CASO KAUÃ E JOAQUIM

"Crianças estavam vivas quando fogo tomou o quarto", afirma bombeiro

Por mais de 3 horas, o tenente-coronel Benício Ferrari detalhou os desafios da investigação que apontou que irmãos estavam vivos quando o incêndio começou

Foto: Reprodução / TV Vitória

Marcado como o depoimento mais longo desde o início do júri popular que definirá o futuro de Georgeval Alves, acusado de matar e estuprar o filho Joaquim Alves, de 3 anos, e o enteado Kauã Butkovsky, de 6, a fala do tenente-coronel Benício Ferrari do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo, durou mais de três horas.

Além de declarações fortes e técnicas sobre as mortes dos dois meninos, como a afirmação de que "as crianças estavam vivas quando fogo tomou o quarto", o depoimento do tenente começou com uma discussão no plenário durante a tarde desta terça-feira (18).

Defesa de Georgeval pediu dispensa do bombeiro

Pouco antes de dar início ao depoimento do tenente, a defesa de Georgeval pediu dispensa da testemunha, alegando que Benício Ferrari manifestou publicamente opiniões pessoais contra Georgeval, chamando-o de "monstro", motivo pelo qual o depoimento técnico dele, como perito, não poderia ser validado.

Porém, o juiz Tiago Fávaro Camata manteve o depoimento da testemunha e deu como indeferido o pedido da bancada defensiva do acusado. Neste momento, iniciou-se um clima de desconforto e uma discussão entre assistentes de acusação e defesa.

Durante o depoimento, o tenente-coronel descreveu como estava o quarto das crianças quando conseguiu entrar no cômodo.

Ele relatou dificuldade em compreender até mesmo a disposição dos móveis, tamanho o estrago encontrado no local, principalmente na região da janela.

"Registrei com fotos e vídeos o ambiente e pedi que a cena fosse preservada, não fosse acessada. A parte mais deteriorada do quarto era perto da janela, onde ficava o beliche das crianças. Eu tive que fazer um croqui para tentar entender como era a disposição dos móveis no cômodo e, a partir dali, tentar descrever de trás para frente como ocorreu o incêndio", disse.

Tenente-coronel apontou contradições de Georgeval

Em sua fala, o tenente-coronel Ferrari destacou alguns pontos contraditórios nas versões apresentadas pelo réu. Dentre elas, a informação de que o acusado teria se queimado ao entrar no quarto. Tal fato fez com que o militar acionasse a polícia.

"Ele disse que teria tentado entrar de pé, no quarto e, por isso, teria queimado os cabelos e a barba. Em hipótese alguma, diante do calor existente na cena, ele conseguiria entrar de pé e enxergar qualquer coisa dentro de um quarto tomado por fumaça. Ele talvez conseguisse fazer isso, mas abaixado. Diante dessa enorme incompatibilidade de informações que ele estava narrando, acionei o delegado Romel Pio e disse que iria comunicar que houve uma ação pessoal intencional no caso".

Georgeval procurou tenente-coronel para explicar como era o quarto

De acordo com o tenente-coronel Ferrari, Georgeval teria o procurado para narrar como era o cômodo em que as crianças dormiam. 

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À época, o réu compareceu por conta própria ao Corpo de Bombeiros, acompanhado de alguns militares, que seriam "ovelhas" da igreja dele, para dar informações sobre o dia do incêndio. 

"Estranhei ele aparecer para me narrar como era o cômodo. Eu não queria ouvi-lo naquele momento de dor. Mas ele veio até nós".

"Crianças estavam vivas quando fogo tomou o quarto"

Ainda no júri, o tenente fez uma das declarações mais fortes de seu depoimento, onde ele afirma, apresentando dados técnicos, que Kauã e Joaquim morreram por ação direta do calor e das chamas. 

"Se fosse um incêndio normal iria demorar vários minutos até consumir totalmente o cômodo e daria tempo das crianças saírem, o fogo viria de baixo, para cima. As crianças tinham fuligem nas vias superiores, o que mostra que estavam respirando. A literatura aponta que, em casos onde a vítima apresenta um nível muito baixo de carboxihemoglobina no organismo, só acontece em decorrência de um incêndio muito rápido, violento", afirmou o tenente.

O militar afirmou ainda em seu depoimento que não existiiu incêndio acidental, pois não havia nenhum indício que apontasse causa elétrica como fonte primária do incêndio. "Teria que haver um componente extra, que resultasse em um incêndio tão rápido e compatível com o cenário que encontramos no local".

Defesa de Georgeval questiona a testemunha

A defesa de Georgeval questionou a afirmação do tenente-coronel de que quatro galões encontrados na casa seriam irrelevantes para determinar se eles foram utilizados para o transporte do material acelerante, possivelmente utilizado para atear fogo no quarto onde as crianças dormiam. 

"Foi encontrado na casa um recipiente, um galão, com cheiro do que seria gasolina. Estava do lado de fora, proximo à porta da cozinha. Ele é irrelevante porque se foi ele ou não foi ele... eu não posso afirmar que naquele galão foi transportado o combustível. Para nós, não faz diferença se foi ele ou outro objeto em que o combustível foi levado ao cômodo", declarou. 

De acordo com a testemunha, a forma como o combustível foi introduzido no cômodo não afeta em nada a conclusão da hipótese.

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Em seguida, o advogado de defesa, Hobert Limoeiro, indagou o tenente-coronel sobre quantos litros de água foram utilizados pelo Corpo de Bombeiros para apagar o incêndio, usando uma declaração contida no processo e que foi prestada por um dos militares envolvidos no atendimento da ocorrência, de que teria sido utilizada a quantidade de 1,5 mil litros. 

Essa quantidade, conforme depoimento prestado pelo tenente-coronel Benício Ferrari e ensinada por ele em seus cursos de combate a incêndios, poderia alterar a cena e dificultar o trabalho da perícia.

O depoimento da segunda testemunha do dia terminou por volta das 18h, quando o julgamento foi paralisado para a realização de um lanche. A sessão foi retomada às 18h30.


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