CASO KAUÃ E JOAQUIM

Júri de Georgeval: 1º dia dura mais de 16 horas e sentença pode sair nesta quarta-feira

Georgeval Alves e quatro testemunhas foram ouvidas no primeiro dia. O julgamento deve retornar às 10 horas desta quarta

Foto: Mayra Bandeira | TV Vitória

O primeiro dia do julgamento de Georgeval Alves durou mais de 16 horas e foi encerrado já na madrugada desta quarta-feira (19). O retorno do júri está previsto para às 10 horas. Para este segundo dia, a expectativa é que ocorra a fase de debates entre defesa e acusação e que a sentença de Georgeval seja proferida.

O réu é acusado de torturar, estuprar e matar o filho Joaquim e o enteado Kauã, em abril de 2018. Em seu depoimento, o último da noite, Georgeval reafirmou a inocência.

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O acusado foi ouvido no plenário por quase duas horas e revelou detalhes do que teria acontecido no dia 21 de abril de 2018. Georgeval chorou no final do depoimento e confessou que mentiu quando disse, na época do crime, que tentou entrar no quarto para salvar o filho e o enteado.

"Queria primeiro dizer por quê eu menti. Nesses três dias, antes do meu depoimento, começaram alguns burburinhos de pessoas postando coisas duvidando do fato de eu ter entrado no quarto. Isso começou a repercutir na igreja. Por que eu menti? Foi porque as pessoas começaram a falar que fariam diferente do que eu fiz naquele momento. Os pastores começaram a falar que eu não deveria passar a imagem de covarde e omisso. Eu passei a ficar com medo de ser julgado e menti por esse motivo. Não era bom para mim e nem para a imagem da igreja. O pastor queria que eu desse uma resposta para aquelas pessoas que diziam que eu tinha sido omisso. Eu não queria falar", afirmou Georgeval.

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Julgamento começou pouco depois do horário marcado

O julgamento começou por volta das 9 horas de terça-feira. Com todos os presentes, o juiz realizou o sorteio. Das 25 pessoas convocadas, sete foram escolhidas: seis mulheres e um homem.

Pouco depois das 10 horas, a primeira testemunha a prestar depoimento foi o delegado Romel Pio de Abreu Júnior, convocada pelo Ministério Público do Espírito Santo.

Em seu depoimento, ele falou das peças informativas que a polícia colheu para concluir a investigação, esclareceu a materialidade das provas e disse que assim que tomaram conhecimento contatou o Corpo de Bombeiros para dar início ao trabalho investigativo. Para o delegado, não há dúvidas que o réu é culpado.

"Georgeval matou as crianças. Em nenhum momento durante meu trabalho quis culpar ninguém. Queríamos só descobrir a verdade. Fui advogado por 8 anos e sei como funciona esse trabalho, tanto é que demoramos a intimá-lo por entender o luto pelo qual passava. Mas, no trabalho de investigação fui percebendo que a versão dele não se sustentava e, no final, não houve dúvida de que ele incendiou as crianças", disse o delegado.

Tenente-coronel do Corpo de Bombeiros foi segundo depoimento do dia

A segunda testemunha arrolada pelo Ministério Público foi o tenente-coronel Benício Ferrari. A defesa de Georgeval Alves pediu à defesa de Georgeval a dispensa da testemunha, alegando que ele manifestou publicamente opiniões pessoais contra Georgeval, chamando-o de "monstro", motivo pelo qual o depoimento técnico dele como perito, não pode ser validado.

O juiz, no entanto, manteve o depoimento da testemunha e deu como indeferido o pedido da bancada defensiva de Georgeval. 

Em seu depoimento, o tenente-coronel falou das contradições nos depoimentos de Georgeval e descreveu como estava o quarto das crianças após o incêndio.

"Registrei com fotos e vídeos o ambiente e pedi que a cena fosse preservada, não fosse acessada. A parte mais deteriorada do quarto era perto da janela, onde ficava o beliche das crianças. Eu tive que fazer um croqui para tentar entender como era a disposição dos móveis no cômodo e, a partir dali, tentar descrever de trás para frente como ocorreu o incêndio".

"Ele disse que teria tentado entrar de pé, no quarto e, por isso, teria queimado os cabelos e a barba. Em hipótese alguma, diante do calor existente na cena, ele conseguiria entrar de pé e enxergar qualquer coisa dentro de um quarto tomado por fumaça. Ele talvez conseguisse fazer isso, mas abaixado. Diante dessa enorme incompatibilidade de informações que ele estava narrando, acionei o delegado Romel e disse que iria comunicar que houve uma ação pessoal intencional no caso", completou.

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O depoimento do tenente-coronel foi o mais longo do dia e durou mais de três horas, sendo encerrado pouco antes das 18h.

Depois de retomada a sessão, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e os assistentes de acusação dispensaram as testemunhas arroladas por eles de prestar os depoimentos. 

Psiquiatra forense depõe por videoconferência

De São Paulo, por videoconferência, o júri ouviu o depoimento de Hewdy Lobo Ribeiro, psiquiatra forense responsável pelo laudo emitido a pedido da defesa de Georgeval, que atesta que o réu não tem traços de psicopatia e/outro distúrbio mental.

"Nós buscávamos conhecer o comportamento carcerário de Georgeval e nos foi apresentado o laudo do sistema prisional do estado informando que o réu não passou por nenhuma punição e mantém comportamento adequado enquanto permanece no sistema carcerário", psiquiatra Hewdy Lobo.

Durante o depoimento, Georgeval começou a chorar no plenário do júri. A defesa foi até ele para ver o que aconteceu. Após receber um copo de água, o acusado foi consolado por uma das advogadas da bancada da defesa.

O choro ocorre no momento em que o psiquiatra forense relembrava fatos da infância dele, como abuso sexual, abandono familiar, negligência e exposição à violência paterna/materna.

Após os questionamentos, foi encerrado o depoimento por videoconferência do psiquiatra, por volta das 20 horas.

Psicóloga forense presta quarto depoimento do dia

Após a fala do psiquiatra, começa o depoimento da testemunha Elise Trindade, a psicóloga forense que também analisou Georgeval a pedido da defesa.

O advogado Pedro Ramos, responsável pela defesa de Georgeval, pergunta à psicóloga se é possível afirmar que ele tem perfil compatível com os crimes pelos quais ele está sendo acusado.

"Temos uma avaliação que foi feita através de diversos indicativos e o conjunto das informações nos fazem acreditar que não, ele não tem características dos crimes aos quais está sendo imputado", respondeu a psicóloga forense.

Segundo a psicóloga forense Elise Trindade, Georgeval narrou durante as avaliações psicológicas que mentiu em depoimento dizendo que tentou salvar os filhos por orientação de um pastor amigo. O acusado, segundo conta Elise, não queria passar a imagem de covarde por não ter entrado no quarto, mesmo com as chamas e a fumaça.

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O conselho de sentença perguntou sobre fotos apresentadas pela defesa e usadas pela psicóloga forense para traçar um perfil afetivo das crianças com Georgeval, sobre quando as fotos em família foram tiradas. A psicóloga responde que não sabe afirmar o tempo correto.

Depois, o conselho de sentença faz outro questionamento: se é possível que uma pessoa cometa o crime de estupro, se arrependa e depois volte a uma vida de normal? A testemunha responde "sim, é possível".

Após a volta do intervalo, houve o depoimento de Georgeval antes de finalizar o primeiro dia do julgamento. 

Apesar de ter passado todo o dia em Linhares, Georgeval foi levado de volta para o presídio de Viana após o encerramento do júri. Ele saiu em uma viatura, escoltado por agentes da Polícia Penal.

Georgeval deve retornar a Linhares nesta quarta-feira. A expectativa é que a decisão dos jurados sobre a culpa ou inocência do réu seja anunciada neste segundo dia.

Com informações de Suellen Araújo e Mayra Bandeira, da TV Vitória/Record TV.


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