Como já era de se esperar – e foi antecipado pela coluna De Olho no Poder – a Assembleia aprovou, com ampla maioria, o parecer da Comissão Especial que revoga a prisão do deputado Capitão Assumção (PL), determinada pelo STF na semana passada. Foram 24 votos favoráveis e apenas quatro contrários.
Em cumprimento ao que rezam as constituições Federal e Estadual, o resultado será formalizado numa resolução a ser encaminhada, ainda nesta quarta-feira (06), para o STF. Agora, cabe ao ministro Alexandre de Moraes acatar o posicionamento da Ales – a possibilidade de não acatar seria o surgimento de um fato novo. Ainda não há previsão de quando essa análise deverá ocorrer.
Assumção pode ser solto ainda hoje (pouco provável), nos próximos dias ou, num caso muito difícil, nos próximos meses. Fato é que esse episódio – prisão de Assumção – não será ignorado na corrida eleitoral. Pelo contrário. A chance é grande de se reverter em votos.
A narrativa que já se criou e que está sendo difundida como verdade absoluta no eleitorado mais conservador, de posicionamento mais à direita, é que Assumção foi injustiçado, que sua prisão foi desnecessária, que ele é vítima de uma “perseguição implacável do Xandão” e que nada justificaria sua detenção no presídio militar.
Esse discurso foi visto na fala de parlamentares correligionários de Assumção, na boca de lideranças de movimentos de direita e na base do eleitorado do deputado que teve, na eleição passada, 98.669 votos e foi o segundo parlamentar mais votado da Assembleia.
Não há, nesse meio, espaço para uma discussão se ele cometeu ou não crime, se descumpriu ou não uma decisão judicial, se quebrou o decoro, se atentou contra a democracia, se provocou a própria prisão. Não.
A questão não é se Assumção é culpado ou inocente, mas sim da falta de espaço para uma análise fria dos fatos. Na verdade, há um clima quase que perfeito para que a narrativa defendida pelos aliados do capitão se fortaleça, com potencial de crescer à medida que se aproxima o processo eleitoral.
Assumção é pré-candidato a prefeito de Vitória. Já foi “lançado” pelo seu partido e, independentemente de estar preso ou não, tem garantida a legenda para disputar.
“Assunção é o plano A. Não há plano B. O pré-candidato do PL à Prefeitura de Vitória é o Capitão Assunção, independentemente de quaisquer circunstâncias”, disse o senador Magno Malta à coluna, por meio de nota, após a sessão da Ales.
Outubro à vista
Duas semanas antes de ser preso, Assumção começou a dar sinais de que já estaria em pré-campanha. Ele passou a atacar o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), o chamando de “moleque” e de outras coisas impublicáveis, da tribuna da Assembleia.
Acusou o gestor de estar fazendo jogo sujo contra ele, principalmente nas redes sociais – onde Assumção, em tese, não poderia rebater por conta das medidas cautelares impostas pelo STF que o proíbem de atuar nas plataformas digitais.
Assumção e Pazolini estão posicionados bem próximos no espectro político. Os dois são de direita – ainda que Assumção seja mais radical – e oriundos das forças policiais. São filiados a partidos conservadores, defendem muitas pautas em comum e acabam disputando o mesmo eleitorado.
É mais fácil, por exemplo, um eleitor de Assumção votar em Pazolini ou um eleitor de Pazolini votar em Assumção do que votar em outros políticos de centro e de esquerda que também estarão na disputa. E a mesma coisa com relação a apoio e alianças.
Mesmo com Assumção, nos últimos dias, mirando sua artilharia contra Pazolini, boa parte da base do prefeito na Câmara de Vitória saiu em defesa do capitão, com relação à prisão. Muitos vereadores fizeram discurso na Casa pedindo a liberdade do deputado.
Na Assembleia, com exceção dos deputados petistas João Coser e Iriny Lopes, da deputada Camila Valadão (Psol) e do deputado Tyago Hoffmann (PSB), todos os outros deputados e seus respectivos partidos representados votaram a favor da revogação da prisão – incluindo os deputados do Republicanos, mesmo partido de Pazolini.
Dos quatro que votaram contra, Coser, Tyago e Camila são pré-candidatos à Prefeitura de Vitória. Ou seja, além de serem opositores ideologicamente e nacionalmente do capitão – boa parte dos discursos de Assumção se resume a atacar o presidente Lula e o governador Renato Casagrande (PSB) –, ainda há o fator eleitoral local, que não dá para descartar.
No trato pessoal, praticamente todos os deputados têm uma boa relação com Assumção – que é chamado de cordial e gentil por muitos de seus pares. Porém, a votação na manhã desta quarta sobre a prisão do deputado foi também uma oportunidade para os pré-candidatos se posicionarem diante de seus respectivos eleitorados. Até porque, todos já estão com os olhos em outubro.
A leitura que se faz é que o episódio deve acirrar ainda mais a disputa pelos votos do eleitorado de direita, que tem um bom tamanho em Vitória. Em outras palavras, a rixa entre Pazolini e Assumção tende a aumentar.
Deixando a prisão, Assumção sai maior, com mais visibilidade e com uma militância aguerrida e insuflada como apoio. E Pazolini, que já tem no seu encalço os pré-candidatos de centro e de esquerda, poderá ter mais alguém com quem se preocupar. Fortes emoções são aguardadas para a disputa pela Prefeitura da Capital. A conferir.
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