambista reúne compositores, músicos e produtores em sua casa para um evento que chama de Bate-Bola. Nesses encontros, repletos de comida, bebida e samba, os compositores apresentam suas canções, e Zeca escolhe as que mais gosta para gravar.
HISTÓRIA DA MÚSICA
Foi nesse contexto que Deixa a Vida me Levar chegou até ele. Ao ouvir a melodia e a letra pela primeira vez, o cantor reagiu imediatamente: “Eu vou fazer uma farra com essa música!”, teria dito. O entusiasmo foi tanto que todos começaram a cantar juntos, como se a música já fosse um clássico.
O arranjo da canção ficou a cargo do maestro e violonista Paulão Sete Cordas, e a produção foi assinada por Rildo Hora, um dos maiores nomes do samba. A gravação teve um detalhe especial: Zeca Pagodinho quis um coro grandioso para o refrão.
O costume em suas gravações é chamar cerca de oito ou nove pessoas para cantar o coro, mas, naquele dia, o estúdio estava lotado, e o sambista decidiu que todos participariam. O resultado foi uma explosão de vozes que ajudou a transformar Deixa a Vida me Levar em um hino popular.
ÁLBUM DEIXA A VIDA ME LEVAR
O álbum Deixa a Vida me Levar foi o mais vendido da carreira de Zeca Pagodinho e garantiu ao artista o Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Samba/Pagode. Além disso, a música-título foi a mais tocada no Brasil em 2002 e concorreu ao prêmio de Melhor Canção em Língua Portuguesa.
Outro marco importante foi quando a música se tornou o hino extraoficial da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2002. Durante a campanha vitoriosa comandada pelo técnico Luiz Felipe Scolari, a canção era entoada pelos jogadores, e a torcida abraçou a trilha sonora. Com isso, Deixa a Vida me Levar se eternizou ainda mais no imaginário popular.
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A IMPORTÂNCIA DE DEIXA A VIDA ME LEVAR
O sucesso de Deixa a Vida me Levar não é apenas comercial. A música capturou um sentimento coletivo do brasileiro, a ideia de que, apesar das dificuldades, é possível seguir em frente com leveza e otimismo. A simplicidade da letra e a melodia contagiante fazem dela uma canção atemporal, reconhecida e cantada por todas as idades.
Além de Zeca Pagodinho, a canção foi regravada por outros grandes nomes do samba, como Beth Carvalho, Seu Jorge e Diogo Nogueira. Cada nova interpretação mantém viva a energia da música e reforça sua importância na história do samba brasileiro.
Mesmo duas décadas após seu lançamento, Deixa a Vida me Levar segue sendo presença garantida nos shows de Zeca Pagodinho e nas rodas de samba pelo país. O cantor, que já declarou que se sente apenas um instrumento da música, vê nessa canção um reflexo de sua própria vida: uma trajetória cheia de desafios, mas levada com alegria, fé e a certeza de que a música tem o poder de transformar.